Estudo aponta combinação que aumenta o risco de mortalidade em idosos

idosos mortalidade
(Foto: Ilustração/Pixabay)

Um estudo desenvolvido na UFSCar identificou que idosos com anemia combinada com fraqueza muscular possuem um maior risco de mortalidade nos próximos 10 anos. Apesar de os estudos demonstrarem que a anemia e a dinapenia são fatores independentemente associados ao maior risco de morte e que existe a possibilidade dessas condições ocorrerem simultaneamente, nenhum estudo, até o momento, havia investigado o efeito combinado dessas duas condições no risco de mortalidade de adultos mais velhos.

Leia também – Estudo avaliou impacto da pandemia na saúde mental de idosos

A pesquisa é desenvolvida pela doutoranda Mariane Marques Luiz, do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia (PPGFt) da UFSCar, sob a supervisão de Tiago da Silva Alexandre, docente do Departamento de Gerontologia da Universidade, e contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da University College London (UCL) do Reino Unido.

A diminuição de força muscular que ocorre ao longo do envelhecimento é conhecida por dinapenia e pode ser ainda mais prejudicada na presença da anemia. A anemia é uma condição caracterizada por baixos níveis de hemoglobina no sangue, sendo muito frequente em indivíduos idosos. Essa doença tem como uma das principais complicações a diminuição da oferta de oxigênio para os sistemas corporais, chamada de hipóxia crônica. “De acordo com alguns estudos, a hipóxia decorrente da anemia afeta também o sistema muscular, o que diminui ainda mais a capacidade dos músculos de gerar força, levando à fraqueza muscular”, explica Alexandre.

Além de investigar o efeito combinado de anemia e dinapenia para o risco de mortalidade, o estudo também teve como objetivo verificar se esse risco é diferente em homens e mulheres. Para conduzir a pesquisa, foram utilizados os dados do English Longitudinal Study of Ageing (Estudo ELSA), uma grande base de dados de idosos da Inglaterra. Assim, foram mensurados os níveis de hemoglobina no sangue para diagnosticar a anemia, e foram realizados testes de força de preensão manual para detectar a dinapenia em 4.768 indivíduos. Os participantes foram acompanhados por 10 anos e, durante esse período, foram computados os óbitos ocorridos.

De acordo com o docente da UFSCar e orientador da pesquisa, o efeito combinado da anemia com dinapenia aumentou em 64% o risco de mortalidade em 10 anos nos homens e em 117% nas mulheres. Além disso, isoladamente, a anemia em homens e a dinapenia em mulheres também foram fatores associados ao maior risco de morte.

Alexandre aponta que esses achados podem ser explicados pelas complicações advindas da hipóxia crônica característica da anemia, que favorecem o desenvolvimento de doenças, sobretudo as cardiovasculares, que são as principais causas de morte em idosos. “A hipóxia também pode levar à dinapenia, que está associada a repercussões funcionais negativas em idosos como a limitação de mobilidade e incapacidade. Tais desfechos são capazes de diminuir as reservas fisiológicas em indivíduos mais velhos e os tornar mais vulneráveis ao óbito. Assim, esses mecanismos são potencializados diante da coexistência da anemia e dinapenia, o que amplia sinergicamente o risco de óbitos”, avalia.

Os autores apontam que a associação entre anemia isolada e o risco de mortalidade em homens provavelmente é decorrente do processo de andropausa. Segundo Alexandre, “a testosterona tem um papel de controlar os níveis sanguíneos de hepicidina, que é capaz de regular a absorção de ferro no organismo. Dessa forma, a diminuição da testosterona desregula os níveis de hepidicina, o que compromete a absorção de ferro e consequentemente a maturação das células sanguíneas, favorecendo o processo de anemia”.

Para a associação entre a dinapenia isolada e o risco de mortalidade em mulheres, os autores explicam que a baixa força muscular é um importante fator de risco para desfechos funcionais como limitação da mobilidade e incapacidade. Dessa forma, as análises demonstraram que as mulheres com dinapenia tinham maior comprometimento funcional em comparação às mulheres sem anemia e sem dinapenia. De acordo com o docente da UFSCar, “o comprometimento funcional prejudica a capacidade do organismo de responder adequadamente a estressores internos e externos, o que torna o indivíduo mais vulnerável ao desenvolvimento de doenças e aumenta o risco de mortalidade”.

Os autores concluem que idosos com diagnóstico simultâneo de anemia e dinapenia possuem maior risco de morrer e, uma vez que essas condições são modificáveis, reforçam a necessidade da detecção e tratamento precoce da anemia e dinapenia para reduzir a sobrecarga gerada nos sistemas corporais e promover o envelhecimento saudável. “Os resultados encontrados para os idosos ingleses também são válidos para a população brasileira e deixam o alerta da importância de prevenir e tratar a anemia, e de realizar atividades físicas para manutenção e ganho de força muscular. Essas medidas, apesar de simples, são eficazes para manter a saúde e funcionalidade de idosos e diminuir o risco de mortalidade”, conclui Tiago Alexandre.

O estudo teve apoio da Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Um artigo (https://bit.ly/3bpJE2m) sobre o estudo foi publicado recentemente na Archives of Gerontology and Geriatrics.

*Informações Assessoria de Imprensa