No mundo, o câncer de pulmão é o primeiro em incidência e mortalidade desde 1985. No Brasil é o segundo mais comum em homens e mulheres – ficando atrás, respectivamente, de próstata e mama, sem contar o câncer de pele não melanoma. Essa alta incidência e mortalidade vai na contramão da conscientização – o oncologista Gustavo Schvartsman, do Hospital Israelita Albert Einstein e do Comitê Científico do IVOC, chama atenção para esse fator.
“Os cânceres de mama e próstata acabaram tendo uma grande penetração na mídia com as campanhas, mas o câncer de pulmão é mais letal tanto em números relativos quanto absolutos. Cerca de 50% dos pacientes acabam falecendo da doença, especialmente porque comumente é diagnosticada em fases mais avançadas. Mesmo o câncer diagnosticado em estágio precoce tem uma chance razoável de recidivar”, afirma.
Câncer de pulmão: motivo e incidência
Um dos objetivos da conscientização é diminuir a incidência, já que 90% dos tumores desse tipo são relacionados ao tabagismo. Outro fator de risco importante, destaca o médico, é a poluição do ar nas grandes metrópoles. Ele comenta ainda outras exposições relevantes para esse tipo câncer, como a poeira de sílica e asbesto, que afeta principalmente trabalhadores de construção, e o gás radônio, que é detectado em locais que são construídos sobre reserva de urânio. “O Brasil tem a quinta maior reserva de urânio do mundo; há cidades como, por exemplo, Poços de Caldas, que têm uma incidência muito grande. Estamos prestando um pouquinho mais de atenção a isso como fator de risco”.
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Campanha de conscientização
Considerando a importância da medicina de precisão, o Instituto Vencer o Câncer lança a Campanha ‘Câncer de pulmão tem nome e sobrenome’, que tem como objetivo conscientizar o paciente sobre a importância de saber exatamente o tipo e subtipo do seu tumor para definir o melhor tratamento.
Rastreamento para tabagistas
Os tabagistas formam a população de maior risco para desenvolver câncer de pulmão, sendo considerado de alto risco quem fuma um maço de cigarro por dia por 30 anos. Schvartsman diz que pacientes entre 50 e 80 anos com essa alta carga tabágica devem fazer rastreamento, para descobrir a doença antes que surjam sintomas, com tomografia de tórax de baixa dose realizada anualmente. Segundo o oncologista, essa medida pode baixar a mortalidade pelo tumor em 20%, se implementada populacionalmente.
O perigo do radônio
Esse tema, explica o médico, é muito mais bem trabalhado nos países de primeiro mundo, como nos Estados Unidos, onde é possível encontrar medidor de radônio nos supermercados. “As pessoas são aconselhadas a verificar os níveis de radônio nas suas casas para saber que cuidados precisam tomar. O principal meio de contornar isso é ventilar bem a casa – aqui o gás vem pelas tubulações, pelas frestas das casas e, se não forem bem ventiladas, pode fazer com que a pessoa se exponha a maior parte do tempo. Esse problema é amplamente desconhecido no Brasil e precisamos começar a conscientizar a população de que isso é algo relevante”.
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O risco da poluição do ar
Schvartsman informa que a estimativa é de que em cidades com bastante trânsito, muito automóvel, ônibus a diesel, grande uso de combustíveis fósseis, até 10% dos casos de câncer de pulmão podem ser relacionados a esse fator. Ele explica as correlações: “Morar em São Paulo, por exemplo, já implica em um risco equivalente a três ou quatro cigarros por dia, não em comparação direta, mas na medida em que essa quantidade de cigarro eleva o risco de desenvolver o tumor. É um risco baixo, mas já maior do que na população em geral. Para quem usa transporte público, cerca de duas horas por dia, exposto diariamente à fumaça, o risco pode chegar até 10 cigarros por dia na equivalência com o tabagismo”.
Tratamento: tumor do tabagista é diferente
O oncologista explica que há dois tipos de câncer de pulmão: do tabagista e do não tabagista. “O tabagista normalmente tem sintomas crônicos, como pigarro, tosse, às vezes cansaço, não dá muita importância e só vai perceber quando a tosse fica mais forte, sai sangue no catarro, tem dor torácica, sintomas que podem indicar uma doença avançada, às vezes até com metástase – cerca de metade dos casos é diagnosticada com metástase”.
As informações sobre prevenção, tratamento e diagnóstico do câncer de pulmão está disponíveis clicando aqui.
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