Segurança Psicológica no Trabalho: o Papel do Líder

Quando os funcionários sentem-se seguros em expressarem suas opiniões, ideias, questionamentos, assumirem erros e recebem respeito, ajuda e orientações dos líderes e demais colegas podemos dizer que há um ambiente de trabalho seguro psicologicamente.

Mas, será que é possível construir um ambiente de trabalho seguro psicologicamente? Quais seriam os fatores que contribuiriam para esta construção? São questões pertinentes para um tema tão importante e complexo.

No início deste mês, o Valor Econômico divulgou pesquisa realizada com mais de 2000 trabalhadores nos Estados Unidos, entre os pesquisados 62% disseram temer serem julgados se pedirem licença para cuidar da saúde mental e 57% concordaram que ainda há um estigma negativo em torno desse tópico.

Quando um trabalhador necessita cuidar de sua saúde mental é, também, quando ele mais necessita ser acolhido num ambiente que lhe proporcione segurança psicológica. No Brasil, durante a pandemia, aumentou em 26% a concessão de aposentadorias por invalidez e auxílios-doença, devido a transtornos mentais e comportamentais (fonte: Secretaria Especial de Previdência e Trabalho), por isto, também, precisamos falar em segurança psicológica no trabalho.

Criar um ambiente de segurança psicológica no trabalho deve ser um objetivo estratégico da organização, sustentada numa cultura com valores como: respeito, confiança, credibilidade, empatia, participação e diálogo. O líder tem papel fundamental na criação deste ambiente seguro, para tanto, suas atitudes devem expressar os valores organizacionais, tornando-se um exemplo e inspiração para sua equipe.  

 

A segurança psicológica está alicerçada em vínculos de confiança. O conceito de vínculos é definido pelo psicanalista Bion, como “elos de ligação – emocional e relacional – que unem duas ou mais pessoas, ou duas ou mais partes de uma mesma pessoa”. Portanto, os vínculos de confiança são construídos nas inter relações e são influenciados pelas emoções expressas nestas.

A confiança é construída na convivência com o outro, que nos possibilita conhece-lo e nos mostrar para que o outro nos conheça. Está baseada na credibilidade, que resulta do alinhamento entre o que é dito e o que é praticado e como nos afirma Kouzes e Posner “principalmente, em tempos de incerteza, a credibilidade da liderança é essencial para gerar confiança entre os liderados. Sem isso, nada pode ser construído – pelo menos nada que possa sobreviver ao tempo”.

Pesquisas realizadas pelos psicólogos americanos Gurtman, Grace e Schill, descobriram que há uma tendência nas pessoas que confiam, em ser mais felizes e mais ajustadas do ponto de vista psicológico, do que aquelas que tem uma visão de mundo de suspeita e desconfiança. Os autores Kouzes e Posner, em pesquisas realizadas por mais de 30 anos com lideranças de vários países, concluíram que “as situações de liderança mais eficazes são aquelas em que os membros da equipe confiam uns nos outros”.

Portanto, confiar afeta a saúde mental, pois impacta no sentimento de felicidade, na eficácia do trabalho, diminui a resistência à mudança e contribui para a sustentabilidade das relações e das organizações. Promover a segurança psicológica no trabalho exige o planejamento de estratégias de Gestão e Desenvolvimento Humano e Organizacional. Tendo as lideranças um papel fundamental para que a segurança psicológica torne-se um aspecto da cultura organizacional, deverão ser as primeiras a serem incluídas neste processo!

*Ana Silvia Alves Borgo é Psicóloga Organizacional e do Trabalho (CRP 08/03162), Mestra em Administração (UTFPR), Didata da SBDG-RS. Há 33 anos atua na área de gestão, desenvolvimento humano e organizacional, e de saúde mental no trabalho.

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