De repente, o mundo fica em preto e branco. Além do colorido, a energia se esvai. Não há qualquer brilho. A depressão pode chegar de supetão ou sorrateiramente, sem que a gente se dê conta. E parece que a vida é mesmo assim. Misturada ao quadro geral de uma sociedade em crise (violência, dificuldades financeiras, individualismo exacerbado), quem vai se dar conta de que seu mau humor e pessimismo constantes (ou do colega ao lado) podem ser sintomas comuns de uma doença?
Entretanto, esta situação é frequente. Embora, desde o século IV a. C., Hipócrates já a descreva com o nome de melancolia, de acordo com pesquisas, acredita-se que apenas cerca de 50% das pessoas que sofram de depressão recebam tratamento.
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Problemas afetivos e econômicos
Segundo o psiquiatra Luiz Alberto Nunes, um estudo com 256 mortes por suicídio (isso em fins de 1990 e começo dos anos 2000) relatava que 63% foram vistos por clínicos gerais um mês antes de sua morte, mas poucos receberam ajuda por depressão. Apesar de a depressão ser considerada a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribuir de forma importante para a carga global de doenças (OPAS/Brasil).
Dados de 2018 aduz mais de 300 milhões, ou seja cerca de 5% da população com problemas de depressão. E 50% dos pacientes estão na faixa dos 20 aos 50 anos, o que provoca inúmeros sofrimentos não só aos portadores deste transtorno afetivo, mas também aos seus familiares e à sociedade em geral.
Os problemas não são apenas de ordem afetiva, mas também econômica, já que trata de idade ainda produtiva, provocando afastamento no trabalho e rebaixamento na renda familiar, além de custos, inclusive nas empresas e nos setores de saúde. Ainda segundo as estatísticas, as mulheres são duas vezes mais suscetíveis a uma das manifestações mais comuns da depressão do que os homens.
Entretanto, o que vem a ser essa angústia que muitos creem apenas pós-moderna, que todos falam, mas nem todos sabem direito do que se trata? A verdade é que ainda paira sobre o assunto muito de puro preconceito.
Depressão é um distúrbio de neurotransmissores químicos, dificultando as trocas de informações cerebrais. As causas são multifatoriais. Elas podem ser genéticas e/ou psicossociais.
Múltiplas causas para a depressão
Nos casos genéticos, isto significa que pessoas em cujo histórico familiar conste casos de depressão, a predisposição à doença é maior. “Nesses indivíduos, há um defeito em um gene provocando a diminuição nos neurotransmissores químicos cerebrais (noradrenalina e serotonina)”, explica o médico.
Porém, a depressão também pode ser provocada por situações como estresse prolongado, competição, perdas, luto, uso de álcool e outras drogas, esgotamento físico ou nervoso (os workaholics, por exemplo), transtornos físicos (hipotireoidismo, lúpus e diabetes), entre outros.
A doença se manifesta de várias formas: fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo, síndrome do pânico, depressão ansiosa e depressão inibida. Além disso, ela também varia de grau, podendo ser leve, moderada ou grave. Para um episódio ser considerado depressivo, é necessário que dure mais de duas semanas.
Segundo o médico Luiz Nunes, a depressão pode ser ainda unipolar ou bipolar. A primeira é quando apresenta apenas episódios depressivos. Já a bipolar, “é quando apresenta episódios depressivos e/ou maníacos, que se caracterizam por humor exaltado, expansivo ou irritável, pressão por falar, fuga de ideias, sono diminuído, autoestima elevada, ideias de grandeza, envolvimento excessivo em atividades prazerosas e hiperatividade”, explica.
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Tratamento
O tratamento consiste em atuar em duas áreas: psicoterapia e medicamentos. “De 1950 para cá, a utilização de medicamentos tem sido bem eficaz. Embora exista um mito de que essas drogas possam provocar dependência ou prejudicar, os antidepressivos bem administrados pelo médico são fundamentais no processo”, revela.
O tempo de uso dos medicamentos varia de acordo com cada paciente e o desenvolvimento da enfermidade. “Entretanto, o mais importante é que as pessoas deixem de encarar a depressão com o estigma que até hoje ela carrega, a de uma espécie de loucura ou, no mínimo, a de uma bobagem. Não tem nada a ver, ela é uma doença como outra qualquer. E requer cuidados”, alerta.
Observe as diferenças
Distimia – é uma forma de depressão leve e crônica. A pessoa costuma ser irritada e mal-humorada frequentemente.
Tristeza – é um estado passageiro de ânimo negativo, decorrente de uma causa ambiental estressante.
Mau humor – estado de ânimo passageiro comum em qualquer pessoa, mas costuma ser frequente na depressão, na distimia ou mesmo na tristeza.
Depressão – doença caracterizada por estado de humor rebaixado de duração de pelo menos duas ou mais semanas, no qual estão presentes a tristeza, o mau humor e outros sintomas, tais como distúrbios de apetite (aumento ou perda significativas), de sono e distúrbios corporais (dores, tonturas, falta de ar, etc.). Além disso, também estão presentes a irritabilidade, a agressividade e ideias negativas, chegando a pensamentos suicidas.
Estado depressivo – funciona como uma espécie de balanço da vida. É um momento de estar em contato com nossas fraquezas, nossa fragilidade. São nossos momentos de baixa autoestima. A avaliação para diferenciá-lo da depressão (doença) dever ser criteriosa e, na maioria dos casos, só pode ser feita por um profissional de saúde.
Sinais de advertência
- Insegurança, menos confiança em si mesmo, mais dependência dos outros
- Menos capacidade de concentração
- Maior indecisão
- Menos iniciativa
- Mais dificuldade para fazer as coisas
- Falta de prazer, seja em casa ou no trabalho
- Maior autocrítica
- Cansaço e preguiça em demasia
- Menos energia
- As sensações são menos intensas
- Quer distância das pessoas
- Desinteresse sexual
- Acha que a vida perdeu o sentido
- Tem pensamentos suicidas
- Sente um vazio interior
- Sente-se amargo, pessimista ou culpado
- Não liga para a aparência
- Não se sente atraente
- Dorme mal
- Engorda ou emagrece
- Está bebendo demais
- Está mais irritado
- Sente-se irreal, como se houvesse uma distância maior entre você e o resto do mundo.
Fonte: Superando a depressão – um guia prático de autoajuda, dr. Richard Gillet, Associação Britânica de Medicina Holística, ed. Nova Cultural.
Obs.: matéria inicialmente publicada em Viver Bem – Jornal de Londrina, 17/02/2002 – atualizada e com adaptações
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