No mês de junho, celebra-se o dia nacional do Luto no Brasil – 19 de junho.
É um dia destinado à conscientização e reflexão acerca da importância do respeito, acolhimento, apoio e compreensão às pessoas que experienciam sentimentos ligados à perdas, vivenciando processos de luto.
Trata-se de um processo normal e esperado em consequência do rompimento de um vínculo significativo. Seja uma perda oriunda de uma morte concreta ou simbólica.
Temos uma cultura que impõe muitos tabus, dentre eles falar sobre a morte, e consequente conversas sobre o luto também não são encorajadas e proporcionadas.
Não encontra-se espaço para falar dos sentimentos, das dores, do sofrimento desencadeados no processo de luto.
Pessoas enlutadas muitas vezes sofrem em silêncio porque não encontram acolhimento e o devido espaço para expressão do que estão sentindo. E esse processo acaba sendo bem solitário.
Muitos têm a ideia de que se deve evitar falar da perda, da pessoa que morreu, porque pode trazer lembranças ao enlutado e com isso mais sofrimento, quando na verdade é o contrário. A pessoa que sofreu uma perda, muitas vezes quer falar sobre ela.
Não sabemos como lidar com o choro, com a tristeza e falta de ânimo que percebemos na pessoa enlutada, e, na tentativa de ajudar, falamos frases que não fazem sentido para quem precisa de fato chorar, expressar sua tristeza por uma perda extremamente significativa e está tentando se adaptar a uma nova realidade.
Frases como: “não chore”, “seja forte”, “foi melhor assim”, “nada é por acaso”, além de não ajudarem em nada ainda não validam e nem respeitam a dor que a pessoa que passa por uma perda está vivenciando.
Não há palavras que amenizem a dor nesse momento, e o que podemos oferecer de mais sincero é nossa presença, nosso afeto, acolhimento e demonstrar nosso interesse pela pessoa. Muitas vezes não precisamos dizer nada, só estar perto.
Quando não sabemos o que fazer para ajudar o melhor caminho é perguntar.
Pergunte o que você pode fazer pela pessoa, o que ela precisa naquele momento. Só ela pode dizer quais são as suas reais necessidades.
Ás vezes são coisas simples do dia a dia como ir ao mercado ou a farmácia, levar o cachorro para passear, pagar uma conta, pois para a pessoa enlutada isso pode ser muito difícil até que ela se adapte a uma nova rotina sem a presença do ente querido.
Diante desse cenário o melhor caminho é sempre verificar o que a pessoa em questão deseja.
Impor nossas crenças pessoais, nossa religiosidade ou fazer comparações com histórias que, porventura, tenhamos vivenciado também não é uma boa opção, pois cada história é única e cada pessoa tem sua forma de enfrentar e vivenciar a experiência dolorosa que é perder alguém que se ama. O que serviu para mim nem sempre vai servir para o outro também.
A empatia é isso, entender o que é melhor para o outro sob a perspectiva do outro.
Para finalizar quero deixar essa reflexão:
“Precisamos falar sobre o luto. Precisamos entendê-lo como um processo natural, não como a ser evitado, consertado, apressado ou julgado. Precisamos começar a falar sobre como enfrentar a realidade de levar uma vida que foi totalmente modificada pela perda.” (Megan Devine – do livro: Tudo bem não estar tudo bem)
* Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná em 2000. Pós-graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica (UTP). Pós-graduada em Psicologia Hospitalar (HC-UFPR). Pós-graduada em Psicologia Transpessoal (FIE). Especialista em Cancerologia pelo programa de residência multiprofissional do Hospital Erasto Gaertner e Ministério da Saúde. Mestre em Bioética (PUCPR). Atuante em Cuidados Paliativos. Trabalha na área da saúde tanto na assistência como na docência, com temas sobre morte, luto, humanização, cuidado integral, comunicação em saúde. Confira outras colunas de Jociane Casellas clicando aqui Conheça também os demais colunistas do portal Saúde Debate. Acesse aqui.