“Tem sem glúten?”: A luta invisível de quem vive com doença celíaca

doença celíaca
(Foto: Freepik)

Em tempos de modismos alimentares e cardápios “fit”, a pergunta “Tem sem glúten?” virou sinônimo de escolha pessoal ou estilo de vida saudável. Mas, para cerca de 1% da população mundial, essa pergunta é um grito de alerta — e de sobrevivência. No Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Celíaca, 16 de maio, é preciso lembrar que para os celíacos o glúten não é somente um inimigo da dieta, é veneno.

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A doença celíaca é uma condição autoimune crônica: ao ingerir glúten — uma proteína presente no trigo, centeio e cevada — o sistema imunológico identifica erroneamente essa substância como uma ameaça. Em resposta, o corpo inicia uma reação inflamatória descontrolada no intestino delgado, atacando suas próprias células. O principal alvo são as vilosidades intestinais, estruturas em forma de dedos que revestem a parede intestinal e têm a função vital de absorver nutrientes. Quando essas vilosidades são destruídas, a absorção de vitaminas, minerais e energia fica comprometida — mesmo que o prato esteja cheio.

Inflamação silenciosa, sintomas ruidosos

Diferentemente de uma alergia ou intolerância alimentar, a celíaca provoca uma inflamação persistente. Seus sintomas variam de pessoa para pessoa, mas incluem dores abdominais, diarreia crônica, perda de peso, fadiga e anemia. Em crianças, pode ser ainda mais insidiosa: atrasos no crescimento, irritabilidade, baixa estatura e dificuldade de aprendizagem podem ser sinais mascarados da doença.

Cada migalha ingerida — uma fatia de pão, um molho espessado com farinha, um biscoito fora do radar — pode desencadear uma “tempestade” digestiva e imunológica, e mesmo sem sintomas evidentes, a inflamação continua. Com o tempo, se não tratada, a doença celíaca pode levar a osteoporose, infertilidade, doenças neurológicas e até câncer intestinal.

Como se obtém o diagnóstico

Apesar dos sintomas variados, o diagnóstico da doença celíaca segue um caminho bem definido — mas nem sempre rápido. Vejam os passos para chegar a um diagnóstico efetivo:

  1. O primeiro passo é um exame de sangue específico que detecta anticorpos relacionados à resposta imune ao glúten;
  2. Se esses marcadores estiverem elevados, o passo seguinte costuma ser uma endoscopia com biópsia do intestino delgado, para verificar o grau de atrofia das vilosidades. Em alguns casos, testes genéticos podem ajudar a confirmar a predisposição à doença, especialmente quando há histórico familiar.

Importante: o diagnóstico só é preciso se a pessoa estiver consumindo glúten regularmente durante a investigação médica. Interromper o consumo antes dos exames pode mascarar os resultados e atrasar o tratamento adequado.

O invisível no prato — e no cotidiano

Mas cortar o glúten vai além de evitar pães, massas ou bolos tradicionais. O risco muitas vezes está em detalhes imperceptíveis: a chamada “contaminação cruzada”. Isso acontece quando alimentos teoricamente sem glúten entram em contato com superfícies, utensílios ou ingredientes que contêm a proteína. Um pão sem glúten cortado na mesma tábua usada para um pão comum, uma fritura feita no mesmo óleo de empanados com farinha de trigo ou até uma colher que serve dois tipos de arroz — tudo isso pode bastar para provocar uma reação em quem é celíaco. Mesmo traços microscópicos de glúten podem causar danos reais e prolongados ao intestino.

Essa invisibilidade transforma o cotidiano em um campo minado: o glúten pode estar em molhos prontos, embutidos, doces, cosméticos, medicamentos — e nem sempre está claramente rotulado.

Mais do que opções no cardápio, celíacos demandam acolhimento e políticas públicas que garantam diagnóstico precoce, rotulagem adequada de alimentos e acesso a produtos seguros. A doença celíaca é uma condição médica séria, com impactos profundos na qualidade de vida.

*Informações Assessoria de Imprensa