Especialistas de todo o país estão chamando atenção para a baixa adesão à vacinação verificada em 2022, durante campanhas e mobilizações contra diferentes doenças. Apesar de o foco do momento ser a Covid-19, o ritmo de aplicações já não é mais o mesmo; a campanha da gripe não teve os resultados esperados; e o calendário geral de vacinação já causava preocupação antes mesmo da pandemia.
A imunização é a principal estratégia de prevenção de doenças e agravos, com a redução da mortalidade de doenças como a poliomielite, varíola, sarampo, caxumba, febre amarela e coqueluche, que são preveníveis pelas vacinas.
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Segundo João Gregório Neto, professor do curso de Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina, enfermeiro e analista de saúde do Programa Municipal de Imunizações da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, com o advento da primeira vacina, da varíola, desde o século XVIII, observamos o aumento da estimativa de vida da população mundial, além da melhoria da qualidade de vida, principalmente nos países em desenvolvimento. “No Brasil, a vacinação é uma estratégia pública e de saúde, antes mesmo do Sistema Único de Saúde (SUS). O Programa Nacional de Imunizações é um dos principais serviços de vacinação do mundo, oferecendo proteção contra mais de 19 doenças, resultando na erradicação e na redução drásticas de várias doenças”, explica.
Entretanto,a baixa adesão à vacinação se tornou um cenário real, e não apenas no Brasil. De acordo com Gregório Neto, a imunização adequada é de 95% da população para as vacinas de rotina em crianças. Mas não é o que vem acontecendo. Em 2021, a vacina da poliomielite teve cobertura de 66,6%; a vacina do sarampo, 81,5%. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), os índices de cobertura das vacinas do calendário de rotina do Programa Nacional de Imunizações (PNI) registram uma queda gradual desde 2013, que foi intensificada a partir de 2015. Desde 2019, nenhuma vacina do calendário infantil atinge a meta de cobertura.
“Os dados são preocupantes e acende um alerta para o reaparecimento de doenças já erradicadas como a poliomielite ou o aumento de doenças controladas, como o sarampo, caxumba, tétano, meningites e outras”, opina.
Para o especialista, as causas para a diminuição da cobertura vacinal são inúmeras, como informações falsas sobre ineficácia dos imunizantes e até mesmo divulgação errônea de dados sobre reações adversas, o que gerou mais confusão junto à população. “Mas a principal é o movimento antivacina, que se fortaleceu na Europa e América Central na década de 80, com algumas informações falsas em relação às vacinas. Atualmente observamos o que chamamos de hesitação vacinal, que é a escolha das vacinas. Acompanhamos isso nas unidades de saúde, em que o responsável pela criança quer escolher qual vacina deve ser aplicada. Temos um desafio para mudar este cenário”, declarou Gregório Neto.
Reverter esse cenário de baixa adesão à vacinação depende de mais atuação de instituições de saúde, poder público e sociedade civil, de acordo com Renato Kfouri, diretor da SBIm e membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL). “Precisamos recuperar o protagonismo da vacinação. Afinal de contas, éramos conhecidos como o país do carnaval, do futebol e das vacinas. Mas, estamos perdendo esses títulos”, ressalta. Para o especialista, a falta de interesse gerada pela disseminação das fake news, a desinformação sobre as vacinas fundamentais que fazem parte dos calendários de imunização e o acesso restrito às vacinas são as principais causas da baixa cobertura vacinal no país.
O médico acredita que é preciso trabalhar em várias frentes para recuperar o sucesso do Programa Nacional de Imunização. “O antivacinismo se fortaleceu com a Covid-19 e tem impactado nas outras vacinas. Precisamos conhecer melhor as causas para enfrentar regionalmente o problema, com as ações e imunizações mais adequadas. Certamente, a queda de imunização em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro acontece de forma completamente diferente do que vemos em cidades do Norte ou no interior do Nordeste e do Planalto Central, por exemplo”, afirma.
Outro grande desafio para recuperar os índices de cobertura vacinal está no próprio sucesso das vacinas. Segundo o médico, com a percepção de queda do risco de algumas doenças praticamente inexistentes, muitas pessoas passaram a se questionar sobre a real importância de tomar vacinas de doenças desconhecidas pela maioria da população. Para Kfouri, essa situação é grave porque traz desinformação. “Muitos pensam: por que devo me vacinar de doenças que não existem mais? Com a eliminação de doenças, as vacinas acabam sendo vítimas de si mesmas e as pessoas voltam a ficar com medo das vacinas. Será que eu preciso? Ela dá febre, dor ou incômodo? É aí que mora o perigo”, destaca o médico.
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