Uma determinada colonização de micróbios no trato reprodutivo é comumente encontrada em mulheres com câncer de ovário, de acordo com um novo estudo do Centro de Medicina Individualizada da Mayo Clinic. A descoberta, publicada na Scientific Reports, reforça as evidências de que o componente bacteriano do microbioma – uma comunidade de microrganismos que também consiste em vírus, leveduras e fungos – é um importante indicador para a detecção precoce, diagnóstico e prognóstico do câncer de ovário.
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“Além disso, encontramos um padrão claro que revela que mulheres com câncer de ovário em estágio inicial têm um acúmulo significativamente maior de micróbios patogênicos quando comparadas a mulheres com doença em estágio avançado”, diz Abigail Asangba, Ph.D., pesquisadora de microbioma da Centro de Medicina Individualizada. “Em estágios posteriores, o número de micróbios diminui. Este forte sinal pode potencialmente nos ajudar a diagnosticar mulheres mais cedo e salvar vidas, podendo ser utilizado um exame semelhante ao Papanicolau , um exame não invasivo que é usado para detectar o câncer cervical.”
O estudo também sugere que um maior acúmulo de micróbios patogênicos desempenha um papel importante nos resultados do tratamento e pode ser um indicador para prever o prognóstico de um paciente e a resposta à terapia.
“Analisamos se os pacientes com resultados parecidos também tinham uma composição microbiana semelhante antes de iniciarem o tratamento, independentemente do estágio, grau ou histologia do câncer, bem como de outros fatores”, diz o Dr. Asangba. “E descobrimos que os pacientes com um maior acúmulo de micróbios patogênicos tiveram resultados piores em comparação com aqueles sem”.
O câncer de ovário ocupa o quinto lugar em mortes por câncer entre as mulheres e é a segunda neoplasia ginecológica mais comum. No Brasil a doença acomete mais de seis mil mulheres todos anos anos no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca) e de acordo com a Febrasgo, (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) 7 em cada 10 pacientes morrem em decorrência da doença.. A maioria das mulheres afetadas geralmente é diagnosticada em estágio avançado porque a doença em estágio inicial geralmente é assintomática. Além disso, apenas 20% dos casos são causados por mutações genéticas, incluindo os genes BRCA1 e BRCA2, enquanto os 80% restantes dos casos não têm causa conhecida.
Para o estudo, os pesquisadores investigaram amostras de 30 mulheres submetidas a histerectomia por câncer de ovário e as compararam com amostras de 34 mulheres submetidas a histerectomia por uma condição benigna. Eles usaram sequenciamento de alto rendimento para analisar as amostras, que foram recuperadas do trato reprodutivo inferior e superior, fluido peritoneal, urina e microbioma anal. Nas mulheres com câncer de ovário, a equipe observou uma colonização de bactérias causadoras de doenças, incluindo Dialister, Corynebacterium, Prevotella e Peptoniphilus.
“Sabe-se que esses micróbios estão associados a outras doenças, incluindo outros tipos de câncer, mas são necessários mais estudos para saber se eles contribuem para o câncer de ovário”, diz Marina Walther-Antonio, Ph.D., também pesquisadora de microbioma da Mayo. e autora do estudo..
“Nosso objetivo final é entender o papel que o microbioma desempenha nos cânceres ginecológicos. Estamos explorando vários caminhos potenciais: o papel na causa da doença, agravamento da doença e resistência ao tratamento”, diz Walther-Antonio.
O estudo é uma extensão de vários outros estudos publicados anteriormente por Walther-Antonio e sua equipe que vinculam o microbioma ao câncer de endométrio. Em um estudo, a equipe descobriu que um micróbio chamado Porphyromonas somerae tem um papel patogênico no câncer de endométrio por meio da atividade intracelular.
Walther-Antonio diz que a identificação de assinaturas do microbioma para prever o desenvolvimento de malignidades pode levar à intervenção antes que os cânceres tenham a chance de se materializar. “Nosso estudo mais recente fornece um salto significativo para a compreensão do prognóstico do microbioma e nos coloca um passo mais perto de poder ajudar nossos pacientes”,completa.
*Informações Assessoria de Imprensa