Para muitos pais ou responsáveis a tarefa de brincar com as crianças deixou de ser prazerosa. Passou a ser uma tarefa árdua, sem prioridade perante tantos compromissos como: problemas profissionais e de relacionamento, stress, ansiedade, noites mal dormidas, entre outros. Podem ser justificativas para o distanciamento e ausência do universo lúdico das crianças.
Encontramos pais que de alguma forma terceirizam a brincadeira para amigos, babás, vídeo games, entre outros. Afinal, sentar no chão e brincar de quebra cabeça ou andar de bicicleta com o seu filho requer tempo e energia.
Mesmo que haja boa intenção em brincar, acabamos criando um “falso brincar”, apenas com a presença física, mas sem interação verdadeira. Outro fator que pode nos impulsionar para o “falso brincar” é ter que seguir orientações de profissionais como psicólogos e/ou professores que indicam a necessidade de estabelecer vínculo com as crianças. Então, seguimos fingindo que estamos agindo como pais comprometidos, mas na verdade criamos uma nuvem de fumaça.
“O jogo é uma atividade espontânea, livre, desinibida e gratuita, pela qual a criança se manifesta, sem barreiras e inibições.[…]. O jogo também tem função de dar prazer à criança, liberar a imaginação e a criatividade, ritmo, raciocínio, memória”. De acordo com o pensamento de Kishimoto, o jogo na infância apresenta inúmeros benefícios e deve ser valorizado na sua rotina. Então, como um adulto pode voltar ao mundo da imaginação e estabelecer uma conexão verdadeira com o seu filho? A resposta está na sensibilidade e nas lembranças que guardamos da nossa infância, mesmo que, para alguns o brincar não foi algo marcante, prazeroso ou intenso.
Entretanto, quando convivemos com crianças, devemos perceber que elas precisam de atenção, olho no olho, diálogo, afeto, isso é criar vínculo, é estabelecer uma relação de cumplicidade. Precisamos compreender que qualidade é mais importante que quantidade. Então, busque estabelecer um tempo exclusivo com a sua criança, mesmo que seja apenas nos fins de semana, passear, se divertir, brincar. Sem intervenções de celulares ou outros adultos.
Pense na qualidade da atividade escolhida, duas horas intensas podem substituir trinta minutos todos os dias de um “falso brincar”. Não devemos negligenciar as relações de afeto e de desenvolvimentos das crianças. Afinal, o tempo do brincar vai passar, e quando o seu filho estiver distante, fechado no seu universo de adolescente, muitas vezes com dificuldade de socializar, respeitar regras, suportar frustação ou ser criativo, proativo, colaborativo.
Pense que muitas desses comportamentos poderiam ter sido trabalhados na infância, de forma lúdica e prazerosa. Não deixe para amanhã, porque talvez não haja mais tempo para criar vínculos de cumplicidade, amor e respeito. Afinal, como disse o neurologista e psicólogo francês, Édouard Claparède (1873-1940): “não há nada mais sério do que uma criança brincando”.
(Foto: Divulgação)
* Fabiana Kadota Pereira é especialista em Recreação e Lazer e professora da Área de Linguagens Cultural e Corporal nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter
Leia outros artigos publicados no Saúde Debate
Conheça também os colunistas do Saúde Debate
<
p class=”ql-align-justify”>