Nos nossos espaços mais queridos e mais íntimos, onde podemos estabelecer nossas regras, conviver com quem queremos, ter o que nos é necessário, viver e conviver sem aparências, vivemos um mundo que é de nosso controle, onde é mais fácil atingir nossos interesses. Estes espaços, ainda assim, requerem cuidados, administração e comando, e geralmente quem toma frente são as mulheres.
Então, vivemos em um mundo que preza por seus espaços particulares, os espaços de cuidado, como a casa e a família, o espaço doméstico, e como dito, que depende de decisões particulares.
Contudo, a vida não se resume a esses espaços íntimos e de dimensões particulares, ela se expande para o mundo externo e, consequentemente, nossos interesses não se resumem aos limites da nossa casa. E é nesse ponto que identificamos uma grande dificuldade para as mulheres, elas não conseguiram, ainda, atingir um nível de participação nos espaços públicos, em sociedade, que lhes permita ter atendidos os seus mais caros interesses.
Os espaços públicos em vários níveis e setores, como na política, no mercado de trabalho, nas relações comerciais, entre outros, muito se define e envolve a todos, homens e mulheres. No entanto, nesses espaços temos mais homens funcionando e tomando decisões, uma maioria que define direção, orienta e decide conforme os seus interesses e a sua natureza masculina.
Por outro lado, mulheres vêm lutando para ocupar mais espaço nesse ambiente tão masculino, procurando expor o que precisam, como isso deve ser definido de acordo com a sua natureza feminina, já que para identificar tais necessidades, é preciso conhecê-las e é imprescindível sentí-las. O pensamento feminino é sutilmente diferente do masculino e não há nada de errado nisso, o que não é certo e vem sendo prejudicial às mulheres é o limite a manifestação feminina, a sua participação e defesa de si mesmas.
E vale dizer, a mulher tem sido importante e tem se destacado no espaço público, mas tem sido, em maioria, a única protagonista no espaço particular, ou seja, assume todas as responsabilidades deste, e com isso acumula funções, o que provoca a carga física e mental exaustivas, que só faz aumentar a dificuldade de adentrar e se manter de forma plena nesses espaços públicos.
Mais uma vez, precisamos insistir na igualdade de direitos e obrigações, na divisão de tarefas nos ambientes domésticos e na consequente abertura de espaço nos ambientes públicos.
* Viviane Teles de Magalhães Araújo é advogada graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO, com atuação no mercado corporativo nas áreas cível e trabalhista; Doutoranda em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP; Mestra em Direito (Direitos Fundamentais Coletivos e Difusos) pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP – Piracicaba/SP; Especialista em Direitos Humanos e Questão Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná; MBA em Direito Empresarial pela FGV – Fundação Getúlio Vargas – Campinas/SP; Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – Campinas/SP (2008/2010). Autora do livro “Mulheres – Iguais na Diferença” (ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris 2018) e do artigo “A igualdade de direitos entre os gêneros e os limites impostos pelo mercado de trabalho à ascensão profissional das mulheres. (25 ed.Florianópolis: CONPEDI, 2016, v. , p. 327-342).
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