Femipa promove campanha de conscientização para a doação de órgãos

A Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) está promovendo uma campanha de conscientização para a doação de órgãos em alusão ao Setembro Verde. Somente no Paraná, segundo o Sistema Estadual de Transplantes do Paraná, 2.459 pessoas aguardam por uma doação, e o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) destacou que o agravamento da pandemia pela Covid-19 em todo o país acentuou a queda na taxa de doações e transplantes.

Para o presidente da Femipa, Flaviano Feu Ventorim, uma das grandes barreiras para melhorar os números de transplantes ainda é a falta de conhecimento. “O assunto é um tabu, envolvido por crenças inverídicas. Por isso, precisamos falar cada vez mais sobre o tema, para que todos entendam que a doação de órgãos é fundamental para salvar vidas. Como a última decisão é da família, fazemos um apelo para que todos se declarem como doadores de órgãos e informem às pessoas próximas”, diz.

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Mas, apesar dessa barreira, o Paraná continua líder nacional no assunto, com 33 por milhão de população (pmp), enquanto a média brasileira é de 13,7 pmp. Os dados são do Registro Brasileiro de Transplantes, que analisou as notificações de janeiro a julho deste ano com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Vale destacar também que, do total de transplantes realizados, aproximadamente 70% foram feitos em hospitais beneficentes e santas casas de todas as regiões do Estado. Neste ano, foram 213 doações efetivas, que resultaram em 353 transplantes de órgãos e 365 transplantes de córneas. No mesmo período, infelizmente, foram notificados 746 possíveis doadores, mas 22% não foram efetivados por recusa familiar.

“Uma pessoa, sendo doadora, pode salvar até dez vidas. Cada um de nós possui cinco vezes mais chances de precisar de um órgão do que de efetivamente conseguir um doador. Então, um ato de amor ao próximo é, sem dúvidas, falarmos sobre doação e, principalmente, comunicarmos os familiares esse desejo”, afirma o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto.

Quem pode doar?

A resposta é simples: qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos. Existem algumas contraindicações para a doação, como Covid-19, Hepatites B e C, doenças sexualmente transmissíveis, algumas neoplasias e doenças autoimunes, entre outros. “Mas cada situação precisa ser avaliada. Se o doador tem Hepatite B e uma pessoa que precisa de um fígado também tem essa hepatite, existe uma possibilidade de receber o órgão. Depende de cada caso, todos são avaliados pela equipe do hospital com a equipe da Central Estadual de Transplantes”, explica Jaqueline Nascimento, enfermeira coordenadora da UTI e da CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) do Hospital São Vicente Curitiba.

Para ser doador, basta que o cidadão informe os parentes próximos, pois os órgãos só poderão ser doados com autorização deles. Há duas possibilidades: doador falecido ou doador vivo. No caso do falecido, são pacientes que tiveram o diagnóstico de morte encefálica (ME) ou que faleceram em decorrência de parada cardiorrespiratória (PCR), de acordo com informações do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná. Para atestar a morte encefálica, o procedimento é extremamente seguro, com análise de médicos especialistas em diversas áreas, além de exames complementares (imagem/gráficos) para comprovar que o encéfalo parou de funcionar. Já na segunda possibilidade, qualquer pessoa saudável pode doar em vida um dos seus rins ou parte do fígado para um familiar próximo (até 4ª grau consanguíneo). Quando essa doação for para uma pessoa não aparentada, é necessária autorização judicial.

Outro detalhe importante citado pela enfermeira do Hospital São Vicente é que somente poderão ser doados órgãos de paciente que faleceu durante internamento em uma UTI. “Uma pessoa que morre em casa, não sabemos a causa do falecimento, o horário em que faleceu e precisaria estar em ventilação mecânica e tomando medicamentos específicos”, aponta a enfermeira. “Geralmente, os pacientes têm uma evolução muito rápida para a falência dos órgãos depois que ocorre a morte encefálica”, complementa.

Por fim, ela cita que podem ser doados rins, coração, pulmão, pâncreas, fígado, intestino e tecidos (córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, cartilagem, medula óssea, sangue do cordão umbilical, veias e artérias).

Falta de conhecimento

Não saber se a pessoa falecida gostaria de ser doadora ou dúvidas sobre o procedimento costumam ser as principais causas para que não ocorra a doação de órgãos. “Buscamos sempre entender e explicar todas as dúvidas, pois muitas vezes é apenas falta de informações que as pessoas têm”, detalha Jaqueline Nascimento.

A coordenadora comenta que quando pessoas famosas falecem e seus órgãos são doados, aumentam as doações devido à conscientização que ocorre na mídia. “É preciso falar mais sobre doação de órgãos, entender como é o processo e procurar informações com fontes confiáveis para as pessoas entenderem a importância desse gesto”, afirma.

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Hospitais apoiam a campanha Setembro Verde

Diversos hospitais afiliados à Femipa estão realizando ações durante todo o mês de setembro para apoiar a campanha de conscientização sobre a doação de órgãos. No Hospital São Vicente, por exemplo, em celebração ao Dia Nacional da Doação de Órgãos, foram soltos 100 balões com a presença da equipe do Serviço de Transplantes e da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes.

Já na Irmandade Santa Casa de Londrina (ISCAL), a campanha pelo Setembro Verde trabalhou na conscientização dos mais de 2.500 colaboradores e médicos, além de pacientes e visitantes em ações internas. O slogan “Seja você também um autor dessa história” convida as pessoas a refletirem sobre o tema e escreverem, em um livro gigante, o que significa a doação para elas.

Outra instituição que trabalhou para levar informações para os diversos meios foi o Hospital Angelina Caron, que divulgou um artigo assinado pelo médico João Nicoluzzi, responsável pelo Serviço de Transplantes da entidade. “Infelizmente, apesar do crescimento no número de doações, a quantidade de negativas continua alta. Por isso, a conversa com a família é fundamental para reduzir a rejeição”, diz o artigo. Vale lembrar que o Hospital Angelina Caron (HAC) é líder em transplantes no Paraná.

Para abraçar a causa, a Femipa também está realizando uma campanha de conscientização e estímulo à doação de órgãos, com informações importantes que servirão para quebrar pré-conceitos sobre o assunto. O primeiro vídeo, divulgado no dia 27 de setembro, traz depoimentos de profissionais dos hospitais Evangélico Mackenzie, ISCAL e São Vicente sobre o tema. Acompanhe nas redes sociais.

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