“A bola está quicando e o nicho de entrada da indústria 4.0 é pelo sistema de dispositivos médicos”. A frase é de Carlos A. Grabois Gadelha, coordenador do Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Fiocruz, proferida nessa terça-feira (3) no Fórum Brasil Saúde, promovido pela ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos) durante a Medical Fair Brasil, que ocorre no Expo Center Norte, em São Paulo.
Com a palestra “O Complexo Econômico – Industrial da Saúde como Vetor de Desenvolvimento para o Brasil”, Gadelha defendeu a articulação de dimensões integradas às demandas da sociedade. A inteligência artificial se faz presente e necessária no subsistema de informação e conectividade do complexo industrial do setor. “Se uma peça falhar, o sistema desaba. A Saúde é a porta de entrada para a renovação tecnológica, sendo necessário um projeto de Estado e de futuro, visando o cuidado com o planeta, com a vida e com a sociedade”, destacou, contando ainda que esteve em um laboratório na Paraíba para o tratamento de ZiKa Vírus e este aplicava um chip, o qual previa as convulsões em crianças.
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Para ele, a produção local precisa de parcerias qualificadas. Como exemplo trouxe a menção ao Butantan e à SANOFI, que têm um trabalho virtuoso por meio de uma política moderna conjunta. “Nunca tivemos uma política de Estado, mas sim muito de uma administração de governo. O Brasil precisa crescer 4% ou 5% do seu PIB [Produto Interno Bruto]. E a Saúde é a solução para isso”, finalizou apresentando uma “Agenda de Estado para o País” em um discurso uníssono aos demais participantes do Fórum nesse primeiro dia de evento.
Dados da apresentação apontaram também que 88% de todas as patentes em saúde estão concentradas em apenas 10 países, reforçando o espaço que há ao Brasil. As articulações sob a orientação de uma estratégia nacional contemplariam: ciência – produção; serviço – indústria; estado – mercado; regulação – atenção; indivíduo – sociedade; inovação – acesso universal.
Mesa redonda
Para fechar os conteúdos do primeiro dia de Fórum Brasil Saúde, assinados pela ABIMO, a discussão “Formação Médica no Ecossistema de Saúde” contou com as participações de Giovani Cerri (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e César Eduardo Fernandes (Associação Médica Brasileira) com mediação de José Luiz Gomes do Amaral (Associação Paulista de Medicina).
O tema em destaque trazido por Cerri foi a Saúde Digital. Segundo ele, todos os residentes do Hospital das Clínicas já terão esta formação. Na pauta, a questão da teleconsulta, telemedicina e tele UTI, que exigem a telerregulação da urgência e emergência, bem como a capacitação de profissionais para o atendimento à distância e a necessidade de todos os dados estarem disponíveis em prontuários médicos. “É muito positivo este momento de transformação em que vivemos, pois levamos o especialista onde não tem. É um novo horizonte, possibilitando benefícios diversos, como redução de custo, maior acesso ao serviço e a igualdade do atendimento”, comentou o especialista, o qual ainda apontou que – hoje – muitos pacientes vão até o Pronto Socorro sem necessidade, gerando custo ao sistema, acrescendo ao fluxo e se arriscando também, quando podiam ser tratados de casa.
Os pilares de inteligência artificial, empreendedorismo e tecnologia/inovação possibilitam a melhoria do acesso à saúde, de acordo com o representante do HC.
Fernandes falou sobre o grande número de médicos atuando no mercado. Ele estima que, em 2022, estes ultrapassem os 600 mil profissionais, mas reforça a necessidade de distribuição deles, já que muitos estão nos grandes centros comerciais. Para ele, um ponto de cuidado é a atenção básica de saúde, considerando que há carência de formação nesta área. “No topo das nossas preocupações está a de formar um bom médico, o qual saiba escutar os pacientes, respeitando a tecnologia. Ninguém quer pagar nada para o profissional da saúde básica. Todos querem cuidar da endometriose ou da reprodução humana”.
Para a AMB, a graduação sofre impacto atualmente também, já que há mais retorno na pós-gradução. “Precisamos trabalhar na valorização do docente médico que ensina os procedimentos de ensino básico nas mais de 350 escolas de medicina do país”.
A discussão também abordou a necessidade de um exame de proficiência. “Esta avaliação é necessária. Temos uma morte a cada sete minutos no Brasil por questões de estrutura médica. Um profissional bem formado pode ajudar nisso. Este processo já está em tramitação no Legislativo”, finalizou Fernandes.
* Com informações da assessoria de imprensa