Que sistema é este?

Muito, muito cedo, descobri a dor que uma morte causa quando acontece em nossa própria família. Aos sete anos perdi meu pai, funcionário da Viação Férrea do Estado do Rio Grande do Sul. Na década de 1960, nossa família desfrutava de um passe fornecido pela Viação Férrea, que nos dava o benefício de viajar pelos trilhos do Rio Grande do Sul, a bordo das máquinas diesel da época.

Bons tempos, até que a VFRGS foi encampada pela RFFSA! Verdadeiro desastre, que culminou com o fim das linhas de transporte de passageiros, não só no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil. Provavelmente, esse foi um dos inícios do nosso mergulho no poço da falta de crescimento, desenvolvimento e igualdade social. Somos o que somos pelas decisões equivocadas tomadas no passado, perpetuadas no presente e com grande chance de continuarem acontecendo no futuro, ante a fauna política que desgoverna esta nação que nunca acorda do berço esplêndido!

Como lamento pelo fim do transporte ferroviário de passageiros, na contramão de um mundo desenvolvido que investia justamente neste modal desde o século XIX. Enfim, não sou economista, nem político, muito menos comissionado em órgão estatais, apenas um observador da derrocada de tantos elementos que poderiam tirar a pátria mãe gentil deste atoleiro em que nos enfiamos até hoje, privilegiando as rodovias e seus automóveis como forma de financiar a ascensão de JK e sua sonhada Brasília … que serve, hoje em dia, apenas para alimentar o pantagruélico sistema (na verdade, esquema) político sugador de recursos da REPÚBLICA, a quem derramo minhas lágrimas!!!

Minha família, pelo lado materno, tinha origem na região alemã de Santa Cruz do Sul (os Winck) e, do lado paterno, a origem era Santa Maria (os Rosas), região central do Rio Grande do Sul.

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p class=”ql-align-center”>Catedral Metropolitana de Porto Alegre (Foto: Gilmar Rosa)

No final da década de 1970 prestei serviço militar obrigatório durante um ano na 1ª Companhia de Guardas, elite da 3ª Região Militar de então. Convivi com um ou dois atentados a bomba nas proximidades, ordens de atirar em invasores nas imediações do quartel, além de outras tantas situações emanadas dos comandantes repressores militares, nossos defensores da democracia e da pátria, que haviam, entretanto, torturado, matado e feito desaparecer algumas centenas de brasileiros contrários ao regime opressor da época.

Relembrando os tempos duros vividos pelos mais idosos (tenho sido relembrado constantemente de que sou idoso, incluído no grupo de risco da Covid-19), não há como comparar com este tempo de coronavírus! Na década de 1970 houve uma grande epidemia de poliomielite no Brasil, mas os militares no poder da República, naquele momento, simplesmente proibiram qualquer menção ao surto da doença nos órgãos de imprensa. Por causa disso, os brasileiros não sabiam de nada sobre o surto. Nada como ter o poder absoluto nas mãos, como hoje quer um certo capitão no poder… Bom, cada povo tem o governante que merece.

Naquela época de epidemia censurada pelos grandes mentores militares da República, eram ouvidas músicas inesquecíveis meneadas de letras espetaculares, que hoje, ante este afã rural, nada tem valor ou sentido.

Todo esse preâmbulo para justificar a tristeza pelas mais de 18.000 mortes devido à Covid-19 em território brasileiro, enquanto aquele que deveria ser o responsável por amalgamar todas as ações e iniciativas para combater a pandemia, apenas diz “E daí?”. Até no tempo dos militares e seus porões de tortura dos DOI-CODI sentíamos um pouco de orgulho pelo ufanismo crescente do milagre econômico!

Hoje, nem isso temos para nos amparar, ante a falta de estrutura, preparo, conhecimento, humildade e aptidão daquele que exerce o cargo mais alto da República. É triste, realmente é muito triste, perder milhares de vidas de brasileiros de todas as idades, classes e cores e acordar todo dia sabendo que mais poderão fenecer ante a inépcia dos governantes de plantão… 

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