Recursos fisioterápicos podem influenciar a qualidade de vida dos autistas

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) engloba várias desordens do desenvolvimento neurológico que são observáveis no começo da infância, entre 3 a 5 anos de idade, geralmente pelo desenvolvimento anormal de competências e habilidades próprias de cada idade. Atualmente já se fala em inúmeras classificações para esses transtornos. Porém, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais que é referência mundial em critérios de diagnóstico (e também conhecido como DSM-5), ressaltam-se nos casos de TEA, principalmente: déficits na comunicação ou interação social (pois a criança não desenvolve a fala ou a interação com outras crianças e familiares), padrões restritos e repetitivos de comportamento chamados de estereotipias (em que a criança se interessa de forma particular por movimentos contínuos e situações repetitivas), e a hipersensibilidade a variados estímulos sensoriais como, por exemplo, barulho e toque (todos recebidos pela criança através dos cinco sentidos).

 

Infelizmente o transtorno – até onde se sabe – é permanente e acompanha o indivíduo em todas as etapas da vida. Isso faz todas as habilitações da área da saúde se envolverem em pesquisas que possam indicar um tratamento voltado à melhora das alterações individuais, e específicas, de cada paciente de TEA, levando em conta seus graus que podem ser leve, moderado ou grave.

 

Como não há ainda uma causa bem estabelecida, o TEA é atribuído a uma predisposição genética. Se sabe que, nos últimos anos, a condição vem prevalecendo e aumentando em termos de números epidemiológicos. A Organização Pan-Americana (OPAS/OMS) no Brasil estima que 1 em cada 160 crianças possui o Transtorno do Espectro Autista, havendo dessa forma um crescente esforço multiprofissional em amenizar as consequências a esses pacientes. Seja do ponto de vista social, comunicacional ou funcional, com impacto positivo na qualidade de vida do paciente e da sua família.

 

Possibilidades

 

O atendimento ao autista deve ser multiprofissional e a Fisioterapia contribui ativamente nesse sentido. Na relação à promoção da saúde, aos cuidados e aos serviços de reabilitação, bem como na colaboração com outros profissionais como os da Educação, por exemplo.

 

As alterações neuropsicomotoras, por meio de eixos desorganizados, e muitas vezes a diminuição do tônus muscular são passíveis de intervenção com grandes benefícios para as funções da rotina diária desses pacientes, pois as experiências motoras têm relação direta na elaboração progressiva das estruturas que, durante o desenvolvimento, dão origem às formas superiores de raciocínio. De acordo com o pesquisador Carlos Alberto de Mattos Ferreira, autor de vários livros e artigos no campo da Psicanálise e Psicomotricidade, é em cada fase do desenvolvimento que a criança adquire uma determinada organização mental que lhe permite lidar com o ambiente em que vive. Nesse sentido, a intervenção fisioterapêutica trata da psicomotricidade, e a pobreza dessa exploração pode refletir em retardo ou limitação de capacidades perceptivas dos portadores de TEA.

 

Um dos recursos utilizados pela Fisioterapia com grande sucesso e que, atualmente, vem sendo consagrado como forma de intervenção é a Equoterapia. Além do aspecto motor, é uma terapia que também atua na questão psicossocial. Os principais benefícios da utilização do cavalo e da cavalgada como recursos terapêuticos são ajustes do tônus postural, modulação da motricidade fina e grossa (com consequente diminuição das estereotipias), estado de excitação comportamental, melhora do relacionamento interpessoal com criação de vínculos, percepção do outro, comunicação verbal ou não verbal (dependendo do grau de acometimento individual), e iniciativas próprias. Pesquisas indicam que há diferenças significativas no desempenho funcional de autistas que têm acesso a essa terapia, em comparação àqueles que não têm.

 

O dia 2 de abril foi escolhido como Dia Mundial de Conscientização do Autismo perante a sociedade e nada melhor do que podermos, hoje em dia, apresentar grandes possibilidades de intervenção para esses pacientes na área da mobilidade e autocuidado, promovendo qualidade de vida e saúde em todos os aspectos, e para os autistas e seus familiares. Intervir nesse processo vivencial é intervir na totalidade humana. E provocar experiências inovadoras é a contribuição da Fisioterapia frente aos aspectos neuropsicomotores e sociais dessa afecção, alterando a vivência global desses pacientes em relação à sua forma de ser, estar e viver no mundo.

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p class=”ql-align-center”>Fernanda Eduardo e Thayse Dias (Foto: Divulgação)

 

 

* Fernanda Maria Cercal Eduardo é fisioterapeuta, mestre em Tecnologia em Saúde, professora e coordenadora do curso de Bacharelado em Fisioterapia da UNINTER

* Thayse Zerger Gonçalves Dias é fisioterapeuta, professora e tutora do curso de Bacharelado em Fisioterapia da UNINTER

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