Desejar saúde é o mais importante dos votos de Ano Novo

O palpite dos historiadores é que o brinde tenha uma origem curiosa: dois inimigos selavam o fim dos conflitos batendo as taças e, com isso, fazendo com que as bebidas trocassem, literalmente, de copo, o que comprovaria que nenhum dos convivas seria contaminado por eventual envenenamento. Esse risco e, de alguma forma também, essa confiança, explicam porque, na ocasião, desejava-se “saúde” um ao outro. Brindar era uma forma de prevenir doenças e evitar a morte, quem sabe até acordando alguma força oculta com o tilintar das taças.

Neste réveillon de 2020-2021, talvez sejam poucas as taças a se erguer em brinde por causa da pandemia. Não daremos jantares a muitos amigos, não sairemos às praias e às ruas como antes – espera-se. Em casa, brindaremos com os poucos, desejando saúde para os muitos. Como nunca, haveremos de celebrar esse dom, reivindicá-lo como anseio, oferecer-lhe como dádiva e voto. A saúde, afinal, é bálsamo e bênção maior de um indivíduo. Seu valor incalculável e inquestionável traduz, por isso, os sentimentos mais sinceros e mais elementares.

A saúde é a irmã mais velha da paz e da felicidade. Ela nasce primeiro, fortifica os músculos e lhes prepara o terreno. Sem saúde, resta pouco motivo de riso e pouca tranquilidade nos caminhos. Sem saúde, fenecem os planos futuros, fecham-se os horizontes e mingua o sentido das coisas. De posse dela, passamos altivos, cheios de vida, plenos de hoje e de amanhã. Saudáveis, acordamos cedo, trabalhamos e amamos com mais intensidade, chegamos cedo aos compromissos, dormimos sem interrupções. A saúde torna possíveis as coisas simples da vida. Tudo a ela pertence. Sem ela, nenhuma outra vantagem faz sentido. Schopenhauer, aquele filósofo pessimista, não deixou de notar que “nove décimos da nossa felicidade baseiam-se exclusivamente na saúde” e que “com ela, tudo se transforma em fonte de prazer”.

Esse é um assunto de quase unanimidade. Talvez por isso o desejo de boa saúde conste nos manuais de boa etiqueta, desde o comovente “cuide-se” até aquelas pequenas recomendações sobre levar uma blusa contra o frio, não tomar leite com pepino ou evitar friagem e sereno. O que desejamos, assim, de forma tão ordinária, traduz o valor central que a saúde ocupa e as suas benesses imprescindíveis: vigor, satisfação, disposição, contentamento, plenitude. Seu desejo é já, uma saudação e uma homenagem. Ele traduz o mais íntimo de todos os votos: desejar saúde é dizer que amamos e que esse amor se traduz em desejo de pleno bem estar.

Tudo isso, em 2020, ganhou novo significado, mas continua valendo o essencial: “cuide-se” agora significa “use a máscara”, “não se arrisque”, “não aglomere”, “fique em casa” e, ainda, “tome a vacina”. Embora também signifique, em uma perspectiva política: “garanta vacina para todos”, “planeje a vacinação”, “ajude a convencer a população da importância desse ato”. Num ano em que não poderemos fazer festas com brindes a muitas mãos, esse é o melhor jeito de passar o ano novo: fazendo a nossa parte em benefício da saúde – a nossa e a de quem amamos.

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