Tomada de decisão em situações difíceis

Quem já não vivenciou um momento em que precisou tomar uma decisão em momento de forte estresse e pressão?

E quem já não passou por situações em que se tinha que pensar rápido, tomar a melhor decisão possível evitando assim maiores prejuízos, num curto espaço de tempo?

Muitas dessas ocasiões são aquelas em que temos poucos segundos para pensar e tomar a melhor decisão naquela circunstância.

Pode ser uma situação vivenciada no trânsito, no supermercado, num telefonema inesperado, ou até mesmo quando acordamos atrasados para um compromisso importante e temos pouco tempo para decidir a roupa que vamos vestir.

Mas e quando essas decisões envolvem a vida e o bem-estar de pessoas que amamos?

Geralmente são situações de forte impacto, como adoecimentos, acidentes, situações graves e/ou inesperadas e outros contextos de vulnerabilidade.

São momentos de grande tensão, geralmente envolvendo dor e sofrimento, e outras vezes exaustão física e emocional.

Me refiro aqui a situações de saúde especificamente, inúmeras vezes sobre o limite entre a vida e a morte de alguma pessoa, um familiar, alguém importante pra nós.

É comum a vivência dessas situações em ambientes hospitalares ou de atendimentos emergenciais. Familiares muitas vezes são colocados em situações em que precisam, ou é lhes exigido, tomar uma decisão em momento de extrema angústia, preocupação, fragilidade, insegurança, incerteza, medo. Uma demanda solitária quando deveria ser solidária. E a coisa mais razoável a se fazer é que essa decisão seja compartilhada, seja tomada em conjunto com quem tem o conhecimento técnico e preparo para manejar situações assim.

Umas das coisas que podem auxiliar, e até mesmo para que se evite situações como essas, é ter uma conversa franca, aberta e natural com nossos familiares e pessoas próximas sobre o que queremos ou não queremos caso estejamos passando por um quadro crítico, irreversível, e não tenhamos condições de manifestar nossa vontade.

Deixar claro para aqueles que nos cercam quais decisões gostaríamos que fossem tomadas por nós quando não pudermos nos expressar.

Conversar com a família e pessoas próximas facilita a tomada de decisão daqueles que terão essa delicada função, pois, baseados nos desejos que expressamos, isentamo-los de qualquer sentimento de culpa e/ou arrependimento que possa se apresentar posteriormente ao desfecho de alguma situação crítica e complexa.

Além dessa possibilidade, outra maneira é fazer o que chamamos de diretiva antecipada de vontade (DVA), ou seja, um documento onde podemos manifestar nossos desejos sobre aquilo que queremos ou não que seja instituído em momentos críticos que envolvam nossa vida e bem-estar.

Muito tem se falado sobre a autonomia do paciente, ou seja, o direito de exercer sua participação ativa nos tratamentos refutando-os ou aceitando-os. De forma resumida ser agente ativo nas tomadas de decisão que envolvam sua vida, bem-estar e qualidade de vida.

A relação profissional da saúde e paciente vem mudando nos últimos anos e isso faz com que cresça cada vez mais o espaço para manifestação das nossas vontades.

Relações paternalistas onde um diz o que é melhor a ser feito – sob seu ponto de vista – e o outro passivamente aceita, vem caindo por terra. A maioria das pessoas quer saber o que se passa consigo e com sua saúde e desta forma participar do planejamento do que diz respeito a sua vida.

É certo que falar sobre finitude, doenças ameaçadoras da vida ou outras situações geradoras de sofrimento ainda é tabu entre nós, mas é só falando sobre aquilo que desejamos ou não, aquilo em que acreditamos ou não, expressando nossas ideias e sentimentos com relação a isso é que abriremos caminhos para que até mesmo nossos últimos desejos sejam atendidos e respeitados. Assim também a decisão fica compartilhada e o desfecho mais fácil de ser enfrentado depois.

 

*Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná e atua há mais de 10 anos na área da saúde. Pós- graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica, pós-graduada em Psicologia Hospitalar especialista em Psico-Oncologia, com atuação em Cuidados Paliativos. Pós-graduanda em Psicologia Transpessoal e Mestranda em Bioética, além de colunista do portal Saúde Debate

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