No dia 04 de março contempla-se o “Dia Mundial da Obesidade”. Inúmeras campanhas são realizadas com o objetivo de esclarecer o que é Obesidade, assim como prevenção e tratamento. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica obesidade de acordo com o IMC (Índice de Massa Corporal – calculado pelo peso e altura de cada pessoa) e define que quando o IMC está acima de 24,9 Kg/m2 o indivíduo está com sobrepeso e quando o IMC está acima de 29,9 Km/m2 tem diagnóstico de obesidade. Inúmeras evidencias apontam para o risco de desenvolver doenças crônicas como Hipertensão, Infarto, Diabetes tipo 2, câncer entre outras, associadas ao quadro de obesidade.
Em 1999 foi criado no Brasil o Dia Nacional de Combate a Obesidade, que inicialmente era no dia 11 de outubro. Em 2015 este movimento ganhou força com o apoio da World Obesity Federation passando a se chamar Dia Mundial de Prevenção da Obesidade.
Em 2016, a SBEM e a ABESO iniciaram uma proposta para tratar a obesidade com respeito – com a hashtag #Obesidadeeutratocomrespeito e em 2018, o #WorldObesityDay pediu o fim da discriminação de peso em todo mundo lançando campanhas para aumentar a conscientização sobre a prevalência e gravidade da estigmatização do peso, pois os retratos da obesidade na mídia frequentemente reforçam estereótipos negativos sobre pessoas obesas, o que pode levar ao estigma da obesidade. Em 2020 esta data mudou para 04 de março (informações obtidas site da SBEM, 2019).
ESTIGMA DO PESO OU ESTIGMA DA OBESIDADE
Além das complicações clínicas da obesidade, problemas psicológicos e sociais se correlacionam e agravam o quadro. O estigma social é uma forte desaprovação de características pessoais que vão contra certas normas culturais e normalmente levam ao preconceito e a marginalização. Estudos mostram que pessoas que sofrem com o estigma do peso frequentemente passam a acreditar que aquele preconceito é uma verdade sobre si mesma e isso normalmente desenvolve uma insatisfação com a imagem e peso corporal, desencadeando uma busca constante por métodos para perda de peso muitas vezes baseados em comportamento alimentar não saudável, além do uso de medicações “emagrecedoras” ou métodos purgativos. Em muitos casos estes métodos promovem a perda de peso, mas trazem consigo outras doenças, como ansiedade, depressão e os Transtornos Alimentares (Compulsão Alimentar, Bulimia Nervosa e Anorexia Nervosa).
ANOREXIA NERVOSA E OBESIDADE: duas doenças que parecem extremos mas tem muito em comum
A anorexia nervosa (AN) é uma doença psiquiátrica com 3 características importantes: 1) restrição alimentar severa – o indivíduo tem perda de peso importante levando a um baixo peso significativo/desnutrição de acordo com IMC em adultos ou de acordo com curva crescimento na infância e adolescência; 2) medo intenso de engordar – justificando a restrição alimentar severa; 3) perturbação da forma como o indivíduo percebe o próprio corpo – insatisfação com imagem corporal. Os subtipos da AN são: restritivo (redução de peso ocorre por meio de uma restrição alimentar severa) ou purgativo (existe a restrição alimentar e também a compensação através métodos purgativos como uso laxantes, indução de vômitos ou prática extenuante de atividade física).
Atualmente tem-se observado um grande número de indivíduos que apresentam uma série de comportamentos e sintomas típicos de indivíduos com AN, como medo intenso de ganho peso, distorção de imagem corporal, restrição alimentar extremamente severa e uso de métodos compensatórios mesmo apresentando peso normal ou sobrepeso de acordo com critérios de IMC, ou seja, não se encontram em estado de desnutrição ou baixo peso. Discute-se na comunidade cientifica que são casos classificados como Anorexia Nervosa Atípica e estima-se que 70% dos casos tinham um quadro de obesidade prévia. Um dado alarmante é que o diagnóstico ocorre normalmente após 13 anos do início dos sintomas e a demora no diagnóstico pode agravar muito o quadro.
É comum observarmos na prática clínica que pessoas com sobrepeso ou obesidade ao sentirem-se marginalizadas e julgadas pela forma e peso corporal passam a adotar comportamentos não saudáveis como práticas alimentares extremamente restritivas, jejum, purgação ou exercício extenuante. Muitas vezes a perda de peso “a qualquer custo” é incentivada por familiares, amigos e até mesmo por profissionais de saúde quando estes se limitam a considerar um indivíduo saudável apenas pelo padrão de IMC.
É importante que os profissionais de saúde que tratam obesidade estejam atentos a identificar estes casos, pois indivíduos com sobrepeso ou obesidade podem estar em risco de desenvolver um quadro de TA. Atualmente discute-se que os transtornos alimentares devem ser diagnosticados baseados em alterações importantes de comportamento relacionados ao comer e não apenas nas alterações de peso.
Segundo a especialista em Transtornos Alimentares Dra Bruna Boaretto (psiquiatra e idealizadora do CETA) a perda de peso deve chamar a atenção dos profissionais de saúde, assim como o ganho de peso. Ela ressalta que uma pessoa que está apresentando perda de peso também pode estar com alguma doença, como sofrimento, depressão ou transtorno alimentar. “É muito comum a perda de peso ser aplaudida pelas pessoas, sem haver uma preocupação com o que está por trás desta condição”.
Muitos programas de intervenção com foco exclusivo na perda de peso, podem agravar quadros de TA, pois sabe-se que obesidade, Transtorno alimentar e comer transtornado podem ocorrer ao mesmo tempo, assim como um problema pode migrar para o outro.
Com isso é necessário que leigos e profissionais de saúde estejam atentos a qualquer flutuação de peso que possa estar ocorrendo em um indivíduo, pois isso pode ser um alerta ao desenvolvimento de uma condição não saudável que pode manifestar um quadro de doença.
É importante uma avaliação criteriosa pelos profissionais de saúde, afim de identificar pessoas com sobrepeso e obesidade em risco para desenvolvimento de TA, oferecendo assim uma abordagem diferenciada, auxiliando na busca para uma mudança de comportamento o que realmente pode promover saúde e não apenas a mudança de peso.
* Mariana Paganotto é nutricionista graduada pela UFPR, com mestrado em Medicina Interna e Ciências da Saúde pela UFPR. Atua há 15 anos como nutricionista clínica, professora, palestrante e pesquisadora. Principais áreas de atuação são em Obesidade, Cirurgia Bariátrica, Diabetes, Síndrome Metabólica, Gestantes de alto risco, doenças intestinais e compulsão alimentar. Também é colunista do Saúde Debate
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