A desconfiança no sistema de saúde pode ficar aparente na ponta final do processo, ou seja, na satisfação – ou não – dos usuários dos planos de saúde ou do Sistema Único de Saúde. Mas especialistas demonstraram, durante o 15º Seminário Femipa, que foi realizado em Curitiba entre os dias 28 e 30 de março, que a desconfiança permeia todas as etapas do segmento, o que gera custos desnecessários.
O painel “O custo da desconfiança: relacionamento de operadoras e prestadores” contou com a participação de Adriano Matheus Londres, fundador da consultoria Arquitetos da Saúde; Paulo Faria, presidente da Unimed Paraná; e Flaviano Feu Ventorim, diretor-presidente da Fundação São Francisco Xavier, de Minas Gerais.
Em sua apresentação sobre o custo da desconfiança, Paulo Faria demonstrou o que isso representa mensalmente na Unimed Paraná. O percentual do custo administrativo da desconfiança chega a 6,68% do total despesas com pessoal e administrativo da federação. O valor, que gira em R$ 350 mil, está ligado a equipes de auditoria médica e enfermagem; contestação de contas médicas; e medicação de contestação entre as Unimeds.
“Minha relação direta não é com outro prestador, mas com a própria Unimed e ainda assim há desconfiança. Esse recurso, de quase R$ 4,5 milhões ao ano, poderíamos direcionando para outras questões mais importantes. O ciclo do baixo nível de confiança começa com o modelo de remuneração, e é o modelo que adotamos ‘desde sempre’. Ele leva à desconfiança das partes envolvidas, à morosidade do processo e risco ao paciente”, opinou.
Adriano Londres levou todos os participantes do painel a um reflexão questionando em que sociedade vive a saúde suplementar. Ele foi categórico dizer que é em um ambiente de desconfiança. “Iniciativas como campanhas lançadas pela Abramge e Fenasaúde incentivando a participação de todos e uma preocupação com o processo como um todo são uma espécie de luz no fim do túnel – diria até que seria a chama de uma vela. Talvez seja um caminho longo e tardio para um ambiente sem desconfiança”, salientou.
O especialista salientou que não existe “dinheiro novo” para o setor. Por isso, o combate ao desperdício e às fraudes, por exemplo, são essenciais no atual contexto.
Flaviano Feu Ventorim destacou que a desconfiança que permeia todo o processo do setor da saúde está relacionada à uma comunicação ineficiente. Essa falha abrange operadoras, prestadores de serviços, contratantes e usuários. “Grande parte das empresas que vendem planos de saúde sempre venderam o sinistro. Muitos hospitais precisam ser hotéis e colocam-se serviços que não seriam necessários. Precisamos falar sobre isso porque existe um encarecimento”, afirmou.
Outro exemplo do custo da desconfiança do sistema de saúde deixado por Ventorim foi a realização de processos de acreditação, certificando aquilo que já seria obrigação das instituições de saúde. “Estamos com um sistema de saúde que está doente. Estamos assim porque sofremos influência de uma série de fatores, como legislação, regulação e pressão de parlamentares, que estão matando a gente. E ainda vamos para uma fonte pagadora que está esgotada, inclusive por parte das empresas que oferecem esse benefício aos empregados”, contou.
Ventorim ainda citou que a desconfiança não permite o avanço em negociações e em estratégias que podem ser benéficas para toda a cadeia. “Já vimos uma melhora no relacionamento de hospitais com operadoras, por exemplo, quando todos sentaram juntos e discutiram como é realizado um procedimento e qual o seu custo, mostrando a necessidade de uma estrutura robusta. Nesta relação sincera, passamos a discutir estratégias”, complementou.
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