O Brasil tem diferentes realidades quando se trata de Covid-19. Mas, de maneira geral, os dados brasileiros estão estabilizados nas últimas semanasAMP, apesar de considerados altos. Agora, com essa nova fase da pandemia e acompanhando o desenvolvimento da doença na Europa após a flexibilização, existe um questionamento – e uma preocupação – se o Brasil terá uma segunda onda de Covid-19.
Para o médico infectologista e epidemiologista Bruno Scarpellini, do Rio de Janeiro, algumas regiões brasileiras conseguiram atingir uma taxa de transmissibilidade do coronavírus abaixo de um, indicando essa estabilização. Ao mesmo tempo, outras partes do país voltaram a ter aumento no número de casos.
“Isso poderia sugerir até uma segunda onda de Covid-19 no Brasil, mas não poderíamos falar disso agora. Toda pandemia tem essa característica de mais de uma onda de infecção. É difícil em falar em segunda onda porque nunca baixamos essa curva. Isso fica muito evidente quando olhamos o gráfico do Brasil e mostra um platô”, opina.
Apesar da estabilização, ela não pode ser considerada uma situação totalmente positiva, de acordo com o especialista. “Revela a nossa incapacidade de lidar com a situação porque não fizemos o dever de casa, que era testagem em massa, isolar os contactantes e fazer o processo de flexibilização quando a taxa de transmissão (R0) estivesse menos de um”, comenta Scarpellini, lembrando que a abertura aconteceu, em vários locais, em um momento inadequado da pandemia, quando a transmissão ainda estava acima do índice considerado ideal.
De acordo com o epidemiologista, um dado importante a ser observado nesse momento é a estabilização também no número mortes por Covid-19, mesmo nas regiões onde há crescimento nos diagnósticos positivos. Ele explica que isso pode estar relacionado a uma série de motivos. “Podemos ter uma nova cepa viral, que pode ser menos virulenta, ou faz parte da curva de aprendizado mesmo. A população já entendeu quando é grave ou não, quando precisa ir na emergência. Os médicos também sabem melhor sobre o tratamento. Isso tudo influencia sobre isso”, analisa.
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p class=”ql-align-center”>Bruno Scarpellini (Foto: Reprodução)
Europa
Vários países europeus estão preocupados com o aumento no número de diagnósticos positivos de Covid-19, após reabertura das atividades e de fronteiras durante o verão no hemisfério norte. Alguns deles, como a França, Inglaterra e a Espanha, já voltaram a adotar medidas mais restritivas na tentativa de conter o avanço do coronavírus e a palavra lockdown retornou ao noticiário.
A possibilidade de uma segunda onda de Covid-19 na Europa parece próxima e, por isso, também se levantou essa questão em relação ao Brasil. No entanto, segundo Scarpellini, as realidades entre Europa e Brasil são diferentes e não permitem comparação. Ainda mais porque nos países europeus houve uma queda efetiva da curva de casos, mortes e transmissão.
“A Europa reabriu em outro momento. Mesmo locais onde o R0 estava abaixo de 0,5 voltaram a ter casos positivos. Estamos vendo a mesma característica de continuidade que já era previsto. Mas é preciso fazer a comparação certa. A Europa tomou medidas mais drásticas do que o Brasil, porque estávamos em situações e momentos diferentes na pandemia, e mesmo assim teve retorno de casos por lá. Isso serve de lição para o Brasil como um todo no seguinte sentido: o que não fizemos antes que devemos fazer agora?”, sinaliza.
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Brasil
Se não é possível falar nesse momento que o Brasil terá uma segunda onda de Covid-19, como então será possível diminuir os números para sair desse platô alto? Bruno Scarpellini reforça que as medidas de prevenção devem continuar sendo adotadas pela população. A flexibilização no país fez com que parte dos brasileiros voltassem a encontrar amigos e família, participar de encontros e estar em aglomerações em bares e restaurantes.
O comportamento faz total diferença no combate à pandemia. Por isso, não é hora de baixar a guarda nos cuidados pessoais. “As pessoas criaram mito de que as chances de contaminação seriam maiores no elevador e nas compras do que por via gotículas respiratórias. Houve falha educacional das pessoas. Por diferentes motivos, não usam máscaras ou usam de forma inadequada. As pessoas não querem abrir mão de nenhum pedaço em prol do todo. É prazeroso fazer atividade física com a máscara? Não. Mas é o que temos para hoje. É preciso lembrar que não teremos a nossa vida anterior tão cedo”, declara.
O especialista ainda salienta que a diminuição do número de casos por meio da chamada imunidade de rebanho, quando uma parcela significativa da população estaria imunizada ao coronavírus, também não seria a melhor estratégia. “O grande problema é a gente atingir a imunidade de rebanho, mas pagando um preço muito caro, que é alto número mortes. Um dos poucos estados que conseguiu isso foi o Amazonas, mas pagou um preço muito caro. Qual é a vantagem disso?”, questiona.
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