Nestes tempos de distanciamento e isolamento social, passaram-se já, rapidamente, nove meses e é inevitável não falar em gestação quando citamos nove meses em quase qualquer círculo social, mas principalmente quando as conversas acontecem no grupo de amigos.
Se em nove meses o corpo, o espírito e a alma femininas passam por complexas transformações, podemos dizer que nossos nove meses enfurnados em nossos lares também deixaram e ainda deixam marcas indeléveis, transformações assombrosas e reações as mais tresloucadas possíveis, tanto no nível físico, como no emocional e psicológico.
O romper de 2020 veio acompanhado de muitos planos e projetos de viagens pelo Brasil e pelo mundo, entretanto, justamente os lugares maravilhosos que sonhara visitar foram os mais atacados pela Covid-19, resultando em fechamento de fronteiras, proibição de entrada de turistas e outros diversos empecilhos que impediram a concretização do sonho. O sonho do início de 2020 ficou em suspenso, de tocaia, ali, quietinho, esperando que o vírus acabasse em poucas semanas, depois, em poucos meses e agora … agora a esperança continua!
2020 transformou-se na maior anormalidade destes tempos modernos, a tal ponto que a anormalidade já caminha celeremente para tornar-se no tão falado “novo normal”. E é isso mesmo! Quando nos imaginaríamos saindo às ruas com máscaras na cara, os bolsos e bolsas cheios de álcool em gel e o medo de que estranhos se aproximassem e transmitissem o famigerado vírus (somos todos maricas!)?
Não foi, aliás, na bela, “europeizada” e educada Curitiba que num dos bairros da classe média bem abastada e culta, um sujeito partiu para a bordoada quando outro distinto cidadão começou a tossir numa mesa de restaurante? E o pobre coitado agredido tossiu por ter se engasgado, não porque estivesse contaminado pelo vírus. Transformações, temperamentos fortes e irritadiços, confrontos – mudanças causadas pela pandemia.
Andando um pouco mais por essa linha do tempo de nove meses, começamos a nos empolgar, lá por setembro e outubro, com a liberação de acesso a alguns locais, a abertura de lojas, restaurantes, os voos domésticos cortando os céus. Vendo a débil luz a mostrar-se no meio do túnel, retomei uma ou outra viagem a fim de saber como o “novo normal” estava sendo implementado pela indústria do turismo: aeroportos antes apinhados, agora desfalcados daquelas multidões coloridas e falantes; restaurantes quase vazios com uma mesa aqui, outra acolá; voos com farta distribuição de álcool gel e obrigatoriedade do uso de máscara, hotéis embalando em plásticos (misericórdia, a pandemia além de tudo vai destruir a natureza com a imensa quantidade de plásticos utilizados) desde toalhas e papel higiênico a talheres e controles remotos. Parecia, porém, que a pandemia estava prestes a tornar-se a famosa “gripezinha”, com a vida retornando ao ponto anterior a março de 2020.
E as férias vieram! As viagens foram inevitáveis depois do enclausuramento, contudo, para lugares ermos, praias nordestinas paradisíacas onde se caminha por quilômetros até encontrar com algum vivente! Claro que o Rio de Janeiro é carta fora do baralho, porque as praias mantinham-se cheias nos finais de semana ensolarados e quentes. Mas Salvador estava fantasmagórica, praias totalmente desertas e até com uma certa bruma; Maceió, São Miguel dos Milagres, Paripueira … maravilhosas, as areias conversavam tranquilamente com as ondas, nada de gentes aos borbotões, nada dos milhões de guarda-sóis. Nada, só o quase plácido mar verde-esmeralda se derramando sob o céu de azul intenso!
Todavia, a pandemia brincou com todos e manifestou-se severamente logo em seguida. Alguns dizem que os números foram represados e escondidos para não afetar candidatos às eleições municipais. A verdade é que os números de contaminados e mortos crescia a cada dia. No momento em que escrevo, 1092 novos óbitos nas últimas 24 horas, totalizando 184.827 mortes desde o início da pandemia e 7.110.434 casos confirmados da doença no Brasil. Níveis alarmantes, assustadores!
A luz tênue vista a ¼ do túnel fica mais forte com as vacinas. Reino Unido e Estados Unidos começaram a campanha massiva de vacinação em suas populações em meados de dezembro. Alvíssaras! Mesmo que a vacina não acabe com a pandemia, a esperança cresce em cada um de nós. Mesmo que nossos obtusos governantes anunciem que não se vacinarão, mesmo que se espalhem fake news nas redes sociais sobre manipulação genética, implantação de chips com as vacinas desenvolvidas pela China, mesmo que o mundo não seja plano, ainda assim a esperança precisa permanecer forte em nossos corações de que em algum momento tudo isso vai acabar.
Nosso novo normal já é agora – máscara, álcool em gel, distanciamento. 2021 ainda carregará em seu romper todo o instrumental de proteção e precisamos sobreviver a 2021, porque 2022 está logo ali, a um passo! Basta que continuemos a nos cuidar e a cuidar dos outros – adiante, numa praia deserta e paradisíaca do Nordeste ou num apartamento no Água Verde, lá na frente, agradeceremos a Deus, nos lembraremos de todos os que partiram vitimados pela doença e viveremos o nosso normal.
Feliz e esperançoso ano novo a todos nós!
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