Muito além de contribuir para a nossa saúde óssea, a vitamina D tem um papel essencial no combate de doenças que afetam o trato respiratório, infecções que atingem o sistema imunológico, doenças crônico-degenerativas, entre outras.
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Com a pandemia, a preocupação com a saúde foi intensificada, principalmente em relação ao desenvolvimento do sistema de defesa natural do organismo. Segundo dados da ALANAC (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais), a venda de vitamina D cresceu 93% em 12 meses, entre abril de 2020 e abril de 2021.
Mesmo sendo popular, a vitamina D ainda desperta incertezas quanto ao modo de uso, dosagem, benefícios, contraindicações e outros fatores. Para auxiliar quem pretende fazer o uso correto, Paula Molari Abdo, farmacêutica pela USP, diretora técnica da Formularium, especialista em Atenção Farmacêutica pela USP e Membro da ANFARMAG (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais), tira as principais dúvidas sobre o nutriente:
A chamada vitamina D, na realidade, é um hormônio. Foi chamada desta forma em alusão à matéria-prima que precisamos manter no organismo para produzi-la: o dehidrocolesterol. Suas funções são tão importantes e complexas que se denominou de sistema endocrinológico Vitamina D.
Ela consiste em duas formas: ergocalciferol (vitamina D2) e colecalciferol (vitamina D3). A vitamina D2 está presente em plantas e alguns tipos de peixe. Já a vitamina D3 é produzida quando a pele é exposta à radiação ultravioleta B (UVB). “Somente 20% das nossas necessidades vêm da dieta. Os outros 80% são sintetizados pela pele por meio da exposição solar”, diz Paula Molari.
A síntese da vitamina depende de uma série de fatores como pigmentação da pele, localização geográfica, estação do ano, vestuário, idade, uso de protetor solar e condições meteorológicas locais.
Os níveis de vitamina D, por exemplo, são consideravelmente mais baixos na raça negra do que na raça branca, devido a maior pigmentação da pele. Nas latitudes nórdicas, estes níveis reduzem cerca de 20% desde o final do verão até meados do inverno. No entanto, 30 minutos diários de exposição ao sol durante o verão são suficientes, evitando o sol entre 10h e 16h, quando a radiação é mais intensa.
Existem alguns grupos que são mais suscetíveis à deficiência de vitamina D e, por isso, necessitam de suplementação, assim como os idosos, já que o envelhecimento é um fator de risco pois a atrofia da pele (própria da idade avançada) reduz a capacidade de síntese do nutriente no organismo. Além disso, a vitamina é fundamental para a fixação do cálcio nos ossos, sendo recomendada para prevenir o risco de quedas e fraturas.
Indivíduos portadores de obesidade também apresentam mais risco de deficiência, já que as concentrações dos metabólitos ativos da vitamina D são inversamente proporcionais ao índice de massa corporal. Ou seja, indivíduos com alto peso corpóreo possivelmente acumulam essa vitamina, que é lipossolúvel, no tecido adiposo.
Outros grupos que também devem fazer a suplementação são: gestantes, lactantes, crianças, indivíduos de fototipo elevado (já que a melanina limita a penetração dos raios solares e reduz a produção de colecalciferol) e pessoas com uma dieta alimentar pouco variada.
Além destes, pacientes com quadro de raquitismo ou osteomalácia; portadores de osteoporose; pacientes com síndromes de má absorção (fibrose cística, doença inflamatória intestinal, doença de Crohn, cirurgia bariátrica, entre outras); pacientes com insuficiência renal ou hepática; com hiperparatiroidismo; indivíduos que tomam medicações que interfiram no metabolismo da vitamina D; e pacientes de doenças granulomatosas e linfomas.
Para saber se temos deficiência, é necessário realizar um exame de laboratório que mede o nível da vitamina D ativa no organismo. Os valores considerados normais, levando-se em consideração o equilíbrio do cálcio no sangue e a saúde óssea, variam de 20 a 32 ng/mL.
Entretanto, segundo Paula Molari, especialistas concordam que, para correção de algumas doenças causadas pela sua deficiência, redução do risco de quedas com fraturas e a máxima absorção do cálcio, a melhor dose é de 30 ng/mL.
A vitamina D é única entre as vitaminas, pois funciona como um hormônio. Além dos seus efeitos no metabolismo do fósforo e do cálcio, evidências recentes relacionam sua deficiência com o risco de desenvolvimento de outras patologias não ósseas.
Algumas dessas doenças incluem: transtorno depressivo, declínio cognitivo, enxaqueca, esclerose múltipla, TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), TEA (transtorno do espectro autista), diabetes tipo 2, doença hepática e cirrose, tireoidite de Hashimoto, sarcopenia, osteoporose e osteopenia, artrite reumatoide, infecções recorrentes do trato urinário (ITUS), asma e rinite alérgica, pré-eclâmpsia, atrofia vaginal induzida por alguns quimioterápicos no câncer de mama, dermatite atópica e psoríase.
A vitamina D apresenta um papel importante no sistema cardiovascular através de vários mecanismos, como a inibição da migração e a proliferação das células para o músculo liso vascular, evitando a calcificação vascular. Inibe também a inflamação interna na parede dos vasos, o que pode levar a lesões vasculares.
“Além disso, regula o movimento cardíaco. Assim, evita a formação de trombos e diminui a pressão arterial. Todos esses fatores, contribuem para se evitar o infarto e o derrame”, pontua Paula Molari.
A toxicidade da vitamina D, muitas vezes considerada rara, pode ser fatal se não for identificada prontamente. A ingestão excessiva da vitamina pode causar náuseas, vômitos, alterações sensoriais, constipação, hipercalcemia, pancreatite, lesão renal aguda, entre outras condições.
A melhor fonte é a síntese da vitamina D pela pele quando exposta ao sol. No entanto, é possível garantir através da alimentação. “No entanto, poucos alimentos da nossa rotina alimentar contêm na sua composição esta vitamina. Portanto, passam despercebidos”.
A vitamina D está presente em peixes e vegetais mais ricos em gordura como salmão, atum, sardinha, óleo de fígado de bacalhau e abacate, também na gema do ovo e oleaginosas. Outra grande fonte são os cogumelos.
Um estudo do The Journal of Nutrition avaliou que a baixa síntese ou a carência da vitamina D em crianças pode ter relação a problemas de comportamento na adolescência e, posteriormente, em depressão e esquizofrenia em adultos.
“A descoberta de metabólitos da vitamina D no líquido cefalorraquidiano em adultos saudáveis sugere que ela pode desempenhar um papel no desenvolvimento do cérebro e uma ação funcional no sistema nervoso”, complementa a especialista.
“Vale frisar que não se recomenda a suplementação de vitamina D além das necessidades diárias para a prevenção de doenças ou mesmo para aumentar a qualidade de vida. Portanto, consulte um médico para avaliar se você realmente precisa do suplemento e qual a dosagem que atenderá suas necessidades”, finaliza Paula Molari Abdo.
*Informações Assessoria de Imprensa