Como é cuidar de alguém

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(Foto: Reprodução)

No mês de março comemoramos o dia do/a cuidador/a de pessoas idosas. Mas quero incluir nessa conversa de hoje as pessoas que cuidam também de outras pessoas, não somente de idosos, mas daquelas em diferentes fases da vida e nos mais variados contextos, em especial pelo adoecimento. Temos nesse cenário os cuidadores formais, que são aqueles contratados e preparados para exercer a função e prestar serviços de cuidados para quem passa por um adoecimento, seja ele agudo ou crônico. E temos os cuidadores informais, que são aquelas pessoas, familiares geralmente, que passam a exercer a tarefa de cuidar de algum familiar que adoeceu, sendo compostas em sua maioria por mulheres, sem preparo e repentinamente. São esposas cuidando de maridos, mães cuidando de filhos, filhas cuidando dos pais, irmãs, tias, sobrinhas, netas … É a elas que quero fazer uma menção especial. Pessoas que precisaram, muitas vezes, modificar sua rotina, deixando trabalho e/ou estudos, para estar ao lado de algum familiar que necessita de acompanhamento e cuidados em saúde de forma contínua. Trata-se cuidados que podem durar semanas ou meses, mas também podem durar anos e anos. Dessa forma essa pessoa passa a viver a vida daquele cujo qual está prestando cuidados. Não raro acontece de a pessoa perder sua identidade, pois passa grande parte de seu dia e de sua vida se dedicando ao bem-estar daquele membro da família que adoeceu, esquecendo das suas próprias necessidades. Com isso a possibilidade desse cuidador ou dessa cuidadora viver o que chamamos de “sobrecarga do cuidador”, ou “estresse do cuidador” é grande, pois muitas vezes a pessoa precisa dar conta de muitas outras coisas, além do cuidado prestado a quem adoeceu. Somado a isso podem estar presentes ainda sentimentos de autocobrança ou de culpa e a pessoa não consegue exercer o autocuidado. Rompe com vida social, não se permitindo momentos de descanso e lazer. Muitas vezes até mesmo descuidando de sua aparência. Diante desse cenário é muito comum esses/as cuidadores/as adoecerem fazendo com que o cuidado prestado não seja profícuo. Sabemos que para cuidar de alguém, é preciso estar bem também, no entanto em grande parte das vezes, isso não acontece. Eu mesma, em minha prática profissional, já presenciei muitas situações em que o/a cuidador/a principal, como chamamos, também está doente, mas não concede (ou não consegue conceder) a si mesmo um tempo para o autocuidado e o restabelecimento de sua energia física e mental, deixando que seu estado emocional fragilize-se também. Há situações em que nem mesmo se percebem fragilizados, e/ou quando percebem não aceitam essa condição. Em outras situações o núcleo familiar é reduzido, vemos muitas famílias pequenas, com poucos membros o que acaba dificultando mais ainda o revezamento nos cuidados. Aí é que entra o importante papel da rede de apoio, que é extensiva também ao cuidador/a principal. Outras pessoas da família, da comunidade, amigos, vizinhos, profissionais da saúde podem ajudar nesse momento. Ajuda psicológica também é extremamente importante. Perceber quando a situação está delicada e exaustiva e oferecer ajuda é muito acalentador para quem vivencia a função de cuidar. Da mesma forma que pedir auxílio também é uma atitude nobre, pois somos seres humanos, temos limitações e precisamos do apoio de outras pessoas. Para quem está exercendo hoje o papel cuidador/a deixo aqui uma sugestão: tire um tempo para si, se permita momentos de pausa, de descanso. Uma caminhada no parque, uma ida ao cinema, são revitalizadores. Se permita, é necessário para não adoecer também. Cuidar dos aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais é primordial. Para quem conhece alguém nessa situação minha sugestão é: ofereça presença, cuidado, atenção, ajuda. Se não sabe o que fazer para ajudar pergunte, e esteja atento/a aos sinais de cansaço ou exaustão que o outro pode sinalizar e expressar. Cuidar é uma atitude nobre! E cuidar de quem cuida é fundamental, urgente e necessário. Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná em 2000. Pós-graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica (UTP). Pós-graduada em Psicologia Hospitalar (HC-UFPR). Pós-graduada em Psicologia Transpessoal (FIE). Especialista em Cancerologia pelo programa de residência multiprofissional do Hospital Erasto Gaertner e Ministério da Saúde. Mestre em Bioética (PUCPR). Atuante em Cuidados Paliativos. Trabalha na área da saúde tanto na assistência como na docência, com temas sobre morte, luto, humanização, cuidado integral, comunicação em saúde. Confira outras colunas de Jociane Casellas clicando aqui Conheça também os demais colunistas do portal Saúde Debate. Acesse aqui.