Alerta para o Dia Mundial do Rim, lembrado em 12 de março: atualmente, a doença renal crônica (DRC) afeta cerca de 850 milhões de pessoas no mundo e causa mais de 2,4 milhões de mortes por ano. E, segundo a Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN), a previsão até o ano de 2040 é desanimadora: a doença será a quinta causa mais comum de mortes. No Brasil, mais de 15 milhões de pessoas já apresentam algum grau de comprometimento nos rins e mais de 125 mil pessoas já estão em diálise.
Os rins são responsáveis por regular a pressão arterial, “filtrar” o sangue, eliminar as toxinas do corpo, controlar a quantidade de sal e água do organismo, produzir hormônios que evitam anemia e doenças ósseas, entre muitas outras funções. Quando o órgão sofre alguma alteração e perde suas funções de forma progressiva e irreversível, no caso da Doença Renal Crônica (DRC), é necessário iniciar o tratamento de diálise e entrar na fila de espera do transplante, para aguardar o órgão de um doador compatível, que pode ser de algum familiar ou desconhecido, doador vivo ou falecido.
A DRC é uma lesão nos rins que, nos estágios iniciais, é silenciosa e não apresenta sintomas. Por este motivo, em muitos casos, o diagnóstico acontece muito tarde, quando os rins já estão comprometidos, em estágio avançado, sendo necessário iniciar o tratamento de diálise ou transplante renal. De acordo com Miguel Riella, fundador e médico nefrologista da Fundação Pró-Renal, de Curitiba (PR), é importante realizar exames periodicamente, que são de baixo custo, como a creatinina e o exame de urina. “O principal é a creatinina no sangue, que indica a taxa de filtração dos rins. Uma elevação indica menor filtração e deve ser investigada”, afirma.
Fatores de risco
Os fatores de risco são estar acima do peso ideal, pressão alta, diabetes, familiares com doença renal crônica, fumante, com idade superior a 50 anos, problemas no coração ou nas veias das pernas. Vale lembrar que, inicialmente, a doença renal é assintomática. Mas alguns sinais devem alertar para o problema: nictúria (levantar várias vezes à noite para urinar), edema (acordar com olho inchado, edema de membro inferior), urina espumosa ou com sangue. Nas formas avançadas, há sintomas de fraqueza, dores nas pernas, náuseas e vômitos e perda de apetite.
De acordo com a médica nefrologista Luciana Percegona, do Hospital São Vicente, de Curitiba (PR), para prevenção, o ideal é uma dieta saudável e ingesta hídrica regular, controle do peso, atividade física regular, evitar o tabagismo e o uso de medicamento sem prescrição médica. Se tiver hipertensão e/ou diabetes, controle rigoroso dessas doenças. E outros motivos de atenção são história familiar de doença renal ou origem hispânica, asiática, africana ou aborígene. A prevenção é a única forma de evitar esta doença silenciosa, que só apresenta sintomas quando já se perdeu 75% ou mais da função renal.
Tratamento
A diálise está indicada quando o rim perde sua capacidade de filtração e/ou perda de líquido. Pode ser realizada quando se perde a função agudamente, no caso da insuficiência renal aguda ou quando perde a função lentamente no caso de insuficiência renal crônica. Há dois tipos de diálise: a hemodiálise e a diálise peritoneal.
A hemodiálise é um procedimento através do qual uma máquina limpa e filtra o sangue, ou seja, faz parte do trabalho que o rim doente não pode fazer. O procedimento libera o corpo dos resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos. As sessões de hemodiálise são realizadas geralmente em clínicas especializadas ou hospitais.
Segundo Luciana, na diálise peritoneal, o tratamento ocorre dentro do corpo do paciente, com auxílio de um filtro natural como substituto da função renal. Esse filtro é denominado peritônio (membrana porosa e semipermeável, que reveste os principais órgãos abdominais). Um líquido é colocado na cavidade abdominal através de um cateter peritoneal que depois é drenado. Essa solução entra em contato com o sangue e isso permite que as substâncias que estão acumuladas no sangue sejam removidas, bem como o excesso de líquido que não está sendo eliminado pelo rim.
Leia também – Estilo de vida saudável pode diminuir e até evitar complicações causadas pelo Diabete
Mais de 1.200 pessoas esperam por um rim no Paraná
Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), mais de 23 mil pessoas esperam por um rim no Brasil. No último estudo, realizado pela entidade entre os meses de janeiro e setembro de 2019, foram contabilizados mais de 4,6 mil transplantes, sendo que o Paraná é o terceiro estado que mais realizou o procedimento no país, atrás de Minas Gerais e São Paulo. No total, 429 pessoas receberam o órgão. Mas, ainda não é o suficiente. Mais de 1.200 pessoas ainda estão na fila de espera no Paraná aguardando um rim para o transplante.
Problema também afeta crianças
Um em cada dez brasileiros sofre de doenças renais, mas se engana quem acredita que estas patologias acometem apenas adultos. Somente em 2019, o Hospital Pequeno Príncipe, referência no atendimento pediátrico em Curitiba (PR), realizou mais de seis mil atendimentos ambulatoriais em nefrologia, 4.313 sessões de hemodiálise e 14 transplantes de rim. O Pequeno Príncipe, que é o maior hospital pediátrico do país, reforça a importância de pais e responsáveis estarem alertas a sinais que podem indicar que algo não vai bem com as crianças.
A doença renal crônica – antes conhecida como insuficiência renal crônica – não apresenta sintomas durante sua fase inicial e, por este motivo, seu diagnóstico, muitas vezes, ocorre tardiamente, quando a função dos rins já está prejudicada. Quando indicado de forma precoce, os tratamentos se tornam mais assertivos e contribuem para a recuperação da saúde do paciente, assim como na melhora da qualidade de vida. “Há muitas crianças que chegam até nós com o diagnóstico tardio. É importante destacar que baixa estatura, anemia recorrente, cansaço recorrente e deformidades ósseas devem ser investigados porque podem indicar doenças renais”, explica a nefrologista pediátrica do Pequeno Príncipe, Mariana Faucz Munhoz da Cunha.
Além disso, é fundamental que se tenha cuidados com o estilo de vida das crianças para que em sua adolescência, e até mesmo na vida adulta, não desenvolvam problemas renais. “É importante que crianças a partir dos três anos tenham sua pressão aferida ao menos duas vezes por ano e sejam incentivadas a praticar exercícios físicos, beber água e não ingerir muito sal”, completa a nefrologista.
Sinais que podem indicar problemas renais em crianças:
– Infecções de urina recorrentes
– Pressão alta
– Presença de sangue na urina e/ou espuma
– Alterações de cor e odor da urina
– Inchaço nos olhos, pés ou barriga
– Dor ao urinar
– Anemia constante
– Problemas no crescimento
– Deformidades ósseas
Atendimento gratuito
No dia 12 de março, Dia Mundial do Rim, algumas ações gratuitas serão realizadas para alertar a população sobre a importância de observar melhor este importante órgão. O Hospital São Vicente promove um dia de atividades gratuitas para a população em Curitiba (PR). A partir das 11h, na entrada do Hospital (Av. Vicente Machado, 401 – Centro), será realizado o Circuito da Saúde dos Rins: com exames gratuitos e orientação de nefrologista. E às 15h, no auditório do São Vicente, haverá o bate-papo “Ame seus rins. Dose sua creatinina!”, com os nefrologistas Dra. Luciana Percegona e Dr. Rodrigo Leite. Ambas as atividades são abertas e sem custo.
A Fundação Pró-Renal, também em Curitiba (PR), vai realizar uma campanha com exames preventivos gratuitos e orientações de saúde com nutricionistas, médicos, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros. A campanha, que conta com a parceria do SESC/PR, acontece na Boca Maldita, em Curitiba (PR), e o atendimento será das 10 horas às 16 horas.