O Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, datado no dia 18 de fevereiro, ressalta os perigos do consumo nocivo de bebidas alcoólicas. Geralmente associada aos homens, a doença passou a ser motivo de alerta para as mulheres.
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O último levantamento do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel), plataforma do Ministério da Saúde, mostra que, de 2010 a 2018, o índice de mulheres de 18 a 24 anos que bebem além do recomendado cresceu de 14,9% para 18%. Já na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), as adolescentes que consomem álcool subiram de 55% para 67,4% no período de 7 anos. Na faixa etária dos 35 aos 44 anos, esse índice passou de 10,9% para 14%.
Antes deste período, segundo o IBGE, os homens faziam uso abusivo do álcool sete vezes mais do que as mulheres. Atualmente, a prevalência entre os sexos é cada vez mais semelhante. Entre as que bebem, uma em cada quatro mulheres fazem consumo excessivo de bebidas alcoólicas, sendo que 2% desenvolve algum grau de dependência. De acordo com o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid), até 2030, o número de mulheres dependentes do álcool deverá ser igual ao dos homens.
Diante deste cenário, especialistas elencaram 7 razões para a mulher evitar o consumo desenfreado da bebida alcoólica:
Maior sensibilidade aos efeitos do álcool
Segundo Claudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e coordenadora e professora da pós-graduação em Endocrinologia do Instituto Superior de Medicina (ISMD); um dos grandes problemas é o metabolismo do álcool.
“Biologicamente, as mulheres são mais sensíveis aos efeitos do álcool, pois apresentam menor concentração de enzimas que fazem a metabolização do álcool, têm maior proporção de gordura corporal e menor quantidade de água. Sendo assim, o organismo atrasa a absorção do álcool pelas células, fazendo com que ele permaneça por mais tempo na corrente sanguínea (a chamada biodisponibilidade do álcool). Consequentemente, os órgãos ficam mais tempo expostos aos seus efeitos nocivos”.
Diminuição da fertilidade
Segundo estudo multicêntrico divulgado pelo National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), no período ovulatório, o consumo alto de álcool está associado a menores taxas de concepção. Normalmente, a chance de engravidar espontaneamente em um ciclo é de 25%. Caso a mulher consuma álcool moderadamente, essa chance cai para 20% e, se alto, a redução é quase pela metade, chegando a 11%.
“O álcool pode afetar a concentração de hormônios endógenos, prejudicando a ovulação e a receptividade do endométrio, o que diminui as chances de fixação do embrião e, portanto, da gravidez”, afirma Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, membro da FEBRASGO e especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, e em Infertilidade e Ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO.
Câncer de mama
Segundo a Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), o risco de desenvolver o câncer de mama aumenta de 7% a 10% a cada dose de álcool consumida diariamente – uma dose padrão de álcool equivale a 14g de álcool puro, o que corresponde a 350 ml (uma lata) de cerveja, 150 ml (uma taça) de vinho ou 45 ml (shot) de destilado.
Doenças cardiovasculares
De acordo com o NIAAA, tomar dois ou três drinques por dia aumenta o risco de hipertensão arterial e 40% a probabilidade de derrame cerebral hemorrágico, além de duplicar o risco de hipertensão arterial.
“Embora alguns estudos demonstrem potenciais benefícios cardiovasculares relacionados ao uso moderado do vinho tinto, é importante ressaltar que, para mulheres que bebem em excesso, os prejuízos se sobressaem aos benefícios. O consumo regular pode contribuir para quadros de obesidade e suas consequências metabólicas”, alerta Claudia Chang.
Doenças do fígado
O fígado é um dos principais órgãos afetados, uma vez que ele armazena o glicogênio (a nossa reserva de glicose, que oferece energia aos animais, inclusive o humano) e o libera aos poucos para a corrente sanguínea. No estudo do NIAAA, foi constatado que as mulheres têm mais risco de desenvolver doenças hepáticas do que os homens. No caso da cirrose, o risco é três vezes maior.
Comprometimento cognitivo
Pelo fato de atuar no sistema nervoso central, é comum o álcool afetar a capacidade cognitiva. Entre as drogas psicoativas ou psicotrópicas, ele é classificado como um depressor.
“Ao longo do tempo, o abuso do álcool pode causar cansaço físico e dificuldade de raciocínio. Confusão mental e até alucinações podem ocorrer em casos mais graves”, pontua Monica Machado, psicóloga, fundadora da Clínica Ame.C e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Prejuízos à saúde mental
Segundo pesquisas do Programa Saúde Mental da Mulher (ProMulher), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, um dos principais perfis de mulher que abusa do álcool são aquelas em fase de transição do período reprodutivo para o não-reprodutivo (climatério). “Elas costumam beber isoladamente e com frequência, como forma de enfrentamento das alterações hormonais, psicológicas e comportamentais”, explica o ginecologista Carlos Moraes.
Segundo Monica Machado, ainda que lícita, o álcool não deixa de ser uma droga. “Quando a mulher bebe, se sente relaxada, já que sua percepção diminui. No entanto, o consumo regular reduz os níveis de serotonina no cérebro, um dos neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. Sendo assim, o álcool agrava transtornos mentais, gerando um ciclo perigoso”.
De fato: 30% a 40% das mulheres com depressão usam o álcool como válvula de escape; e 15% a 20% das mulheres com bulimia e anorexia fazem uso abusivo do álcool. Além disso, a bebida aumenta quatro vezes o pensamento suicida em mulheres com transtornos.
Tratamento e acolhimento
Parar de beber é a única forma de se livrar do alcoolismo, algo que não é fácil e pode até exigir internação. “A falta de bebida alcoólica pode causar a síndrome de abstinência, quando a concentração de álcool no sangue diminui e costuma gerar irritabilidade, ansiedade, taquicardia e suor em excesso. Em casos extremos, pode provocar convulsões e até levar a óbito”, diz Claudia Chang.
Daí a importância de buscar ajuda especializada. “O apoio de amigos e familiares é fundamental para a recuperação do alcoolismo, mas não é todo mundo que consegue ter estrutura emocional para lidar com a situação. Alguns vínculos afetivos, inclusive, podem se romper ou ficarem abalados em face deste problema”, avalia a psicóloga.
Para a mulher, uma das opções é buscar apoio na Associação Alcoolismo Feminino (AAF), uma organização formada por grupos terapêuticos que tratam as principais especificidades do alcoolismo entre mulheres.
*Informações Assessoria de Imprensa