Há um ano, Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de Covid-19, três meses depois de ter sido anunciado o primeiro caso em Wuhan, na China. Naquele momento, a doença tinha a causado a morte de quatro mil pessoas e se espalhava pelo mundo, fazendo com que países adotassem medidas restritivas para a organização dos sistemas de saúde e a prevenção dos casos na população.
O mundo parou com o isolamento social. O álcool em gel e a máscara passaram a fazer parte da rotina das pessoas. Dúvidas e mais dúvidas sobre uma doença desconhecida, que afetava toda a população mundial ao mesmo tempo, mas de diferentes formas.
No período de um ano, o mundo “surfou em ondas” da transmissibilidade, do número de casos, de medidas mais restritivas ou não para conter o avanço da pandemia. E, 365 dias depois, são quase 120 milhões de pessoas infectadas pelo coronavírus e mais de 2,6 milhões de mortes.
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O Brasil completa esse um ano com o pior cenário: recorde de casos, recorde diários de mortes, sistema de saúde no limite. Neste período, não faltaram dúvidas e questionamentos sobre as medidas empregadas para tentar impedir que a Covid-19 se alastrasse pelo país. Até hoje, álcool em gel, máscara, distanciamento social e não participar de aglomerações parecem não fazer parte da rotina de parte dos brasileiros, apesar das recomendações de especialistas e dos números mostrarem queda na taxa de contágio quando há menos circulação de pessoas.
Neste um ano, foi se conhecendo aos poucos sobre o que era a Covid-19 e o que ela desencadeava. Profissionais de saúde, hospitais e toda a cadeia envolvida no setor da saúde vivem uma rotina de descobertas, tristezas e conquistas. Muito se aprendeu sobre o novo coronavírus, mas também sobre a força e a capacidade de adaptação dessa área vital. Os procedimentos de cuidado foram modificados e adaptados à medida que as pesquisas avançavam. E os achados só poderiam ter relevância com a integração do estudo, da prática e de profissionais de todas as áreas na recuperação dos pacientes.
“Não trabalhamos sozinhos e não temos como cuidar de um paciente sem total afinidade entre todos os membros da equipe. É preciso que médico, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e nutricionista estejam alinhados e trabalhando para que o paciente possa sair bem do hospital. Esse foi o nosso maior aprendizado”, ressalta a cardiologista e coordenadora médica da qualidade do Hospital Marcelino Champagnat, de Curitiba (PR), Camila Hartamnn. “O aumento da carga horária de trabalho e a complexidade dos pacientes atendidos foram outras dificuldades. É uma situação que um profissional aguenta por um ou dois meses. Por um ano, só com muito suporte e trabalho em equipe”, frisa.
“Em um ano, aprendemos mais do que nos últimos cinco ou dez anos. E creio que continuaremos absorvendo conhecimento e nos adaptando às mudanças repentinas de cenário que essa doença provoca. A situação hoje é muito mais grave que no ano passado, tanto na complexidade dos casos como no número de pessoas infectadas. Com certeza, sairemos de tudo isso muito mais fortes e resilientes”, comenta o diretor do Hospital Marcelino Champagnat, José Octavio Leme.
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p class=”ql-align-center”>(Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR)
Com o passar dos meses, vieram também os casos de reinfecção e as variantes do coronavírus. Desafios diários que não fizeram ninguém se esquecer da pandemia – ou não deveria se esquecer dela. As variantes, por sinal, se tornaram uma grande dificuldade no aniversário da pandemia, diante das evidências de alta transmissibilidade e da possibilidade de desencadear versões mais graves da doença, inclusive entre os jovens.
Ariel Faria Junior, 33 anos, é um dos casos de reinfecção da Covid-19. Mesmo com hipertensão, a primeira vez em que foi infectado, em junho do ano passado, apesar do mal estar provocado pelo novo coronavírus, não precisou de internação. Já em janeiro deste ano, após perder o pai para a doença, Ariel teve 75% do pulmão comprometido e ficou 17 dias intubado na unidade de terapia intensiva do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR). Após 37 dias de internação, teve alta hospitalar e agora precisa de fisioterapia para fortalecer o pulmão.
“Nós sabemos que as reinfecções virais acontecem quando a imunidade celular é insuficiente ou de curta duração. Ainda não foi elucidada a duração da proteção contra a reinfecção causada pela Covid-19. Por isso, uma das preocupações dos pesquisadores é a possibilidade das infecções assintomáticas não fornecerem imunidade protetora de longo prazo”, explica a infectologista do Hospital Marcelino Champagnat, Camila Ahrens.
Os casos de reinfecção e as novas cepas devem ser os principais desafios nesse segundo ano de pandemia. O Paraná, por exemplo, é o estado com maior número de variantes da Região Sul. E isso pode explicar o aumento de casos no estado no primeiro trimestre de 2021.
Mas a situação não é exclusiva do Paraná. Pela primeira vez, em um ano, todo o país está com um número alto de Covid-19 ao mesmo tempo. Todos os estados enfrentam problemas no sistema de saúde. Os números mostram grande parte dos municípios com a taxa de ocupação das UTIs acima de 80%.
E, diante deste cenário, após um ano, fica a pergunta: quais as lições aprendidas em um ano de pandemia?
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