Algumas regiões brasileiras apresentaram aumento de casos de Covid-19 nas últimas semanas. A retomada no índice de transmissão do novo coronavírus acontece após um período de um mês a um mês e meio com uma menor quantidade de confirmações, o que levou autoridades públicas a flexibilizar ainda mais as medidas de isolamento e distanciamento social e a população a relaxar na prevenção diária.
Esse aumento de casos de Covid-19 nas últimas semanas foi verificado, por exemplo, em Curitiba e no Paraná. Na primeira quinzena de outubro, houve oportunidades em que a Secretaria Municipal de Saúde informou menos de 250 casos por dia na capital paranaense. Aos poucos, os diagnósticos foram aumentando até superar a casa de 700 por dia, atingindo patamares verificados em julho, quando a cidade estava em uma situação crítica da pandemia e também na chamada bandeira laranja. Na ocasião, existia restrição de atividades econômicas na tentativa de restringir a circulação de pessoas e, assim, frear a transmissão do novo coronavírus.
Apesar do aumento de casos de Covid-19 nas últimas semanas, ou seja, a partir da segunda quinzena de outubro, Curitiba está na bandeira amarela, de alerta em relação aos riscos de transmissão.
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O professor do Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), José Rocha Faria Neto – que coordena um estudo a partir de dados da pandemia -, acredita que este crescimento no número de casos está relacionado diretamente com o relaxamento da própria população em relação à prevenção, em especial às orientações de distanciamento social. “Não existe outra razão plausível. Andando pelas ruas de Curitiba fica fácil entender isso: o número de pessoas circulando sem máscara é maior”, afirma.
De acordo com ele, outro problema neste momento é a aglomeração de pessoas, algo que desde o início da pandemia as autoridades sanitárias e especialistas orientaram a evitar. “Os piores lugares a serem frequentados são aqueles cheios, fechados, sem ventilação adequada. Você passa por muitos bares e restaurantes que não têm arejamento suficiente para o número de pessoas ali dentro”, aponta.
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p class=”ql-align-center”>Professor José Rocha Faria Neto (Foto: Reprodução)
O professor conta que esse aumento de casos novos também pode ser influenciado por um maior número de testes realizados agora em relação ao início da pandemia, quando a orientação era procurar o serviço de saúde somente quando houvesse sintomas graves. “Agora, é diferente: ao menor sintoma, já procure o serviço de saúde e faça o teste”, pondera. Além disso, há uma maior oferta de serviços – como os testes rápidos em farmácias e drive-thru em hospitais -, com a possibilidade de a pessoa com suspeita procurar o exame.
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No entanto, os dados mostram uma realidade de 10 dias atrás. As confirmações acontecem a partir de diagnósticos por meio de exames. Normalmente, eles são feitos por pessoas que apresentam sintomas. E isso acontece depois de um período de incubação do vírus, de três a cinco dias. Sem contar o tempo de divulgação do resultado do teste. Por isso, a situação de momento pode ser ainda mais grave.
“Não é só isso (aumento na testagem, que influencia nos dados), obviamente, pois temos informações de hospitais privados, onde o número de pacientes internados aumentou bastante nos últimos dias. Há sim mais casos. A situação é realmente preocupante e deve ser olhada com cuidado. A responsabilidade maior agora é da população. Ninguém quer ser tutorado pelo Estado o tempo todo, dizendo o que tem que fazer ou não. Mas, para isso, para levar uma vida perto do normal, as pessoas precisam colocar na cabeça que a epidemia não acabou, está longe de acabar e só vai acabar quando tivermos vacina. E estamos falando no mínimo o fim do primeiro trimestre do próximo anoAMP”, declara Faria Neto.
Apesar deste cenário, o professor lembra que ele pode ser revertido, com redução de casos novos, se a população voltar a adotar medidas de prevenção e distanciamento social.
Segunda onda de Covid-19?
Para o professor da PUCPR, o aumento de casos de Covid-19 nas últimas semanas não deve ser encarado como uma “segunda onda” da pandemia de Covid-19. Faria Neto explica que o comportamento no Brasil está mais parecido com o dos Estados Unidos, com uma variação da média móvel dos casos, mas sem uma redução efetiva no registro de casos novos da doença, como aconteceu em vários países da Europa.
“Resisto em chamar de segunda onda, não tendo visto o fim da primeira onda. Nos países europeus é muito claro a segunda onda, porque ficaram 10, 15, 20 semanas com número de novos casos diários muito baixo, e não foi o que aconteceu aqui. O nosso cenário hoje em Curitiba e Paraná lembra o cenário de vários estados americanos, e até mesmo dos Estados Unidos em geral: sobe, cai, volta a piorar. A curva do estado da Flórida é exatamente o que estamos vendo por aqui. Lá associaram ao comportamento da população e eu não vejo diferença para o que está acontecendo por aqui”, opina.
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