SBR e SBPC/ML estabelecem novo limite para níveis de ácido úrico no organismo para portadores de gota

gota
(Foto: stefamerpik/Freepik)

A gota, uma inflamação nas articulações causada por acúmulo de cristais de ácido úrico nas juntas é uma doença que afeta ao menos 2% da população adulta, com maior prevalência em homens acima dos 50 anos. Uma nova diretriz recém-publicada pela Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) aponta um novo limite, ainda mais preciso, para os níveis máximos de ácido úrico no sangue, considerados normais, a fim evitar que o paciente chegue ao ponto de desenvolver a deformação das juntas.

Leia também – População menonita, do Sul do Brasil, tem risco seis vezes maior de desenvolver tipo mais comum de câncer de pele

Os níveis séricos de ácido úrico da população em geral variam de 3,4 a 7 mg/dL, e, com base na literatura científica sobre o tema, a diretriz passa a indicar a marca de 6 mg/dL como o nível a não ser ultrapassado por pessoas com histórico de gota.

A hiperuricemia é um processo que envolve o metabolismo das purinas, moléculas existentes no DNA e no RNA, e que fazem parte de alimentos, sobretudo carnes vermelhas, miúdos, frutos do mar e refrescos açucarados, além de estarem presentes em bebidas alcoólicas (fermentadas ou destiladas) e em alguns medicamentos, como diuréticos. Em pessoas saudáveis, com uma rotina equilibrada e sem propensão ao quadro, o organismo trata de eliminar o excesso. Nos pacientes com gota, porém, o ácido úrico fica retido e começa a se depositar em tecidos como os rins, a pele e as articulações, onde causa a pane inflamatória e dolorosa.

Nas crises, a dor se deve ao fato de que a substância se cristaliza como agulhas que atormentam o dedão do pé, o tornozelo ou o cotovelo. Após décadas de estudos, hoje o controle do problema é feito com medidas e remédios para reduzir a produção do ácido úrico ou incentivar sua eliminação. Contudo, ele continua sendo uma dificuldade.

“Essa estratégia é teoricamente perfeita. Mas no dia a dia o resultado é péssimo”, afirma o reumatologista Geraldo Castelar, membro da SBR e um dos autores do documento. Para piorar, a maioria dos pacientes é do sexo masculino, população conhecida por ir menos aos consultórios e não aderir com afinco a tratamentos e mudanças no estilo de vida. Apenas a crise aguda é tratada, e não a causa da gota. O ideal é que haja controle antes que os ataques prejudiquem as juntas. A meta será descrita no laudo dos exames de sangue nos laboratórios. Apesar de seus efeitos serem retratados há milênios, a hiperuricemia está diretamente relacionada a condições e hábitos típicos da vida moderna, como obesidade, sedentarismo, dieta inadequada, colesterol alto. O metabolismo da população piorou muito e o valor do ácido úrico reflete isso”, diz Castelar.

As crises de gota, que chegam a durar dez dias, podem também trazer prejuízos à saúde renal e cardiovascular. Ter noção do índice a ser mantido pode mudar a rotina de profissionais, pacientes e familiares, que terão ao alcance das mãos um marcador de quando será necessário intervir e iniciar as medicações antes de penar com os sintomas.

“Os exames podem ser feitos entre cada 4 a 6 meses para medir o ácido úrico no paciente que possui a gota. É um monitoramento importante e necessário, mas para quem tem a doença. A população em geral não precisa medir com frequência, sobretudo se tem o histórico de ácido úrico normal, não precisa nem fazer todos os anos, como outros exames como glicose colesterol. E as mulheres, após a menopausa, devem acompanhar, porque o hormônio feminino traz uma proteção extra que se vai. Mulheres com mais de 60 anos são as mais afetadas pela gota”, afirma o patologista clínico Luis Eduardo Coelho Andrade.

De acordo com o reumatologista da SBR, Henrique Sampaio, sobre a periodicidade de solicitar o ácido úrico, em pacientes com gota, o exame pode ser feito a cada 4 a 6 meses, mas depende muito de cada caso. No início do tratamento, precisa chegar no alvo de ácido úrico, aí pede-se, às vezes, a cada 4 ou 8 semanas, depois espaça pra 4 meses, 6 meses, quando fica estável. A população em geral, que não tem risco pra gota, que não tem manifestação clínica, não tem uma indicação, um protocolo de que se deva solicitar o ácido úrico, não há necessidade de fazer esse exame rotineiramente.

“Quando há necessidade de solicitar o ácido úlico? Quando o paciente tem algum dos fatores de risco, principalmente cardiovasculares, então hipertensão, problemas cardíacos, é coronaropata, ou paciente diabético, com síndrome metabólica, paciente com colesterol alto, assim como um conjunto de fatores de risco cardiovasculares mais importantes, além da doença renal crônica. Nesses pacientes vale a pena porque sabemos que o ácido úrico alto nesses pacientes tem correlação com o pior prognóstico, pior evolução. Mas na população em geral, não haveria necessidade de estar pedindo na rotina como exame geral”, explicou.

Assinam a diretriz: Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro; Marco Antônio Araújo da Rocha Loures; Luís Eduardo Coelho Andrade; Fabiano de Almeida Brito e Leonardo de Souza Vasconcellos.

Confira o posicionamento neste link.

*Informações Assessoria de Imprensa