A retomada das atividades econômicas, tendo o seu “expoente” com o retorno do atendimento nos centros comerciais e shoppings centers, mostra uma adaptação em relação à pandemia de Covid-19. Mas a situação não para por aí. Tudo depende dos números e novas determinações de isolamento social não estão descartadas.
O isolamento social, recomendado por uma série de especialistas, foi a alternativa para evitar a transmissão do novo coronavírus na população e, assim, um número grande de doentes em um curto período de tempo, impedindo um colapso do sistema de saúde. Com isto, os funcionários foram dispensados e passaram a trabalhar em casa, por exemplo. Ou as empresas estabeleceram escalas em atividades consideradas essenciais.
Com o passar dos dias, houve questionamentos em cima do isolamento social, inclusive sobre os impactos dele na economia. Isto aconteceu tanto por parte da população quanto por parte de empresários. Autoridades de saúde argumentaram que a retomada econômica aconteceria com base nos números de casos confirmados e mortes por Covid-19.
No Paraná, após praticamente dois meses de fechamento, os shoppings retomaram suas atividades em maio. O comércio e a indústria já haviam se readaptado ao momento, ainda com escalas para os trabalhadores e com um atendimento diferenciado ao público. As normas foram publicadas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e incluem o distanciamento social, número de clientes em determinado espaço, oferta de álcool em gel, obrigatoriedade do uso de máscaras, entre outras medidas.
A “reabertura” foi possível porque os números do Paraná e de Curitiba eram satisfatórios. As secretarias municipal e estadual de saúde anunciaram, ainda em maio, que registravam as menores taxas de crescimento da Covid-19 no país. O ritmo não era como o detectado em outras regiões brasileiras, que até mesmo determinaram o bloqueio total de atividades e circulação de pessoas, o chamado “lockdown”.
Em entrevista ao Saúde Debate, o médico infectologista Jaime Rocha, diretor da Unimed Curitiba e vice-presidente da Associação Paranaense de Infectologia, destacou que o Paraná vivia, nos 10 primeiros dias de maio, um momento bom. “Isso certamente se deve ao resultado de diversas medidas e principalmente a compreensão e adesão da população. Neste caso, a retomada de algumas atividades pode ser estudada e implementada de forma lenta e gradual. Entretanto, há necessidade de manter vigilância constante e talvez voltar a fechar de forma mais severa as cidades se os resultados não forem favoráveis”, pondera.
Médico infectologista Jaime Rocha (Foto: Reprodução)
Quando a Sesa divulgou as recomendações para centros comerciais e shoppings para a retomada das atividades – assim como para os templos e espaços religiosos -, no dia 22 de maio, salientou que o protocolo poderia ser revisto a qualquer momento.
A secretária municipal da Saúde, Márcia Huçulak, em entrevista à imprensa no dia 25 de maio, disse que “toda movimentação da população dá um frio na nossa barriga”. “A gente entende a necessidade de as pessoas começarem a ter suas vidas, especialmente quem depende desse ganho, do comércio. Mas há uma grande preocupação porque isso movimenta mais pessoas, movimenta o transporte. Esse movimento pode ter consequências. Temos trabalhado desde o início da pandemia com orientações e contamos com a colaboração dos lojistas e também da população que vai aos shoppings para que não se esqueçam das medidas, como distanciamento, uso das máscaras e lavagem constante das mãos”, disse. Outra recomendação reforçada por ela é para que pessoas com quadro gripal não saiam de casa.
De acordo com ela, toda situação está sendo acompanhada e, se for detectada alguma alteração, como um aumento no número de casos, a secretaria pode tomar medidas mais drásticas, como solicitar novamente o fechamento de alguns segmentos.
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p class=”ql-align-center”>Márcia Huçulak, secretária municipal de Saúde de Curitiba (Foto: SMCS)
Antes mesmo do anúncio da retomada da atividade dos shoppings, a própria Sesa fez um alerta sobre o crescimento no ritmo das confirmações de Covid-19 no Paraná. Na semana de 18 a 24 de maio, foram 928 casos confirmados, o que representou um aumento de 106% na comparação com a semana anterior.
O médico infectologista Jaime Rocha lembra que a busca de parte da população pela retomada da “vida normal” acontece em uma base muito frágil. Quando questionado sobre os questionamentos das medidas de isolamento social e como decisões judiciais podem impactar nesse cenário, o especialista respondeu: “a questão cultural, econômica e de liberdade deve ser ponderada antes de responder questões jurídicas, que não me pertencem. Dito isso, ainda resta a máxima que o direito de todos sobrepõem o direito individual. O bem coletivo é o mais importante. A adesão ao isolamento ocorre naturalmente quando surge o medo. A falsa sensação de segurança leva as pessoas a priorizarem a retomada da ‘vida normal'”.
Diariamente, tanto a Sesa quanto a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba divulgam os números de casos confirmados, de mortes e de pacientes recuperados, além de leitos ocupados. Isto será determinante para o anúncio de novas medidas de isolamento social.
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