Indicações, avanços e desafios da radioterapia em câncer colorretal

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(Foto: Freepik/rawpixel)

A Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) promove uma atualização sobre a radioterapia (um dos três pilares do tratamento oncológico, junto com cirurgia e abordagem sistêmica medicamentosa). A radioterapia, que utiliza feixes de radiação ionizante para destruir as células cancerosas, é indicada para 6 em cada 10 pacientes diagnosticados com câncer em alguma etapa do planejamento terapêutico.

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De acordo com o médico especialista em radioterapia Robson Ferrigno, ex-presidente e atual diretor de Defesa Profissional da SBRT e coordenador dos serviços de radioterapia da BP – Beneficência Portuguesa, em São Paulo, é necessário falar mais sobre a radioterapia para desmistificar o método e ampliar o seu alcance. “No Brasil, a radioterapia não recebe a importância que merece. No SUS, há um grande atraso em quantidade e qualidade de equipamentos de radioterapia para atender a população. Na rede suplementar, a SBRT luta para que avanços como a IMRT sejam incorporados ao rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), diz Ferrigno.

Abaixo, um resumo das informações essenciais sobre o uso da radioterapia no tratamento do câncer colorretal.

Quando usar a radioterapia no tratamento do câncer colorretal

A radioterapia pode ser usada antes ou depois da cirurgia de câncer localizado na região do reto e em combinação com a quimioterapia.  Antes da cirurgia, a radioterapia é feita para reduzir o tamanho do tumor, o que facilita a sua remoção completa. Se o paciente não recebeu radioterapia antes da cirurgia e o tumor está avançado no ato da cirurgia, a radioterapia é utilizada após a cirurgia para eliminar as células cancerígenas que eventualmente possam ter restado e, assim, evitar que o tumor volte a crescer no local da cirurgia.  A radioterapia também pode ser utilizada para eliminar metástases de baixo volume em órgãos como fígado, pulmão e ossos. Outra utilização importante ocorre em casos avançados para aliviar a dor e outros sintomas associados ao câncer.

As diferenças na administração da radioterapia para tumores situados no cólon (intestino grosso e no reto)

A radioterapia pode ser uma opção eficaz de tratamento para pacientes com câncer colorretal em determinadas situações, mas isso deve ser cuidadosamente avaliado pela equipe médica para determinar a melhor abordagem para cada caso específico. Em geral, tumores de cólon não são tratados com radioterapia, a menos que estejam avançados e causando sintomas. Isso porque o cólon está localizado na região mais alta do abdômen, poder ser adequadamente retirado com cirurgia e a radioterapia pode afetar outros órgãos próximos. Seu uso é mais frequente no tratamento dos tumores situados no reto. A avaliação cuidadosa do tumor, a idade e a saúde geral do indivíduo, a presença de outras condições médicas e as preferências pessoais são considerações importantes na eleição do melhor curso de tratamento. Nestes casos, frequentemente a radioterapia costuma ser feita antes da cirurgia para diminuir o volume tumoral. O objetivo é evitar que a cirurgia seja muito extensa e cause mutilações, pois a retirada do ânus pode implicar na colocação de uma bolsa de colostomia. Por volta de 20% dos pacientes com câncer do reto obtêm uma resposta duradoura ao tratamento com radioterapia e quimioterapia, a ponto de evitar a cirurgia. De forma isolada, para tratamento do tumor primário (onde se originou), a radioterapia é realizada apenas em pacientes sem condições de serem operados. Porém, nestas situações, as taxas de cura são bem menores.

A radioterapia pode ser combinada com tratamentos medicamentosos, como a quimioterapia, as terapias-alvo e a imunoterapia. 

Os medicamentos usados podem aumentar o efeito da radioterapia sobre o tumor colorretal. Essa abordagem combinada é conhecida como terapia multimodal e tem se mostrado cada vez mais eficaz no tratamento do câncer. A quimioterapia usa drogas para matar células cancerosas em todo o corpo, enquanto a radioterapia utiliza radiação para destruir células cancerosas em uma área específica do corpo. Ao serem usados em associação, esses tratamentos aumentam a eficácia da terapia e ajudam a prevenir a recorrência do câncer. As terapias-alvo miram especificamente as células cancerosas e suas vias de sinalização. Quando associadas com a radioterapia, podem aumentar a sensibilidade das células do tumor à radiação. No entanto, nem todas as células cancerosas têm proteínas responsivas às terapias-alvo e, portanto, as células cancerosas podem desenvolver resistência a essas terapias. A imunoterapia agrupa uma classe relativamente nova de drogas que ajudam a fortalecer a resposta do sistema imunológico contra as células cancerosas. Combinados com a radioterapia, podem ajudar o sistema imunológico a se tornar mais eficaz na destruição dos tumores. Uma vez que a combinação de diferentes tratamentos pode aumentar o risco de efeitos colaterais adversos e complicações, especialmente em tratamentos que afetam todo o corpo, é fundamental que o planejamento da radioterapia seja realizado com cautela e que o paciente seja monitorado de perto durante a sua realização.

Conheça as técnicas que protegem órgãos saudáveis da radiação e garantir a máxima entrega de dose sobre as células doentes 

Um dos grandes avanços em radioterapia é a utilização de técnicas mais avançadas de planejamento de dose, como a radioterapia com modulação da intensidade do feixe de radiação (IMRT). O recurso permite a entrega de doses precisas de radiação ao tumor, minimizando a exposição dos tecidos saudáveis próximos. Há também métodos de imobilização, que são amplamente usados na radioterapia para garantir que o paciente permaneça imóvel e na posição correta durante o tratamento. Máscaras, almofadas ou cintos são exemplos de dispositivos de imobilização feitos de materiais moldáveis e que podem ser acoplados a um sistema de suporte fixado à mesa de radioterapia. Outra estratégia é o fracionamento da dose, que consiste em dividir a dose total em várias frações menores, permitindo que os tecidos saudáveis tenham tempo de se recuperar entre as sessões de radioterapia. Além disso, o acompanhamento clínico cuidadoso do paciente durante e após o tratamento é essencial para identificar possíveis complicações e adotar medidas para tratá-las.

A radioterapia com modulação da intensidade do feixe de radiação (IMRT) está disponível na rede pública?

De modo geral, a radioterapia não tem sido uma prioridade para o Ministério da Saúde e não recebe a importância que merece. Há um grande atraso tanto em quantidade quanto em qualidade de equipamentos de radioterapia disponíveis no SUS para atender a população. Na tentativa de melhorar essa situação praticamente crônica, o governo criou um programa de aquisição de equipamentos em 2012, mas o processo é extremamente lento e não há incorporação de novas tecnologias, o que prejudica a segurança e eficácia do tratamento. A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (CONITEC) é a responsável por avaliar e decidir sobre a incorporação de novas tecnologias ao SUS, mas o processo é muito moroso e solicitações são ignoradas sem justificativa adequada. Além disso, a tabela de reembolso para o tratamento de radioterapia não sofre aumento desde 2010, o que gera inviabilidade financeira para os Serviços de Radioterapia e, consequentemente ao sucateamento dos equipamentos. Uma solução seria fazer uma tabela diferenciada no SUS e credenciar os serviços privados para tratar esses pacientes. No âmbito da saúde suplementar, também há defasagens. A Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) está trabalhando para incorporar a técnica de radioterapia com modulação da intensidade do feixe de radiação (IMRT), por exemplo, ao rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que regulamenta o setor privado, permitindo que os pacientes tenham acesso a esse tratamento sem ter que pagar do próprio bolso.

O preconceito e falta de informação ainda são maiores em relação à radioterapia em comparação com o tratamento sistêmico (quimioterapia/terapias-alvo/imunoterapia)

A radioterapia envolve o uso de radiação, o que pode gerar mais medo e preocupação em algumas pessoas, enquanto a quimioterapia é mais amplamente conhecida como uma terapia à base de medicamentos. A maior visibilidade que a quimioterapia recebe na mídia e na cultura popular pode contribuir para levar a uma maior conscientização e divulgação de informações sobre a quimioterapia em comparação à radioterapia. Mas tudo isso está mudando gradualmente à medida que as pessoas se tornam mais conscientes dos avanços tecnológicos na área. Em última análise, a escolha do tratamento mais adequado dependerá das circunstâncias individuais de cada paciente e das recomendações médicas.

Conheça os sinais de alerta para evitar um diagnóstico tardio do câncer colorretal

Uma das principais mensagens no tratamento do câncer é que o diagnóstico precoce multiplica as chances de cura e tratamento eficaz. No caso dos tumores colorretais, um dos principais sinais a serem vigiados é a presença de sangue nas fezes, que pode indicar a existência de um tumor, mesmo que em fases iniciais. Como nem sempre o sangue é visível a olho nu, é recomendável fazer periodicamente o exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes. Outros sintomas a serem observados incluem períodos alternados de intestino preso e diarreia, muita flatulência e dor abdominal. A distensão abdominal também pode ser um sinal de obstrução, o que requer atenção médica imediata. Para prevenção secundária, é recomendado fazer a colonoscopia a partir dos 45 de idade. Caso haja histórico familiar da doença, a colonoscopia pode ser realizada cerca de 10 anos antes da idade em que o parente recebeu o diagnóstico. Se o exame estiver normal e não houver histórico familiar, a recomendação é repetir a colonoscopia após cinco anos.

*Informações Assessoria de Imprensa