Você já ouviu falar em comportamento alimentar? Comer com atenção plena e Comer intuitivo?
E já ouviu falar em dietas para emagrecer? Dieta dos pontos, da lua, das frutas, tipo sanguíneo, Low Carb, barriga de trigo, sem glúten?
A segunda pergunta parece mais familiar, certo?
As dietas restritivas para emagrecimento ganharam ainda mais popularidade com o avanço da tecnologia e das mídias sociais, que enfatizam a busca insana por mudança na imagem corporal usando como referência padrões de beleza em corpos esguios ou delineadamente torneados, que sem dúvida são incompatíveis com o biotipo da grande maioria da população.
A cultura de fazer dieta parece não estar sendo muito efetiva no tratamento e controle do sobrepeso e obesidade. No Brasil observou-se um aumento de 68% no número de casos de obesidade entre os anos de 2006 a 2018 (dados do Vigitel). Outro dado alarmante é o crescente número de casos de pessoas com algum tipo de Transtorno Alimentar como Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa e Transtorno de Compulsão alimentar.
POR QUE DIETA RESTRITIVA NÃO FUNCIONA?
A explicação para a falência da cultura de fazer dieta para redução de peso corporal e manutenção a longo prazo do peso perdido, está na relação entre o desenvolvimento do comer compulsivo após um período de restrição. A privação física e emocional (que as dietas promovem) desencadeiam um mecanismo de recompensa e desejo em comer tudo o que se evitou por um período.
Este efeito de recompensa fica ainda mais ativado e torna-se “permitido” em períodos festivos como o qual estamos: final de ano e férias. Algumas pessoas dizem: “agora não é época de fazer dieta”. Posso afirmar baseada em publicações científicas e na minha experiência profissional que: “agora e em momento algum é época de fazer dieta de restrição.”
Vou colocar aqui uma imagem que explica por si só, o mecanismo da mentalidade de dieta, no desenvolvimento de desequilíbrio alimentar como comer compulsivo favorecendo o ganho de peso.
As dietas restritivas são práticas alimentares que impõe a escolha de alimentos baseadas em 2 categorias: alimentos permitidos x alimentos proibidos. Os alimentos permitidos são aquelas com mais fibras, sem açúcar e farinha branca e reduzidos em gorduras ruins. Por outro lado, os permitidos seriam alimentos ricos em fibras, sem açúcar, com pouco carboidrato, sem gordura ruim e ricos em gorduras boas.
Sabe-se que os alimentos ditos “permitidos” estão mais associados a promoção da saúde e redução do risco em desenvolver doenças crônicas, porém a alimentação saudável não se limita a isto. Os alimentos ditos “proibidos” também têm seu papel na saúde, principalmente nos aspectos emocional e social.
Quando a pessoa começa a restringir muitos alimentos com o objetivo de controle de peso, quando ela se depara com uma situação, individual ou coletiva, na qual tem vontade e oportunidade de comer algo com mais açúcar ou gordura, a mentalidade de dieta gera um desconforto e sofrimento, sensação de culpa e incapacidade de auto-controle, acarretando o comer com exagero e compulsivamente. Esta sensação de culpa alimenta o ciclo da restrição-compulsão.
SE A DIETA NÃO FUNCIONA, ENTÃO O QUE FAZER PARA REDUÇÃO E MANUTENÇÃO DE PESO CORPORAL SAUDÁVEL?
Primeiramente é importante ressaltar que peso saudável não deve ser definido pela imagem corporal. Pessoas que estão acima do peso ou que tiveram aumento de peso e isto traz algum desconforto ou risco para o desenvolvimento de doenças devem sim buscar profissionais que auxiliem na adequação do peso corporal. Mas a quantidade de perda de peso com o objetivo de promover saúde é muito individual e deve ser definida dentro do contexto e estado de saúde global.
A principal estratégia no manejo do cuidado com o peso corporal, é entender aspectos relacionados ao comportamento alimentar de cada pessoa. Deve-se tirar o foco apenas do que e quanto a pessoa come, mas identificar fatores emocionais e do cotidiano relacionados ao comer: porque, como, onde, com quem. Compreender estes aspectos favorece o resgate ao comer sem culpa, sem julgamento, sem estar aprisionado a regras impostas. É o resgate de permitir-se comer com prazer e principalmente comer com atenção. Atender aos sinais internos relacionados a fome e saciedade; identificar a diferença entre fome física e fome emocional e com isto aprender a lidar com as emoções sem usar a comida. Resgatar a satisfação em comer, ou seja, fazer as pazes com a comida e praticar a nutrição gentil ao invés da restritiva.
Estas estratégias citadas de comer com atenção plena e comer intuitivo, tem sido alvo de muitos estudos. Acredito que a soma de diferentes condutas terapêuticas na nutrição, são mais eficazes e favorecem o engajamento no tratamento.
Lidar com os aspectos relacionados ao comportamento alimentar, requer um cuidado especializado, personalizado e empático entre o profissional e o paciente. Neste contexto, é importante que em conjunto sejam definidas escolhas alimentares que promovam o controle de patologias se for o caso.
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