Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 3 milhões de nascimentos acontecem no Brasil, a cada ano, sendo 98% deles em ambientes hospitalares, sejam públicos ou privados. Apesar de não haver uma estatística oficial, estima-se que sejam realizados 40 mil partos domiciliares por ano no país.
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“O parto domiciliar tem como objetivo principal promover um nascimento mais natural e humano, em ambiente familiar, evitando intervenções que muitos julgam desnecessárias”, afirma Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, Membro da FEBRASGO e Especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, e em Infertilidade e Ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO, e médico nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.
No entanto, o ginecologista lembra que há cuidados a serem levados em conta antes de optar pelo parto em casa. Confira:
Critérios
- O parto deve ser realizado por uma equipe com enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica e/ou médico obstetra. Todos devem ter conhecimento de ações de emergência, caso seja necessário. O ideal é que haja, no mínimo, um profissional de saúde para cuidar da gestante e outro para cuidar do bebê, além de um terceiro para dar assistência aos dois.
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O parto domiciliar é indicado somente em gestações de baixo risco (quando não há patologias maternas ou fetais). Ele não é recomendado nos seguintes casos: gravidez de gêmeos, quadro de diabetes gestacional, doenças cardíacas, doenças renais, hipertensão, pré-eclâmpsia, pneumopatias, malformação ou doença congênita do bebê e alterações anatômicas na bacia, como estreitamento.
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É fundamental a monitorização constante de temperatura, pulso, pressão sanguínea e batimentos cardíacos do feto. Também deve haver fios de sutura, anestésico local, fórceps ou material de reanimação para o bebê, caso seja necessário. O material deve ser descartável, incluindo os lençóis. Já o ambiente precisa estar limpo e aquecido para receber o bebê.
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As gestantes que optam por parto domiciliar devem ser informadas sobre os seus riscos e benefícios, e garantir transporte seguro e rápido para os hospitais mais próximos, caso seja necessário. O ideal é estar a uma distância máxima de 15 minutos de um centro hospitalar capaz de receber urgências maternas-infantis.
Benefícios do parto domiciliar
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Autonomia e protagonismo da mulher, estando ela em um ambiente seguro e confiável do ponto de vista emocional, com suas escolhas e decisões respeitadas.
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Não ter intervenções farmacológicas, como analgesia e indução medicamentosa, ou instrumentais, como cesariana, já que são procedimentos realizados somente no hospital.
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Não estar sujeita às infecções hospitalares.
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Poder decidir quem irá assistir ao parto, já que no hospital só é permitido um acompanhante.
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O bebê irá nascer no ambiente em que viverá depois, com todas as bactérias com as quais ele terá contato na vida, o que é importante para reforçar o seu sistema imunológico.
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No pós-parto, a mulher pode tomar banho no seu chuveiro, deitar na sua cama, comer a comida de casa, receber as visitas que quiser, no momento que quiser, com a tranquilidade de estar no seu próprio ambiente.
Riscos do parto domiciliar
Quando o parto ocorre bem, sem intercorrências, o bebê pode até nascer sozinho, sem ajuda. “O problema é que nunca sabemos como irá se desenrolar um trabalho de parto. Mesmo em uma gestação de baixo risco, cujo pré-natal foi adequado, há situações imprevisíveis durante o parto que podem ser fatais”, diz Carlos Moraes. Os riscos são:
- Dificuldades na contração e na dilatação uterina (o ideal é, em média, um centímetro de dilatação por hora ou a cada duas horas). Caso contrário, pode ocorrer alguma dificuldade, como uma desproporção céfalo-pélvica, que vai demandar uma cesárea.
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Nó verdadeiro no cordão umbilical, quando o cordão enrola em si mesmo e impede que o bebê receba oxigenação e nutrientes para sobreviver até o parto. Normalmente, a situação só é descoberta no momento do parto.
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Alterações na placenta.
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Sinais anormais da vitalidade, como variações do batimento cardíaco ou existência de mecônio, quando o bebê libera conteúdo intestinal durante o parto.
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Hemorragia uterina pós-parto, uma das condições mais graves. Neste caso, é preciso que a paciente esteja no hospital dentro de 15 minutos, no máximo.
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Diminuição da oxigenação do bebê na fase final do nascimento, precisando urgente de uma reanimação neonatal logo no primeiro minuto de vida. Outra grave complicação é a hipóxia intrauterina, quando o bebê tem perda de oxigenação ainda dentro do útero.
O Ministério da Saúde publicou uma Nota Técnica nº 2/2021 que traz recomendações para a escolha consciente e segura do local adequado para o parto. A Pasta defende o ambiente hospitalar como o local de maior segurança para o nascimento, devido, principalmente, à disponibilidade de equipe assistencial completa, equipamentos para assistência emergencial, entre outros insumos tecnológicos.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) também defendem o parto em ambiente hospitalar, justamente por oferecer mais segurança à mãe e ao recém-nascido. Isso porque o parto domiciliar está associado a um risco duas a três vezes maior de morte neonatal quando comparado com o parto hospitalar planejado.
Para o especialista, é preciso ainda estabelecer uma série de diretrizes para a seleção adequada das candidatas ao parto domiciliar, com atendimento obstétrico seguro e de qualidade.
“Há uma ampla discussão sobre esse assunto, visando estabelecer um consenso que garanta o respeito às escolhas da mulher (em acordo com as recomendações médicas). De qualquer forma, vale lembrar que a prioridade sempre deve ser a segurança e a saúde da mãe e do bebê”, finaliza Carlos Moraes.
*Informações Assessoria de Imprensa