A pandemia de Covid-19 causou uma série de consequências, atingindo a população em geral e exigindo muito dos profissionais de saúde e das estruturas de atendimento. O efeito da pandemia sobre os médicos se traduz por uma palavra: esgotamento. Uma pesquisa feita pelas associações Médica Brasileira (AMB) e Paulista de Medicina (APM) com médicos de todo o país, divulgada nesta quinta-feira (3), mostrou que esta se tornou uma realidade na categoria, em especial quem está na linha de frente de combate à Covid-19. Foram ouvidos 3.517 médicos que trabalham tanto em estabelecimentos particulares como em unidades públicas de saúde, entre os dias 21 e 31 de janeiro.
Mais metade dos médicos (51%) disse que estão esgotados ou apreensivos frente ao aumento do número de casos, decorrentes da disseminação da variante Ômicron – cujas subvariantes são mais infecciosas, segundo os especialistas. A maioria dos entrevistados disse haver, em seu ambiente de trabalho, profissionais com claros sintomas de estarem sobrecarregados (64%) e/ou estressados (62%); ansiosos (57%); próximos à exaustão física ou emocional (56%) ou com algum distúrbio relacionado ao sono, como dificuldades para dormir (39%).
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Entre os entrevistados, 45% responderam que faltam profissionais de saúde para atender aos pacientes com Covid-19 nas unidades onde trabalham. O resultado é superior aos 32,5% registrados em fevereiro do ano passado. Também houve quem se queixasse da falta de máscaras, luvas, aventais, medicamentos e até de leitos de internação em unidades regulares ou em unidades de terapia intensiva (UTIs). Mais da metade dos médicos (57%) se queixam de deficiências que dificultam o tratamento dispensado aos pacientes com Covid-19, colocando em risco a própria integridade dos entrevistados.
O avanço da nova onda da Covid-19 por todo o país pode ser constatado na própria pesquisa das entidades médicas e mostra mais um efeito da pandemia sobre os médicos: 87% dos entrevistados relataram que eles mesmos, ou colegas de trabalho próximos, receberam diagnóstico positivo para a doença nos últimos dois meses. Ainda assim, 81% deles dizem que a ocupação das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) ainda era menor que nos momentos mais críticos de 2021.
A ampla maioria (75%) dos entrevistados destacou como positiva a forma como vem sendo executado o Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação contra a Covid-19. Apesar disso, 72% dos médicos ouvidos disseram reprovar a atuação do Ministério da Saúde: 34,4% deles consideram que a gestão ministerial da crise é péssima; 16,6% a consideram ruim e 21%, regular. Todavia, há 18,9% de profissionais que a julgam boa e 6,3% que a avaliam como ótima. A avaliação da postura das secretarias estaduais de Saúde é um pouco melhor: no geral, 52,6% dos médicos entrevistados aprovam a gestão dos seus estados.
O levantamento ainda mostrou que 65% dos entrevistados disseram buscar referências para o tratamento de pacientes junto às associações e sociedades médicas; apenas 14,6% responderam consultar os documentos produzidos pelo Ministério da Saúde.
Entre os médicos entrevistados, 81% disseram que a maioria dos pacientes atendidos nas unidades em que trabalham já tomou ao menos duas doses dos imunizantes. Apenas 0,2% dos 3.072 profissionais que responderam a esta pergunta afirmaram ter contato com pessoas que se negam a ser vacinados.
Além disso, 71% disseram acreditar que a maioria dos pais ou responsáveis levará as crianças sob sua responsabilidade para tomar a vacina. Contra 12% que acreditam que os adultos não farão isso por diversas razões – quase o mesmo percentual (13,7%) de entrevistados que disseram não crer que a divulgação de fake news e/ou de informações sem comprovação científica afete o enfrentamento à pandemia.
A pesquisa mostra ainda que sete em cada dez médicos, ou quase 71% dos entrevistados, confirmaram que tem atendido pacientes com sequelas pós-covid, tais como dor de cabeça incessante, fadiga ou dores no corpo (50%); perda do olfato ou do paladar (39%); problemas cardíacos e trombose (23%), entre outras. Além disso, metade dos profissionais disse conhecer quem deixou de buscar atendimento para outras doenças devido ao medo de serem infectados pelo novo coronavírus e, com isso, tiveram seus quadros clínicos agravados. Especialmente pacientes com câncer, diabetes, doenças cardíacas e hipertensão.
* Com informações da Agência Brasil