Inovação em saúde corporativa no cenário COVID

No contexto da saúde corporativa o uso de medicações com o intuito de serem preventivas ou de terapêutica precoce da COVID tem sido tema de debate intenso inclusive entre médicos. Em 31/03/21 a OMS publicou o Guideline de Terapêuticas COVID-19. O documento é taxativo ao não recomendar o uso de Ivermectina, Cloroquina, Hidroxicloroquina, Lopinavir/Ritonavir para tratamento do COVID-19. Há ainda algumas considerações interessantes sobre corticoides e remdesevir. Segue o link disponível para acessar o material completo: https://www.who.int/publications/i/item/WHO-2019-nCoV-therapeutics-2021.1

Ao invés de investir nas medicações polêmicas, que até então não demonstraram benefícios (OMS, CDC, FDA, EMA), penso que há algumas alternativas inteligentes para realocação de recursos como estratégia em saúde corporativa. Acredito que uma delas, bastante efetiva, é a compra de oxímetros de pulso a serem disponibilizados aos indivíduos com COVID a fim de contribuir com o monitoramento domiciliar após o diagnóstico.

O acompanhamento a partir da confirmação diagnóstica é importante a fim de monitorar a evolução da doença, mesmo que à distância. A operacionalização para entrar em contato com os doentes, seguindo protocolos, pode ser conduzido por mão de obra centrada na saúde ocupacional ou com ajuda de equipe externa(terceirização). A oximetria de pulso, aliada a dados clínicos, sem dúvida contribuiria para estratificação de risco.

Os casos poderiam ser monitorados diariamente e classificados segundo protocolo. Aqueles que desenvolvem piora de sintomas compatíveis com indicação de avaliação presencial teriam esta recomendação. Os de menor gravidade poderiam ser mantidos na rotina do acompanhamento evitando idas desnecessárias ao pronto socorro. Porém, especialmente em situações que as queixas referidas são discretas apenas o monitoramento verbal, à distância, pode deixar uma lacuna importante para classificação de risco. É possível não haver sintomas exuberantes e ter comprometimento pulmonar relevante o que refletirá no achado da baixa saturação de oxigênio, identificado pela oximetria de pulso. Caso a saturação de oxigênio, identificado pelo oxímetro, aponte valores abaixo de 94% é sinal importante de gravidade e há indicação de atendimento hospitalar. Assim, haverá o encaminhamento do paciente certo, no tempo certo e ao lugar certo. Após melhora do quadro ou internação o oxímetro seria recolhido, higienizado e disponibilizado a outro colaborador.  O protocolo proposto, ao disponibilizar oxímetros aos pacientes, teria potencial de alertar e fazer diferença decisiva quanto ao desfecho clínico.

A ideia é utilizar um recurso disponibilizado para beneficiar colaboradores com COVID realocando a verba original de uma iniciativa contestável (profilaxia e tratamento controversos) para uma medida viável, efetiva e de operacionalização factível. Além disso, o procedimento seria percebido pelo indivíduo como acolhimento efetivo fora dos muros da empresa, visando genuinamente o cuidado com a saúde.

Caso haja disponibilidade financeira e decisão corporativa para implementação de estratégias ainda mais elaboradas há opções adicionais. Disponibilização de oxigênio pós alta hospitalar (quando tecnicamente indicado); atendimento médico domiciliar para avaliação presencial de casos peculiares; transporte de pacientes à serviços de saúde; apoio psicossocial aos doentes e familiares; extensão do monitoramento de saúde para familiares de colaboradores com COVID. Há medidas ainda mais robustas como atualização diária de painel com vagas disponíveis em UTI e enfermaria para facilitar o direcionamento para atendimento e internação quando necessário.

Em tempos de incertezas em que debates acalorados dominam os noticiários e contribuem apenas para maior desgaste, inclusive entre os profissionais de saúde, é importante buscar alternativas coerentes e de maior consenso que resultem em benefícios efetivos. Os atritos serão minimizados, os recursos terão direcionamento para maior efetividade, a população atendida perceberá o valor do acolhimento da saúde corporativa. A sociedade como um todo agradece.

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