Os presidentes da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) e do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar), Flaviano Feu Ventorim; da Associação dos Hospitais do Paraná (Ahopar), José Octávio da Silva Leme Neto; e da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), Rangel da Silva, alertaram para a grave crise financeira enfrentada pelos hospitais privados, filantrópicos e não filantrópicos.
Segundo o presidente da Femipa, as instituições de Saúde aumentaram significativamente seus custos, por conta da pandemia do novo coronavírus, mas, ao mesmo tempo, estão sofrendo com a queda de receita ocasionada pelo cancelamento de cirurgias eletivas e diminuição dos atendimentos.
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A afirmação foi realizada nesta segunda-feira (8 de junho) durante entrevista coletiva online. “A situação financeira é premente. Esse movimento muito abaixo do normal traz um risco grave para esses hospitais. Estamos trabalhando com 50% de ocupação e isso impacta diretamente no caixa das instituições. Nosso custo se mantém alto, fizemos diversos investimentos para conseguir atender pacientes com COVID, como criação de alas especificas, implantação de protocolos, contratação de pessoas, dentre outros. Porém, com a suspensão de cirurgias eletivas, diminuiu o número dos atendimentos. Ou seja, os hospitais tiveram uma queda de 50% a 60% da receita, com custo mais alto. A situação dos não filantrópicos é ainda pior, porque dependem diretamente da receita de produção. Ainda não temos um modelo para sustentabilidade desses hospitais. Isso pode ter grande impacto já no próximo mês”, afirmou.
Para ajudar a melhorar esse cenário, Ventorim destacou que as entidades representativas têm conversado com o governo do estado e a Assembleia Legislativa do Paraná para buscar a suspensão da cobrança de água e energia, valor que chega a aproximadamente 3% das despesas. Com os municípios, essas instituições pedem a suspensão da cobrança do Imposto Sobre Serviço (ISS), valor que pode chegar, em algumas cidades, a 4% sobre o faturamento.
“Parece pouco, mas não é, principalmente quando falamos de fluxo financeiro. Essas medidas já trariam um certo alívio para nossas entidades. Além disso, gastos com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) também subiram significativamente. Para se ter uma ideia, somente com máscara cirúrgica e máscara N95, tivemos um impacto de quase R$ 1 milhão em 50 dias num único hospital. Trata-se de um volume financeiro grande para um item que não é remunerável, porque está incluído no valor da diária. É um impacto muito grande, ainda mais levando em conta que estamos com fluxo de pessoas de 50%. Com o hospital cheio, seria ainda pior. Precisamos destacar que os hospitais estão registrando prejuízos históricos. Neste momento, todos estão em alerta máximo, tentando buscar uma solução para o equilíbrio financeiro”, ressaltou.
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Ainda durante a coletiva, o presidente da Femipa e do Sindipar destacou que, como auxílio financeiro para as entidades de Saúde filantrópicas, o governo federal publicou a Lei 13.995/20, disponibilizando um montante de R$ 2 bilhões para santas casas e hospitais filantrópicos, e, no fim de maio, foram publicadas as Portarias GM/MS nº 1.393 e 1.448, que definiram as diretrizes para viabilização destes recursos.
“Fizemos uma crítica severa pela forma de distribuição do recurso, mediante estatística atual da pandemia. Isso fez com que boa parte do montante fosse destinada a hospitais que, no momento, têm grande número de pacientes com o novo coronavírus, sem levar em conta o número de leitos e a produção ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade, como era a nossa expectativa. Isso deixou os hospitais do Sul, Centro-Oeste e Minas Gerais com menos recurso, muito abaixo do que esperávamos”, reforçou.
Além desses pontos destacados, Ventorim também falou sobre o reajuste dos medicamentos, que acontece anualmente e que deveria ter sido postergado, mas não foi. Isso quer dizer que, a partir de junho, os hospitais deverão também se preparar para um aumento de 4,21%. “Isso terá impacto direto em todos hospitais. É mais uma situação difícil para enfrentarmos, paralelamente à alta do dólar e o aumento da demanda de alguns produtos, tudo que teve como reflexo um custo mais caro”, salientou.
Taxa de ocupação
Nos hospitais privados, filantrópicos e não filantrópicos, Flaviano Feu Ventorim apontou que a média de ocupação está em torno de 50%. Segundo ele, o Paraná continua como um dos melhores estados do país em relação à Covid-19. Houve um aumento do número de casos, mas ainda não é possível garantir que são pessoas infectadas com o novo coronavírus, porque, no inverno, há uma procura maior de pacientes com síndrome respiratória.
“Em algumas cidades, tivemos surtos. Por isso, reforçamos que precisamos manter as medidas para contenção. Agora, com a chegada definitiva do frio, a tendência é que as doenças respiratórias se agravem. Nesse período, aumenta-se a procura pelo pronto-atendimento de pacientes com asma, bronquite, entre outros. Já sentimos esse aumento, mas isso não quer dizer que são pacientes com o novo coronavírus. Naqueles com sintomas que se confundem com o COVID-19, fazemos os testes e tomamos todas as medidas. Mas nossa preocupação também é com os pacientes assintomáticos, porque se essas pessoas não estiverem se protegendo, podem contaminar muitas pessoas”, garantiu.
Colaboradores que estão na linha de frente
Com relação aos colaboradores, Ventorim afirmou que, no começo da pandemia, houve muitos afastamentos, pois os hospitais não tinham condição de testar todas as pessoas, e muitos com gripe e resfriado comum acabaram se afastando e sendo monitorados. Hoje, as instituições estão conseguindo fazer o teste com mais rapidez, o que permite que o trabalhador volte às atividades.
Cuidados redobrados
Flaviano Feu Ventorim afirmou que a população precisa reforçar o cuidado pessoal, para diminuir os números de transmissão da doença. Assim, é possível ajudar a proteger os profissionais que estão na linha de frente.
“Tivemos alguns surtos em hospitais no país e já no Paraná. Precisamos tomar algumas medidas duras, como proibir visitas e acompanhantes nos hospitais. Sabemos que é difícil, mas são situações que não conseguimos administrar, pois quanto maior o fluxo de pessoas dentro dos hospitais, maior o risco de contaminação. Temos feito esforços para tentar humanizar determinados momentos, como vídeo chamadas com as famílias, por exemplo. Precisamos proteger os profissionais da saúde, os pacientes e a população de modo geral, que também precisa fazer a sua parte, seguindo os protocolos determinados pelas Secretarias de Saúde”, completou.