Com a pandemia da Covid-19 iniciada no final de 2019 na China, espalhando-se pelo mundo nos meses seguintes, atingindo Europa, Ásia e, em seguida as Américas, foi observado que os sons produzidos pelos humanos decresceram, de acordo com os dados de sismógrafos de entidades científicas e de aparelhos pessoais dos amadores que observam as condições sísmicas do planeta.
Eventos esportivos com milhares de espectadores, parques e jardins repletos de praticantes de exercícios físicos, e outras atividades, shoppings centers transbordando de frenéticos e contumazes consumidores, incontáveis manifestações e eventos artísticos atraindo milhares de simpatizantes! Pois bem, todas essas interações sociais geram atividade sísmica, influenciando, atrapalhando e abafando os eventos naturais, prejudicando na escuta dos pequenos tremores que acontecem diariamente na crosta terrestre todos os dias. Além disso, ônibus, trens, metrôs, automóveis … nem é preciso dizer o tipo de som produzido.
Os efeitos ainda não completamente entendidos da pandemia são inúmeros. Pesquisas e estudos certamente desvendarão, no futuro, as consequências do isolamento, da falta de esperança, do agravamento de sintomas psicossociais. Alguns artigos e notícias já dão conta de redução dos acidentes de trânsito pela diminuição do tráfego, queda no número de homicídios, comportamentos alterados pela falta de convívio social, aumento do alcoolismo e da violência doméstica, além de outros. E estamos ainda no olho do furacão, nada de atingirmos o platô, as mortes e infectados não deixam de subir.
A redução do som (ou barulho) causada pela diminuição da atividade humana propiciou aos cientistas estudarem melhor os movimentos sísmicos. A barulheira humana diminuiu a ponto de permitir que as menores alterações pudessem ser registradas.
É de se pensar o que mais a pandemia pode trazer de novidades em relação a vários outros pontos. Que marcas ela deixará sobre nossos relacionamentos pessoais? Que sentimentos, afetos, dramas psicológicos serão criados a partir do isolamento e afastamento social que já dura mais de 4 meses? Como ficarão as relações de trabalho permeadas pelas telas de computadores? Continuaremos a morar em grandes cidades aceitando todo o movimento, a pressão, o estresse, o compartilhamento de bens urbanos comuns? Passaremos para uma fase menos urbana, mais rural ou a beira de praias amenas e tranquilas?
Nos tornaremos mais eremitas, retornando ao tempo dos pequenos grupos familiares compartilhando somente entre eles sensações, recomeços, lembranças?
Todos falam de um novo normal, em que não seremos os mesmos após a pandemia, mas o novo normal parte, fundamentalmente, do sentimento próprio de cada um em relação ao que vivencia, presencia e absorve dos dias que estamos atolados de dados de infecção e mortes pelo coronavírus. Sem contar a falta de opções e de esperança no futuro que não sabemos até onde vai. Novo normal, quiçá, nem exista. Voltaremos a algum ciclo anterior da história, pois que a história tende a se repetir …
Em 1964, Simon and Garfunkel lançaram nos Estados Unidos a canção folk “The sound of silence” (O som do silêncio, em tradução literal), escrita por Paul Simon. Fez grande sucesso na década de 1960 em quase todo o mundo, inclusive aqui no Brasil. Pessoas conversando sem falar, ouvindo sem escutar, escrevendo músicas que nunca seriam compartilhadas para que o som do silêncio não fosse perturbado. Uma linda canção que até hoje emociona os fãs saudosos daquela dupla talentosa e fantástica. Em tempos de pandemia, o som do silêncio é crucial para ouvirmos a nós mesmos!
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