Caminhamos a passos lentos em direção a uma participação plena no ambiente público no Brasil. Mulheres ainda precisam se justificar, das mais variadas formas, para demonstrar sua capacidade para atuar nos espaços públicos e dividir a tomada de decisões com os homens.
É importante esclarecer, antes que se façam julgamentos precipitados, que mulheres não desejam afastar os homens para ocupar esses espaços, pelo contrário, a busca é justamente pela parceria, já que andamos sozinhas por muitos “lugares”. O objetivo final não é vencer ou derrotar, mas alcançar a paridade.
Na política, assim como em todos os setores da vida, a importância de participar esbarra de forma importante no atendimento a interesses muito específicos das mulheres, os quais não podem ser tratados com tanta particularidade, senão por elas. Contudo, essa participação feminina esbarra, também, em controles muito caros para a o padrão social e cultural em que vivemos. Daí uma dificuldade grande para que mulheres deixem de só estar no ambiente privado e ocupem natural e plenamente os espaços públicos e a política.
Estamos em ano eleitoral, elegeremos um novo ou nova Presidente da República, além de senadores (as), deputados (as) estaduais e federais. No entanto, apesar do aumento significativo nas candidaturas femininas, a grande maioria dos candidatos é de homens. E mais, ainda que tenhamos candidatas mulheres, para muitos ainda é difícil crer no potencial delas para aturarem como nossas representantes.
Em plena campanha eleitoral, temos duas candidatas a Presidente da República, ambas desacreditadas, em que pese competentes, senadoras da república, professoras, advogadas com carreiras respeitáveis, mas não é o suficiente. Há limites a transpor. Ainda que os candidatos que estão à frente nas pesquisas e que, provavelmente, disputarão um segundo turno, sejam alvos de processos judiciais, especulações sobre envolvimento em corrupção, com condutas postas a prova e suas campanhas pautadas na defesa sobre atos contrários a democracia e que atentam contra o Estado Democrático de Direito, eles se mantêm nesse “lugar” de preferência e de competência.
Então, especificamente em relação a escolha do Presidente da República, entramos num “looping”, elege-se um para afastar o outro. Sem critérios justos e genuinamente voltados para o bem-estar do povo, para a manutenção democrática desse bem-estar, na esperança de novas políticas para alcançarmos melhores resultados na economia, nas boas relações internacionais, para mais investimentos em educação e saúde. O foco, infelizmente, deixa de estar nas propostas. E, nem de longe, se cogita ouvir o que as mulheres têm a dizer.
Pesquisas apontam que alcançaremos igualdade de gênero em 80 anos, não viveremos para desfrutar disso, mas podemos viver para, efetivamente, fazer o que for possível para que as próximas gerações vivam em igualdade, para que a competência dos seres humanos não seja pautada no seu gênero, na sua raça, no seu nível social etc.
* Viviane Teles de Magalhães Araújo é advogada graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO, com atuação no mercado corporativo nas áreas cível e trabalhista; Doutoranda em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP; Mestra em Direito (Direitos Fundamentais Coletivos e Difusos) pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP – Piracicaba/SP; Especialista em Direitos Humanos e Questão Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná; MBA em Direito Empresarial pela FGV – Fundação Getúlio Vargas – Campinas/SP; Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – Campinas/SP (2008/2010). Autora do livro “Mulheres – Iguais na Diferença” (ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris 2018) e do artigo “A igualdade de direitos entre os gêneros e os limites impostos pelo mercado de trabalho à ascensão profissional das mulheres. (25 ed.Florianópolis: CONPEDI, 2016, v. , p. 327-342).
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