
Pacientes diagnosticados com doenças hematológicas no Brasil encontram no Sistema Único de Saúde (SUS) um importante aliado no tratamento dessas enfermidades. O SUS disponibiliza gratuitamente diversos medicamentos e terapias fundamentais para o controle de condições como leucemias, linfomas, anemia falciforme, hemofilias, entre outras doenças, garantindo acesso a terapias que representariam um grande desafio financeiro para a maioria das famílias. Esse e outros temas foram amplamente debatidos durante a 3ª Jornada Paranaense de Hematologia. Promovido pela Academia Paranaense de Hematologia (APH), o evento reuniu em Curitiba (PR) especialistas para discutir os avanços, inovações, protocolos, desafios e perspectivas do setor.
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A presidente da APH, a médica hematologista Juliana Lima, destacou a relevante troca de conhecimentos entre os profissionais que atuam na área, que envolveu as novidades sobre os tratamentos, medicamentos e, inclusive, como utilizar as novas ferramentas tecnológicas entre os médicos. Além disso, um dos pontos altos, segundo ela, foi o debate em torno do acesso aos tratamentos para tratar as neoplasias hematológicas. “No Brasil, boa parte dos pacientes faz todo o tratamento e procedimentos pelo SUS, que oferece assistência para todos os tipos de doenças”, comentou.
A médica explica que, entre os principais tratamentos oferecidos pelo SUS nessa área, destacam-se a quimioterapia para neoplasias hematológicas, transplante de medula óssea e terapias de suporte, como transfusões sanguíneas e uso de fatores de crescimento hematopoiéticos. “Essas medidas garantem maior sobrevida e qualidade de vida aos pacientes, além de permitirem o controle da progressão das doenças”, afirmou.
No caso da anemia falciforme – doença genética e hereditária caracterizada por uma alteração na forma dos glóbulos vermelhos do sangue –, Juliana explica que o SUS fornece medicamentos como hidroxiureia e facilita o acesso a transfusões de sangue, muitas vezes necessárias nestes pacientes e essenciais para a redução de complicações, além da melhora na condição clínica. Já no caso da hemofilia, os concentrados de fatores de coagulação VIII e IX são 100% disponibilizados pelo SUS, permitindo que os portadores da doença tenham uma vida mais segura e com menos riscos de sangramentos graves.
“O acesso a esses tratamentos pelo SUS é uma conquista importante para os pacientes hematológicos, pois possibilita um atendimento de qualidade e amplia as chances de controle e cura para muitas doenças. Ainda assim, há muitos desafios que precisam ser superados para garantir que novas terapias também sejam incorporadas”, pontuou.
Acesso à sáude
De acordo com a hematologista, os tratamentos oferecidos pelo SUS representam muito mais do que economia para as famílias, mas a garantia de acesso aos tratamentos. Medicamentos como mesilato de imatinibe, utilizado no tratamento da leucemia mieloide crônica, custam no mercado privado valores que podem ultrapassar R$ 10 mil por mês. Já o eculizumabe, indicado para hemoglobinúria paroxística noturna, tem um custo anual estimado em mais de R$ 2 milhões por paciente.
“Terapias avançadas, como o transplante de medula óssea, que pode chegar a R$ 400 mil no setor privado, são realizadas gratuitamente pelo SUS em centros especializados em todo o Brasil, ampliando as chances de tratamento para milhares de pacientes que não teriam condições de arcar com esse procedimento”, ressaltou a presidente da APH.
Para Juliana Lima, a hematologia tem avançado significativamente nos últimos anos, com novas drogas e terapias que trazem resultados impressionantes. “É necessário trabalharmos para fazer com que todas essas inovações cheguem à rede pública de forma acessível e sustentável, por isso é fundamental as discussões científicas que acontecem durante os eventos”, avaliou.
Desafios
Embora o SUS já ofereça uma ampla gama de medicamentos e terapias para doenças hematológicas, ainda existem vários medicamentos não disponíveis: como os imunomoduladores, inibidores de BTK, os anticorpos monoclonais e algumas opções de última geração que também não são acessíveis na rede pública, como as terapias inovadoras, com células CAR-T e anticorpos biespecíficos. Esses tratamentos são altamente eficazes para tipos específicos de leucemias, mieloma e linfomas, mas devido ao seu alto custo – que pode ultrapassar R$ 2 milhões por paciente em alguns casos – ainda não foram incorporadas ao sistema.
“O Brasil tem capacidade para avançar na incorporação de tratamentos inovadores, mas isso exige planejamento, investimentos e um diálogo constante entre a comunidade científica, governo e sociedade”, salientou. Juliana frisou, ainda, que enquanto novas tecnologias continuam sendo estudadas para possível incorporação, o SUS segue sendo uma referência no cuidado de doenças hematológicas, promovendo qualidade de vida e ampliando as chances de recuperação para milhares de brasileiros. “Nosso papel, enquanto comunidade científica, é continuar lutando para que o avanço da medicina seja acessível a todos, garantindo que o melhor tratamento disponível possa chegar ao maior número possível de pacientes”, concluiu.
*Informações Assessoria de Imprensa