Vivemos um momento difícil em relação à saúde. Um novo vírus se apresenta e temos que nos defender. Ainda sem remédios e sem vacina, encontramo-nos vulneráveis. Muito vulneráveis.
Muitas questões se revelam além da saúde. Diante da vulnerabilidade das pessoas diante do vírus ainda desconhecido, o isolamento se fez necessário, e com isso algumas complicações. Complicações políticas, econômicas e sociais.
Uma das complicações sociais é a violência contra a mulher, ela se agrava. Mulheres foram obrigadas a conviver em isolamento com seus agressores, que apesar de serem seus pares, seus cônjuges ou companheiros, não fazem esse papel, não como se espera.
Sem trégua, sem descanso e sem a menor proteção, mulheres ficaram ainda mais expostas a agressões de todos os tipos, desde a psicológica, passando pela moral até a física. Infelizmente. São vítimas fáceis. E ainda há quem pergunte como elas ficam? Por que ficam? Uma insensibilidade. São muitos os motivos, cada uma com o seu ou os seus. Os seus filhos, a dependência financeira, a confusão de sentimentos, o medo, a falta de opção, a falta de entendimento, de educação ou de tudo isso…
Mulheres pobres, de classe média, ricas, seja qual for o nível de educação, qualquer uma, sempre haverá um motivo. Sempre será difícil. Portanto, pode ocorrer em qualquer lugar, em qualquer nível social, em todas as famílias.
As agressões são muitas, de tantas nuances, graus e tipos. Os agressores continuam, perseguem, exploram. E isso se perpetua, é como uma doença. Sem generalizar, homens crescem com o exemplo de outros homens, em maior ou menor grau, mostrando uma superioridade em relação a mulheres, uma certa naturalidade em ser servido por elas, de onde vem um sentimento de autoridade, o qual não pode ser desafiado.
E em tempos de pandemia, muitas mulheres têm que lidar com o problema de saúde, com os problemas decorrentes disso, e ainda, conviver com seus agressores, longe da família, longe de sua rede de apoio, longe de tudo que, em dias normais, atenua sua condição vulnerável diante desses agressores. Então, esse confinamento promove muita mais tensão a mulheres vítimas de violência doméstica, com a saúde, com o dinheiro e o sustento da família e com a sua segurança e a de seus filhos.
Segundo a ONU Mulheres, a situação que antes da COVID-19 já era insustentável, agora está pior, dados mostram que muitas mulheres não denunciavam a violência por que passavam antes da pandemia, e agora essa denúncia está ainda mais limitada, elas estão presas em casa com seus agressores e distantes de quem as poderia ajudar:
“Mesmo antes da existência da Covid-19, a violência doméstica já era uma das maiores violações dos direitos humanos. Nos 12 meses anteriores, 243 milhões de mulheres e meninas (de 15 a 49 anos) em todo o mundo foram submetidas à violência sexual ou física por um parceiro íntimo. À medida que a pandemia da Covid-19 continua, é provável que esse número cresça com múltiplos impactos no bem-estar das mulheres, em sua saúde sexual e reprodutiva, em sua saúde mental e em sua capacidade de participar e liderar a recuperação de nossas sociedades e economia.
A ampla subnotificação de formas de violência doméstica já havia tornado um desafio a coleta de dados e respostas, menos de 40% das mulheres vítimas de violência buscavam qualquer tipo de ajuda ou denunciavam o crime. Menos de 10% das mulheres que procuravam ajuda, iam à polícia. As circunstâncias atuais tornam os relatórios ainda mais difíceis…” (www.onumulheres.org.br)
Ademais, a pandemia leva a limitações que atingem diretamente o apoio a mulheres em situação de violência. Os serviços públicos como polícia, justiça e serviços sociais que prestam auxílio a mulheres estão limitados, as atenções todas voltadas ao controle da nova doença.
Por isso, além das ações necessárias em relação ao controle da disseminação do vírus, de medidas econômicas visando atender aos que tiveram prejudicadas suas fontes de renda, há que se voltar as atenções a esse problema que, com certeza, terá desdobramentos negativos, ou seja, além dos pacotes de medidas já adotados em razão da pandemia de Covid-19, a prevenção e reparação de danos causados a mulheres por conta da violência, deve ser uma prioridade também.
Pensando assim, o Ministério Público de São Paulo criou um grupo de WhatsApp (11 – 99639-1212), o Projeto Justiceiras, que reúne um grupo de mais de 700 (setecentas) mulheres para apoio às vítimas de violência doméstica. “Médicas, assistentes sociais, advogadas e outras voluntárias reúnem-se por teleconferência — apelidada de “sala de justiça” — para dar respostas rápidas aos casos mais urgentes.” (www.ipatriciagalvao.com.br)
E ainda, também pelo WhatsApp (21-96967-7721), o Grupo de Apoio à Mulher (Gram) disponibiliza atendimento jurídico, psicológico, social, holístico e de saúde.
Diante disso, Estado e organizações de defesa de direitos das mulheres, bem como o setor privado devem continuar suas ações em prol da proteção de mulheres, como também aprimorá-las, a exemplo do que foi mencionado acima. De nossa parte, devemos ficar atentos a qualquer sinal de violência contra mulheres, atentos ao que acontece a nossa volta, desde a família, nossa vizinhança até aos ambientes que frequentamos etc. Esteja atento, ofereça ajuda, se mostre disponível, denuncie. É importante, mais do que nunca, estarmos atentos.
Em caso de necessidade própria ou de outra mulher que esteja passando por qualquer tipo de violência, entre em contato com a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180.
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p class=”ql-indent-1″>Este é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres em todo o Brasil. As ligações para o número 180 podem ser feitas de qualquer aparelho telefônico, móvel (celular) ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, aos finais de semana e feriados inclusive.
Referências:
· ONU MULHERES – Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticias/violencia-contra-as-mulheres-e-meninas-e-pandemia-das-sombras-afirma-diretora-executiva-da-onu-mulheres/. Acesso em: 25/04/2020;
· AGENCIA PATRICIA GALVÃO – Disponível em: https://agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/violencia-domestica/whatsapp-vira-arma-contra-violencia-domestica-em-tempos-de-pandemia/. Acesso em: 25/04/2020.
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