A radioterapia de intensidade modulada em campo estendido (EF-IMRT) associada à quimioterapia concomitante pode levar a toxicidades graves. Este estudo retrospectivo, publicado no Green Journal, tem como objetivo investigar a incidência e os preditores dosimétricos de toxicidade gastrointestinal aguda em pacientes com câncer do colo do útero submetidos a EF-IMRT.
Foram analisados os dados dosimétricos do duodeno e das alças intestinais de 273 pacientes elegíveis, tratadas com EF-IMRT entre 2011 e 2024, independente dos linfonodos para-aórticos estarem comprometidos.
Resultados: Vinte e seis pacientes apresentaram vômitos grau ≥ 3 (G3+), enquanto sete apresentaram diarreia G3+. Análises de regressão logística e curvas ROC mostraram que os volumes do duodeno irradiados com ≥ 29 Gy (V29; p = 0,002) e ≥ 49 Gy (V49; p = 0,014) foram preditores significativos de vômitos G3+, cuja incidência foi de 1,3% para V29 ≤ 43,5% versus 12,8% para V29 > 43,5% (p = 0,008). Nos pacientes com V49 ≤ 9,2%, a incidência de vômitos G3+ foi de 7,6%, versus 16,1% naqueles com V49 > 9,2% (p = 0,077). Os planos de tratamento de 22 pacientes precisaram ser modificados devido ao vômito. O V29 também foi associado à necessidade de replanejamento do tratamento, 17,6% para V29 > 51,3% versus 3,3% para V29 ≤ 51,3% (p<0,001). Para a diarreia G3+, o volume das alças intestinais recebendo ≥22 Gy (V22) foi o melhor preditor, com incidência de 5,6% quando V22 > 62,3% (p=0,031). Apenas dois pacientes necessitaram de replanejamento devido à diarreia.
O estudo propõe que a limitação de V29 e V49 do duodeno, e de V22 do intestino delgado, pode reduzir significativamente o risco de toxicidade GI aguda grave durante EF-IMRT, achados relevantes para evitar interrupções e abandono do tratamento. Apesar das limitações metodológicas, os resultados oferecem subsídios práticos para o planejamento radioterápico do câncer cervical localmente avançado…