Recentemente uma pessoa passou seis dias perdido na região da Serra do Mar, após ter saído da trilha em que seus amigos estavam, não conseguindo mais retornar. Por sorte, o rapaz manteve-se pelos seis dias bebendo água do rio e racionando barras de cereal para alimentar-se, até ser resgatado com alguns ferimentos.
Assim como as trilhas, sempre existem tantas opções para seguirmos, tantos caminhos a escolher, que se não tivermos conhecimento em qual ponto queremos chegar, poderemos acabar tomando rumos diferentes daqueles imaginados. A diversidade é muito grande e escolher nem sempre é tarefa fácil, em virtude de não termos o panorama do que está à frente, é mais como tatear no escuro procurando pontos conhecidos e referências que delineiam nosso cotidiano mundo.
Tomar decisões, optar por alguma posição é assustador, seja em que campo estivermos forçados a decidir, a escolher. Encarar o desconhecido é traumático. Enveredar por uma senda sem conhecer o percurso traz uma carga de ansiedade enorme, bastante real que o peso chega a incomodar nossas reações, reflexos e sentimentos. Tudo isso ainda piora muito mais quando a questão refletirá em nossas vidas para sempre. Ou assumimos os riscos inerentes ao desconhecido ou nunca sairemos do conforto e tranquilidade que o cotidiano nos oferece todos os dias.
Arriscar: um novo trabalho, um novo relacionamento, um novo lugar para viver, um outro curso, uma nova viagem… seja o que for, sempre trará a chance de ser algo positivo ou negativo e disso dependerá a maneira como atuaremos dali para a frente. Nossas concepções de sucesso e fracasso poderão ser exterminadas ou potencializadas a depender de como aceitarmos os resultados. Se o medo e a ansiedade preencheram nossa mente nos passos anteriores da jornada, na preparação para o ato, após a consumação ainda assim conviveremos por um tempo com o mesmo medo e com a mesma ansiedade que nos jogaram no palco.
E falar em palco não é só mera figura de linguagem, é sensação real porque vivemos constantemente encarados por uma plateia, muitas vezes hostil, outras vezes receptiva, e noutras confundem-se as reações dos espectadores. O certo é que somos observados, julgados, filtrados, crucificados, invejados durante toda nossa frágil vida de humanos dependentes das dádivas divinas. Esse intenso atuar sob as luzes de nosso próprio teatro direciona o que somos e o que faremos para sobreviver sob cerrado escrutínio. Ou optamos – eis mais uma escolha a fazer – por ignorar os maledicentes e demais criaturas nocivas ou deixamos que tais elementos destruam nosso projeto, seja ele qual for.
Por outro lado, e graças a Deus por isso, haverá pessoas amigas, gentes descoladas, pessoas que acreditam na força das ações objetivas e a família, suporte necessário, estará sempre ao alcance para a caminhada que poderá ser árdua. Incentivo e apoio teremos, pois que amigos estão aí para incentivar-nos a seguir a jornada. Muitas vezes uma única e simbólica palavra de apoio será tudo que teremos para seguir nosso sonho.
A escolha feita fará enorme diferença para a sobrevivência daquilo que nos propomos a construir, a partir da escolha da opção que abraçarmos. Ninguém é uma ilha com certeza, mas ignorar ataques diretos ou jogados sub-repticiamente implica em ter uma vida melhor sem gastar energia em defesas e contra-ataques aos falatórios profanos. Ocupar-se dessas questões diminui nossa alegria e felicidade roubando-nos tempo de viver. Precisamos de outros seres humanos sem dúvida. Mas podemos escolher em quais depositaremos nossas esperanças. Aí, em vez de ilha, teremos um arquipélago para que relacionamentos floresçam e se multipliquem.
A pensar nas trilhas e nos caminhos que se colocam a nossa disposição pelo passageiro tempo que temos por direito a viver neste mundo, é mais fácil sentar-se confortavelmente instalado em nossa realidade cotidiana a espera de um milagre ou de um empurrão sobrenatural do que assumir o rumo e a direção de nossa própria vida, decidindo quando, onde e como agir para pôr em prática nossos sonhos.
Milagres a Bíblia está repleta. Histórias sobrenaturais são mostradas em centenas de filmes e séries. Ser o ator principal, diretor e roteirista da própria vida exige que nós mesmos escrevamos a história com nossas experiências e bagagens, sem contar com fortuitidades e acontecimentos sobrenaturais. Requer coragem, persistência, planejamento, foco, resiliência, paciência, temperança, controle próprio, humor, alegria e tenacidade. Dias sombrios existirão, mas não impedirão que sigamos pela direção escolhida ou até mesmo abriremos nova trilha que nos proporcionará a chegada no ponto que almejamos e construímos por quase toda a vida.
Trilha até a praia da Cueira – Ilha de Boipeba/BA (Foto: Acervo / Gilmar Rosa)
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*Gilmar Rosa é graduado em Administração de Empresas pela Universidade Positivo e História – Memória e Imagem pela Federal do Paraná. Participou na execução de um dos mais importantes projetos de implantação de APS no estado do Paraná em 2014. Atualmente, busca um lugar ao sol que tenha águas cálidas e agradáveis durante todo o ano.
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