As sequelas da Covid-19 continuam preocupando médicos e outros profissionais da saúde. Em muitas oportunidades, quem vence a doença também precisa de um acompanhamento por vários meses. E isso não atinge apenas aqueles que precisaram de internação, mas também quem desenvolveu a infecção de forma leve ou moderada. Mas como conviver com as sequelas da Covid-19?
Daniel Bruno Takizawa, médico pneumologista do Pilar Hospital, em Curitiba (PR), aponta que os sintomas pós-covid mais frequentes são cansaço, fadiga muscular, falta de ar, tosse persistente, dor de cabeça, ansiedade e depressão. “A capacidade pulmonar pode ficar reduzida em casos graves, assim como a força da musculatura torácica, que auxilia na inspiração e expiração do ar. Quando comprometidas, podem levar a cansaço e falta de ar”, explica. De acordo com ele, a grande maioria dos pacientes não apresenta sequelas pulmonares em longo prazo. “Porém, estudos recentes mostram que em alguns casos as sequelas podem persistir por mais de um ano”.
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Esse relato de falta de ar e cansaço por um período após a alta hospitalar ou o tempo da infecção é bastante comum, mas não o único. São apenas algumas das 203 possíveis sequelas da Covid-19 associadas a dez sistemas do corpo humano que podem permanecer por muitos meses em pessoas curadas. Estes números são de um estudo chamado “Covid Longa”, publicado pela revista EClininalMedicine, da The Lancet. Conforme o levantamento, 96% das pessoas monitoradas que foram infectadas pelo coronavírus relataram sintomas que persistiram por mais de três meses; 65% tiveram sintomas que duraram por pelo menos seis meses; e 233 pacientes dos 3763 monitorados recuperaram-se completamente das sequelas.
Não é possível determinar previamente como cada paciente vai reagir ou como conviver com as sequelas da Covid-19. Os sintomas variam de pessoa para pessoa, de acordo com Maicon Primo, clínico geral e responsável clínico da Click Lifee, plataforma de telemedicina. “Temos uma procura muito elevada de pacientes curados da Covid-19 que relatam o aparecimento ou a permanência de sintomas como perda de memória, dificuldade de concentração, palpitações cardíacas e cansaço”, afirma.
As sequelas da Covid-19 podem atrapalhar o desempenho do paciente recuperado tanto em tarefas simples, do dia a dia, como no desempenho de suas funções laborais. “Algumas pessoas podem perder a qualidade no desempenho de algumas tarefas por conta da fadiga, dificuldade de concentração e perda de memória recente. É provável que milhões de pessoas curadas da doença tenham sequelas e sequer saibam disso”, alerta. Porém, é possível tratar as sequelas para melhorar a qualidade de vida e a saúde. “Buscar ajuda médica é fundamental, pois as sequelas são muitas e em alguns casos, o paciente precisa de um acompanhamento médico mais rigoroso, que pode requerer até uma nova internação para não agravar um quadro cardíaco ou de trombose, por exemplo”, explica Primo.
Como conviver com as sequelas da Covid-19? A necessidade do acompanhamento
Diferentes especialistas estão envolvidos na reabilitação de pacientes na fase pós-Covid-19. Para os casos de sequelas pulmonares, toda a atenção é pouco. O médico Daniel Bruno Takizawa, do Pilar Hospital, alerta também sobre a possível incidência de fibrose pulmonar, doença crônica que forma cicatrizes no pulmão, fazendo com que o tecido pulmonar perca sua elasticidade, o que compromete a respiração e o fluxo de oxigênio para o corpo. “A fibrose pulmonar realmente pode acontecer, porém, em casos mais raros principalmente naqueles que necessitaram de cuidados de UTI”, conta.
Pacientes que foram internados e passaram pelo invasivo processo de intubação, com uso de ventilação mecânica, podem apresentar complicações após a extubação, como fraqueza muscular generalizada, distúrbios de deglutição e, em casos mais raros, estenose da traqueia, que vem a ser um estreitamento traqueal, dificultando a passagem de ar aos pulmões, e em casos mais graves, gerar falta de ar de forma intensa.
O desafio do trabalho de reabilitação pós-covid é restabelecer o bom funcionamento do aparelho respiratório e o bem-estar da pessoa. “A reabilitação é tanto respiratória quanto motora, para recuperar a força muscular perdida durante a doença. O tempo varia de acordo com o paciente. Normalmente são necessárias, no mínimo, 10 sessões de fisioterapia”, esclarece.
O tratamento pós-covid tem suporte de uma equipe multiprofissional, que além de médicos pneumologistas, conta também com profissionais das áreas de fisioterapia, nutrição e psicologia. “A reabilitação começa durante a internação, com a fisioterapia realizando um grande trabalho, tanto da parte respiratória quanto da parte motora. É de grande importância o seguimento logo após a alta do paciente”, enfatiza.
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