Março é o mês em que, em regra, se comemora o Dia Internacional da Mulher, oportunidade em que somos elogiadas, enaltecidas, presenteadas e lembradas. Uma data romantizada, que remete a uma tranquilidade de ser que ainda não temos e a uma realidade de doçura e resignação que não queremos.
Na verdade, vivemos uma luta diária para ter respeito. A realidade é que 1 em cada 3 mulheres/meninas é vítima de violência ao longo da vida (ONU). Violência que se apresenta de várias formas e atinge todos os níveis sociais.
Um dado alarmante é que a cada 20 minutos uma menina se torna mãe no Brasil, 252.786 mil meninas de 10 a 14 anos, além de 12 meninas com menos de 10 anos, engravidaram e tiveram filhos nascidos vivos. (DATA SUS)
O que falta para essas meninas e mulheres? Falta tudo, mas falta, principalmente, informação e educação. Falta, também, a orientação, a falta de educação e informação por parte de quem é responsável por essas meninas revela uma carência que é generalizada.
Com esse exemplo, é possível verificar que vivemos um ciclo vicioso que nos submete a uma permanente exposição a violência, aos maus tratos, a submissão a comportamentos avalizados social e culturalmente.
E mais, há um problema sério de alcance e desenvolvimento de mulheres no âmbito profissional. Em um levantamento feito pela consultoria Gestão Kairós, especializada em diversidade, aponta que, entre 900 líderes entrevistados a nível de gerência ou mais, apenas 25% são mulheres – e, entre elas, apenas 3% são negras.
Em outro aspecto, mulheres são submetidas a pobreza menstrual, onde o papel higiênico, panos e toalhas de papel são itens muito usados entre as mulheres que não têm acesso a produtos adequados e que tiveram que adaptar sua higiene menstrual para conter o fluxo. No país, 77% das mulheres com 16 anos ou mais dizem que já passaram por essa situação. (Instituto Patrícia Galvão)
Sem falar na violência e no assédio, que são a principal causa de preocupação entre mulheres no país. O quadro consta de pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), entre os dias 19 de fevereiro e 3 de março deste ano.
Enfim, não se trata de pessimismo, mas de uma realidade desconcertante. Precisamos nos saudar, destacar avanços, mas, principalmente, não deixar de buscar, para nós e para todas, independente de quais sejam as nossas necessidades individuais, o bem de todas as mulheres, sem exceção.
* Viviane Teles de Magalhães Araújo é advogada graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO, com atuação no mercado corporativo nas áreas cível e trabalhista; Doutoranda em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP; Mestra em Direito (Direitos Fundamentais Coletivos e Difusos) pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP – Piracicaba/SP; Especialista em Direitos Humanos e Questão Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná; MBA em Direito Empresarial pela FGV – Fundação Getúlio Vargas – Campinas/SP; Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – Campinas/SP (2008/2010). Autora do livro “Mulheres – Iguais na Diferença” (ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris 2018) e do artigo “A igualdade de direitos entre os gêneros e os limites impostos pelo mercado de trabalho à ascensão profissional das mulheres. (25 ed.Florianópolis: CONPEDI, 2016, v. , p. 327-342).
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