Quais são as sequelas da Covid-19 nos olhos?

O “pós-Covid” ou “Covid longa” já vem mobilizando muitos pacientes, que precisam lidar com as consequências da doença, mesmo após a alta hospitalar ou a fase aguda da doença. Alguns sintomas são conhecidos, como a fadiga e a perda do olfato e do paladar. E quais são as sequelas da Covid-19 nos olhos?

É cada vez mais crescente a quantidade de estudos que demonstram que a Covid-19 ou o tratamento para combater a doença podem deixar sequelas nos olhos. Os problemas variam desde casos mais simples, como fotofobia, ressecamento dos olhos e flutuação na refração até casos severos, como catarata, lesão na retina e remoção do globo ocular. Em razão disso, é importante realizar check-up após a recuperação da doença para prevenir danos maiores à visão.

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De acordo com o oftalmologista Francisco Porfírio, especialista em cirurgia de catarata e refrativa e presidente da Sociedade Brasiliense de Oftalmologia (SBrO), as sequelas da Covid-19 nos olhos estão sendo estudadas. Ele lembra que as consequências da doença no organismo ainda não estão completamente esclarecidas em nenhum lugar do mundo. “Somente uma investigação por meio de exames e acompanhamento médico é capaz de identificar as sequelas, perceptíveis ou não, especialmente na área dos olhos”, afirma o médico.

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p class=”ql-align-center”>Médico Francisco Porfírio explica quais são as sequelas da Covid-19 nos olhos (Foto: Divulgação)

Confira as razões, segundo Porfírio, para ficar atento às sequelas da Covid-19 nos olhos e fazer um check-up oftalmológico:

Lesões na retina

Recentemente, um estudo liderado por oftalmologistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicado na revista científica The Lancet, apontou que o Sars-CoV-2 é capaz de lesionar a retina (responsável por receber a luminosidade e enviá-la ao cérebro, formando a visão) e a úvea, conjunto de estruturas que inclui a íris. O agente infeccioso ainda pode inflamar a córnea e ressecar os olhos. Doenças na retina podem ser graves e, se não receberem o tratamento adequado a tempo, o paciente pode perder a visão de maneira irreversível.

Fungo Negro

 

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou até maio deste ano 29 casos de mucormicose, uma infecção conhecida como “fungo negro”, causada pela exposição a um tipo de mofo comum. A doença tem taxa de mortalidade geral de 50% e atinge principalmente pacientes diabéticos ou imunossuprimidos. Muitos foram infectados pelo fungo nas duas semanas após se recuperarem da Covid-19.

Suspeita-se que o fungo negro pode ser desencadeado nos pacientes pelo uso de esteroides durante o tratamento da Covid-19. Estas substâncias acabam reduzindo a imunidade e aumentam os níveis de açúcar no sangue. Entre os sintomas estão nariz entupido e sangramento; inchaço e dor nos olhos; pálpebras caídas; manchas pretas na pele ao redor do nariz; visão turva; e, finalmente, perda de visão.

“O tratamento é feito com injeção intravenosa antifúngica, mas se realizado tardiamente, é preciso remover cirurgicamente o olho para impedir que a infecção alcance o cérebro’, ressalta o oftalmologista, lembrando que há casos em que é necessário remover até o osso da mandíbula para impedir que a doença se espalhasse.

Catarata

Em função da toxidade do corticoide, medicamento utilizado em alguns tratamentos da Covid-19, pode ocorrer a opacidade do cristalino, lente interna do olho, resultando em catarata independente da idade. Diferente da senil, esta catarata é do tipo subcapsular, ou seja, se forma na parte posterior do cristalino, causando importante diminuição da visão. “O único tratamento é cirúrgico, onde o cristalino opaco é substituído pelo implante de uma lente intraocular transparente”, explica Francisco Porfírio.

Retinopatia Diabética

O aumento da glicemia e a formação de trombos induzida pela Covid-19, aliada à elevação da pressão arterial e à fragilização vascular induzida pela medicação de combate à doença, pode piorar a retinopatia diabética preexistente. A doença afeta os pequenos vasos da retina e não apresenta sintomas nos estágios iniciais. “O tratamento é definido em razão do estágio da doença e, geralmente, tem por objetivo retardar a sua progressão, pois a parte da visão perdida não tem como ser recuperada. São recomendadas injeções intra-vítreas de antiangiogênicos (dentro do olho), procedimentos com laser ou cirurgia de vitrectomia”, esclarece o médico.

Conjuntivite

Estudos realizados na China, Itália e Estado Unidos apontam que a conjuntivite viral pode ser um sintoma raro do coronavírus. Ela costuma aparecer em casos mais graves da doença, variando de 1 a 3% dos infectados. Apesar de gerar grande incômodo, dor e inflamação da conjuntiva do olho, geralmente a conjuntivite viral desaparece sozinha sem deixar sequelas.

Ainda assim, é importante consultar um oftalmologista, pois para diminuir os sintomas e o desconforto pode-se utilizar soro fisiológico gelado e compressas sobre as pálpebras, limpar os olhos com frequência, ou ainda, usar lágrimas artificiais e colírios lubrificantes receitados pelo especialista.

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