Como ajudar alguém que está em luto na pandemia de Covid-19?

O luto é um processo complexo. Na pandemia, ele ganha níveis ainda mais profundos. O apoio de amigos e familiares se torna ainda mais importante, ainda mais com uma série de restrições características deste momento, como o distanciamento social e a falta de rituais específicos. Saber como ajudar alguém que está em luto na pandemia de Covid-19 se tornou essencial, diante dos desafios que a situação impõe e pelo número de famílias enfrentando essa dor. 

O mais importante, em um momento como esse, é se mostrar disponível para o outro. Quem quiser apoiar alguém de luto precisa estar ciente que não pode entrar em uma posição de julgamento. “É muito comum, na ânsia de ajudar, a pessoa julgar quem está enlutada. Aparecem as frases prontas, como ‘não chore, não fique assim’. O melhor a se fazer é estar sempre à disposição para ouvir e acolher o que a pessoa estiver sentindo. Esse é um momento doloroso, difícil”, indica a professora Joanneliese de Lucas Freitas, do departamento de Psicologia e da pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do projeto de extensão “Luto: vivências e possibilidades”, realizado na mesma instituição. 

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A elaboração do luto acontece aos poucos, a partir de uma perda que acarreta em mudanças profundas de uma pessoa. Por isso, quem decide apoiar um enlutado deve lembrar que nada acontece de uma hora para outra. Além disso, cada pessoa tem uma forma diferente de reagir a tudo o que precisa enfrentar e já está enfrentando. 

“É necessário compreender que, quando a gente perde alguém, nunca mais voltaremos a ser o que era antes. Seremos outras pessoas, agora com a falta de alguém que foi tão importante. Quem perde um filho, por exemplo. Nunca será possível tirar a existência de mãe daquela pessoa enlutada. Não dá para viver como se nada tivesse acontecido”, comenta Joanneliese. De acordo com ela, na tentativa de ajudar, quem está próximo tenta impor situações que não fazem sentido, como a velocidade da pessoa enlutada em esquecer aquilo ou se dedicar para outros filhos. 

Respeitar o tempo de quem está em luto também se torna fundamental. Tudo é muito sensível: não insistir no assunto se a pessoa não quiser falar, mas também não se pode deixar de conversar quando ela quiser comentar sobre a perda. “Se ela quiser falar, vai falar. E, se falar, quem está próximo deve ouvir”, aconselha a professora. 

Tanto o enlutado quanto quem está próximo e o apoia precisam ter em mente que esse processo é vivenciado em ondas. O luto não acontece de uma vez só. “Essas ondas vão se distanciando e se tornando menos violentas conforme o tempo passa. As datas festivas e comemorativas são difíceis. Muitas pessoas sentem nessas ocasiões o que sentiram na época em que perderam quem gostam. Vem uma certa tristeza, certa dor, dependendo da história. É normal que de tempos em tempos a pessoa viva esses sentimentos de novo”, revela.

Como ajudar alguém que está em luto na pandemia de Covid-19: grupos de apoio

O projeto de extensão “Luto: vivências e possibilidades” da UFPR, coordenado por Joanneliese, aborda justamente o luto e as suas várias facetas. Entre os resultados deste trabalho está a produção de uma série de cartilhas. Uma delas trata sobre como ajudar alguém que está de luto. As outras edições abordam os mitos do luto e o luto e profissionais de saúde. O material está disponível na internet e nas redes sociais do projeto.

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Outra iniciativa que faz parte do projeto de extensão abrange um grupo de apoio para pessoas enlutadas, com o objetivo de ajudá-las com suporte nesse momento. Em seis encontros on-line, os participantes conhecem mais sobre esse processo e a perda de familiares e amigos para a Covid-19. O grupo é dirigido por estagiários do curso de Psicologia. Mais informações sobre esse atendimento também podem ser obtidas nas redes sociais do projeto.

Além disso, a professora Joanneliese, por meio do projeto, promove um curso destinado exclusivamente para psicólogos sobre luto e existência em tempos de pandemia e como abordar esse assunto na clínica. O curso foi lançado em abril deste ano e rapidamente teve as inscrições esgotadas, reflexo da demanda de apoio psicológico neste momento.

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