O cuidado com a saúde costuma ser motivo de dedicação para praticamente todas as pessoas. Porém, quando o assunto é prevenção a males relacionados ao corpo, não é incomum que uma das principais partes da estrutura humana seja negligenciada: a boca. Além de toda a importância para a alimentação e comunicação, ela e toda a sua estrutura têm impacto direto em outras regiões do corpo, ainda que muitos não saibam. O desconhecimento relacionado à saúde bucal, somado a outras questões, resulta em números incômodos no país. De acordo com informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11% da população brasileira nunca foi ao dentista, e aproximadamente 2,5 milhões de adolescentes estão nessa porcentagem. Se cuidados básicos com os dentes, a gengiva e a língua frequentemente não são tão comuns quanto deveriam para muitas pessoas, problemas indiretos na boca são ainda mais desconhecidos, como o impacto da oclusão – uma mordida incorreta – na postura corporal.
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A oclusão está relacionada a todos os ramos da odontologia, por isso, os profissionais da área trabalham para analisar e tratar justamente as questões relacionadas entre a mordida — contato da arcada dentária superior com a inferior — e as implicações decorrentes desse movimento nas estruturas anexas, caso dos dentes, ossos, músculos e a articulação temporomandibular. Em uma mordida denominada “Classe 1”, quando todos os dentes estão encaixados corretamente, toda a musculatura funciona de maneira equilibrada, com a língua bem apoiada no céu da boca e com o paciente normalmente respirando pelo nariz, o ideal. Como consequência do encaixe perfeito, a postura da pessoa costuma ser ereta. Por outro lado, quando um indivíduo tem os dentes deslocados para frente, o paciente projeta a cabeça em relação ao corpo no mesmo sentido, em busca de ar. Estudos já mostraram que quanto mais o crânio se desloca para frente, mais ela pesa: com inclinação de 0° são 5 kg; aos 30°, o fardo passa para 19 kg; e com uma inclinação de 60°, o peso chega a impressionantes 32 kg.
Em linhas gerais, se um paciente tem o céu da boca estreito, por exemplo, ele terá uma mordida cruzada, com os dentes se tocando de maneira incorreta. A partir disso, ele ficará de boca aberta em busca de ar, o que tira a língua do céu da boca e a abaixa, causando a projeção da cabeça para frente. Como consequência dessa anormalidade no posicionamento da cabeça, a coluna sofre. A má postura é, por exemplo, uma das principais causas de desconfortos e problemas na coluna, tão frequentes na população brasileira. Incômodos desse tipo são tão comuns entre a população mundial, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou que 80% da população já teve ou ainda terá dores na região.
O diagnóstico da má oclusão normalmente é feito por um dentista, que pode pedir um exame para confirmar o problema e desenhar o tratamento mais adequado. Em casos mais simples, o profissional de odontologia irá recomendar a colocação de um aparelho ortodôntico. Para situações de má oclusão mais aguda, o dentista pode aconselhar o paciente a realizar uma cirurgia ortognática, cujo intuito será reconstruir a mordida. Por meio do procedimento, o centro de gravidade muda, a pessoa ganha mais equilíbrio e vive de maneira bem mais saudável. A má oclusão também pode ser tratada, a depender da avaliação do dentista, por meio de uma placa otimizadora, objeto similar ao utilizado para tratar o bruxismo, mas de material e finalidade diferentes. A placa, que pode ser utilizada nos dentes inferiores durante o dia de trabalho e também em atividades físicas, tem função de reequilibrar a mandíbula em relação ao crânio e ao corpo, o que proporciona ao paciente um excelente equilíbrio postural.
*Alexandre Annibale é cirurgião dentista, especialista em ortodontia e capacitado em odontologia do sono.
*Informações Assessoria de Imprensa