Um relatório recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 1,1 bilhão de jovens no mundo estão sob risco de perda auditiva por exposição à sons recreacionais de volume elevado, por exemplo, pelo uso de fones de ouvido. Porém, no caso dos fones, esse risco de perda auditiva pode ser minimizado com algumas medidas e cuidados relativamente simples.
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O som emitido pela voz ou por um equipamento eletrônico movimenta o ar e é transmitido através dele, até chegar no tímpano de uma pessoa. O tímpano, uma fina membrana que fica na entrada do ouvido, capta essa vibração e a transmite aos pequenos ossos que estão em contato com a membrana do tímpano. O som então é transmitido pelos pequenos ossos, ou ossículos (martelo, bigorna e estribo), até o órgão da audição propriamente dito, a cóclea. Chegando essa vibração à cóclea, o líquido que a preenche também vibra, movimentando assim as células auditivas, chamadas de células ciliadas. Essas, por sua vez, ao se movimentarem, transformam essa vibração num sinal elétrico, que será transmitido por fibras nervosas até o nervo da audição. O nervo da audição leva a informação sonora até o cérebro, órgão em que ela é reconhecida, interpretada ou apreciada.
A lesão provocada pelos sons elevados ocorre basicamente nas células da audição do interior da cóclea, as células ciliadas. Os sons muito altos podem causar lesão nessas células, e essas lesões, uma vez estabelecidas, não cicatrizam e nem se recuperam, causando perdas auditivas irreversíveis.
No caso dos sons elevados, a intensidade que é considerada segura é de, no máximo, 85 dB por até 8 horas de exposição. Porém, um problema significativo desses limites de segurança é que a sua progressão não é linear, ela ocorre aos “saltos”. Na intensidade de 90dB (aparentemente uma diferença pequena com relação ao som a 85dB), que corresponde mais ou menos ao ruído de uma máquina de cortar grama, o tempo de segurança sem proteção é de 2 horas e meia. A 110 dB, que corresponde a aproximadamente o ruído de uma motosserra, o tempo de segurança sem equipamento de proteção é de menos de 2 minutos.
A graduação da intensidade do som dos fones de ouvido é muito variável de aparelho para aparelho, o que dificulta definir os limites seguros. No caso do iPhone, por exemplo, ouvir música com fones na intensidade máxima do aparelho vai atingir entre 102 e 112 dB, o que pode provocar lesão com alguns minutos de uso.
Quando estamos usando os fones em algum ambiente ruidoso, como num restaurante ou cafeteria por exemplo, há uma tendência de aumentarmos o volume da música para ouvi-la com mais nitidez, o que pode ser bastante ruim, pois além dos ruídos externos, temos a música com volume aumentado, e eles se somam na sua potência. Assim, os fones que têm maior segurança são aqueles maiores, preferencialmente que envolvam toda a orelha, chamados de circumaurais. Além desses, outros que ainda são seguros são aqueles que ficam sobre a orelha, mas sem envolve-la totalmente, os supra-auriculares. Esses fones maiores conseguem, por causa da sua vedação, bloquear os ruídos externos, diminuindo a intensidade do som necessária para se ouvir com nitidez e com isso trazendo mais segurança. Porém, mesmo esses, se utilizados em volume muito alto, podem ser danosos. Os fones menores, que ficam diretamente no conduto do ouvido, chamados auriculares ou intra-auriculares, não conseguem esse tipo de vedação. Por isso, o usuário tende a ouvir com uma intensidade maior, e com isso aumentando a chance de lesão.
Há alguns modelos de fone mais recentes que têm uma tecnologia que auxilia bastante na segurança. São os fones com tecnologia de cancelamento ativo de ruído (noise cancelling). Esses fones têm uma função que consegue bloquear os sons externos de forma eletrônica. Assim, os fones mais seguros são aqueles maiores, que envolvem toda a orelha, e que têm tecnologia de cancelamento ativo de ruído.
A segurança no uso dos fones de ouvido depende, portanto, de três fatores principais: a intensidade do som, a duração da exposição ao som e a frequência de vezes em que a exposição ocorre. A maior parte dos equipamentos de som com fones de ouvido tem escalas aleatórias, o que dificulta confirmar a intensidade do som. No entanto, existe no mercado alguns equipamentos ou aplicativos que limitam ou avisam quando se excedeu o limite seguro com fones, mas eles ainda não são muito comuns no nosso país.
Uma forma de se estabelecer qual seria um uso seguro é a regra dos 60: o volume com 60% da intensidade máxima do aparelho por no máximo 60 minutos ao dia. A intensidade do aparelho a 60% do seu máximo é o suficiente para se ouvir com satisfação e clareza o som e a música. 60 minutos seria um tempo de uso considerado seguro. Assim, se limita o volume e o tempo de uso de forma a garantir a segurança.
A audição é um sentido precioso e a principal forma de conexão entre as pessoas. A perda de audição causada pela exposição excessiva aos ruídos não pode ser revertida, mas pode ser facilmente prevenida, com informação e cuidados simples. A melhor forma de tratamento, nesse caso, continua sendo a prevenção.
*Informações Assessoria de Imprensa