O mês de fevereiro acende o alerta para a leucemia, que não é uma doença caracterizada pela apresentação de sinais precoces, porém, alguns sintomas, quando reunidos, podem auxiliar no estímulo à busca por atendimento médico e à realização de um exame de sangue de grande acessibilidade, o hemograma, que é o ponto de partida para o diagnóstico.
Segundo Fernando Michielin Alves, médico hematologista do Instituto de Oncologia do Paraná – IOP, entre os sinais estão: cansaço progressivo; perda de peso não intencional; palidez; surgimento de manchas roxas pelo corpo (hematomas e equimoses); pontos roxos ou vermelhos na pele (petéquias); sangramentos espontâneos, ou maiores do que o esperado; desenvolvimento de ínguas/linfonodos pelo corpo; dor abdominal e sensação de saciedade precoce; e dores articulares.
Essa conscientização é importante para a busca precoce do atendimento na suspeita da doença, permitindo o início do tratamento e evitando o desenvolvimento de complicações típicas como sangramentos e infecções graves que podem resultar em atrasos ou inviabilização do tratamento.
A leucemia é um câncer que afeta as células sanguíneas da medula óssea, em sua maioria, os glóbulos brancos. Conforme dados de 2023 do Instituto Nacional do Câncer (INCA) a incidência de leucemias (números de diagnósticos novos no ano) é de cerca de 2,5% do total de doenças oncológicas (correspondente a aproximadamente 11.500 casos ao ano). Dessas, aproximadamente 60% do total correspondem às formas crônicas, doenças com células com maior grau de maturidade e que tendem a seguir cursos prolongados, e 40% às formas agudas, caracterizadas pela presença marcante em células imaturas e pelo potencial de rápida evolução.
Ressalta-se, entretanto, que apesar da baixa incidência, a suspeita para quadros de leucemia tende a ser levantada após a avaliação do hemograma, exame com grande acessibilidade. A sequência do processo diagnóstico, contudo, depende de tecnologia restrita a centros com estrutura e capital humano especializados, portanto, com disponibilidade limitada.
Por fim, para os casos para os quais se indicam a realização de transplante de medula óssea como estratégia terapêutica, por vezes existe a grande latência até o encaminhamento do paciente para os serviços aptos para a condução do procedimento. Tempo que pode ter repercussão bastante relevante na sobrevida do paciente.
Outro ponto de grande relevância são os cuidados gerais com o paciente portador de neoplasia hematológica, seja aguda, ou crônica. Além do tratamento específico para a doença, todos os demais cuidados com paciente devem seguir em paralelo, como imunizações, controle de comorbidades, saúde mental, suporte social, familiar, nutricional, atividades físicas e profissionais.
O objetivo do tratamento deve ser o resgate/manutenção da funcionalidade e qualidade de vida. Para que seja atingido, todos esses fatores devem ser contemplados.
As duas últimas décadas foram marcadas pela velocidade crescente no desenvolvimento de novas drogas para o tratamento tanto das formas crônicas quanto das formas agudas de leucemias.
“A identificação de mutações específicas e sensíveis à atuação de medicamentos possibilitou o desenvolvimento de drogas que promoveram mudanças importantes nos regimes de tratamento, permitindo a migração da quimioterapia endovenosa tradicional em ambiente hospitalar/ambulatorial para terapia oral domiciliar, como em casos como leucemia mieloide crônica e leucemia linfocítica crônica. Avanços que aliaram efetividade, segurança e conforto durante o tratamento”, explica o hematologista do IOP.
Para as leucemias agudas também existem opções orais que permitem que o paciente seja poupado, em certas circunstâncias, da exposição a poliquimioterapia endovenosa tradicional. Em alguns casos inclusive com melhores taxas de resposta e segurança.
O campo de drogas endovenosas também avança de forma constante com o desenvolvimento de anticorpos com a capacidade de reativação do sistema imunológico do paciente contra a célula neoplásica.
Existem ainda as diversas pesquisas, muitas já em transição para a prática clínica, do uso dos linfócitos T submetidos à manipulação (CAR-T cell) para ação contra as células neoplásicas em algumas formas de leucemias linfoblásticas agudas.
*Informações Assessoria de Imprensa