O Fundo das Nações Unidas (Unicef) realizou um estudo qualitativo em cinco capitais brasileiras, incluindo Curitiba, para analisar os fatores econômicos, sociais, culturais e da política de saúde que têm provocado a constante redução das coberturas vacinais de rotina em crianças menores de cinco anos no país. O resultado do estudo, divulgado na semana passada, mostrou que ainda falta informação clara, precisa e constante sobre o tema nos veículos de comunicação, notadamente a televisão, e que as fake news disseminadas pelas redes sociais e grupos de WhatsApp atrapalham nesses esclarecimentos.
De acordo com o estudo, os cinco principais fatores relacionados à decisão dos pais de vacinar ou não os seus filhos são: a obrigatoriedade de apresentação da Caderneta da Criança (vacinação) para matrícula escolar e de manter a vacinação em dia para receber benefícios de programas sociais do governo; a percepção individual dos pais e/ou responsáveis sobre a importância da vacina; o receio dos efeitos adversos da vacina; a disponibilidade das vacinas no Sistema Único de Saúde (SUS); e a disponibilidade dos pais e/ou responsáveis para levar as crianças para vacinar nos horários de funcionamento dos postos.
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Pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência em agosto passado revelou que 90% dos brasileiros consideram a vacina importante para a prevenção de doenças. Mesmo assim, a cobertura vacinal de crianças vem caindo ano a ano. Dados ainda não consolidados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) revelam que neste ano as vacinas oferecidas para crianças com até um ano de idade, como a febre amarela, hepatite B – para bebês de até 30 dias – e a segunda dose da tríplice viral registraram índices de 50,11%, 54,27% e 55,7%, respectivamente. A meta mínima é de 90% a 95%, dependendo da vacina.
Segundo o estudo do Unicef, há uma percepção entre os pais e responsáveis de que várias doenças imunopreveníveis já não constituem ameaça para a saúde das crianças. Isso, associado ao receio dos efeitos adversos das vacinas, faz com que muitas delas não sejam vacinadas. “Isso evidencia a falta de informação de parte da população, especialmente dos jovens adultos que hoje são pais e cresceram sem essas doenças porque foram vacinados. Outro aspecto importante é que com a pandemia muitas pessoas ficaram com medo de sair para receber a vacina, no entanto outras infecções graves continuam a circular e muitas destas doenças podem ser evitadas com a vacinação. Assim, é importante manter a vacinação em dia, tomando os cuidados para realizar a imunização de forma segura”, destaca a pediatra Stela Erika Kudo, assessora científica da Unimed Laboratório.
Nas cinco capitais brasileiras, os participantes do estudo citaram a televisão como o principal canal de propagação de informações sobre a vacinação, mas que o tema é abordado pontualmente, durante as campanhas de vacinação, e de forma superficial, sem detalhamento dos benefícios e esclarecimentos completos sobre reações.
“Os veículos de comunicação de massa precisam dar mais espaço para esse tema em seus programas e telejornais. É preciso mostrar constantemente que as doenças existem, sim, e podem ser prevenidas com vacinação. É preciso também esclarecer de forma mais completa que as vacinas são bastante seguras, as reações são na grande maioria leves, quando existem. Já as doenças, estas sim, podem trazer graves consequências, não só ao paciente mas também para toda a comunidade. Só com informação vamos conseguir reverter o atual quadro de cobertura vacinal no Brasil”, analisa a médica.
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