A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio de sua diretoria colegiada, aprovou a manutenção da proibição dos cigarros eletrônicos no país, após avaliação do Relatório de Análise de Impacto Regulatório sobre os Dispositivos Eletrônicos para Fumar. A decisão aconteceu em 6 de julho, mas o assunto segue gerando debate. Tornou-se comum ver nas ruas o uso destes equipamentos, mesmo com a proibição; e também os relatos nas redes sociais de quem passou a ter problemas de saúde em função disto. Então, por que cigarro eletrônico faz mal?
Recentemente, o cigarro eletrônico ganhou vários adeptos pelas pessoas acreditarem que o produto faz menos mal à saúde. Contudo, a oncologista do Hospital São Vicente Curitiba, Rayssa Helena de Sena, alerta: “apesar de ainda não existirem estudos populacionais concretos sobre cigarro eletrônico, pois é uma nova forma de tabagismo, não há nenhum motivo para acreditar que o cigarro eletrônico não contenha os mesmos malefícios dos já pesquisados”.
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Pelo contrário. A oncologista explica que já há casos que associam problemas pulmonares ao cigarro eletrônico. “Algum tempo atrás foi descrito um dano pulmonar que levou à insuficiência respiratória aguda, que indicou a necessidade de ventilação mecânica e de intubação do paciente”, relata.
Cigarro eletrônico, cigarro com filtro, de palha, charuto, narguilé, entre outros: não importa o tipo de tabagismo. Especialistas esclarecem que esse comportamento sempre poderá provocar algum dano à saúde. “É importante ressaltar que não existem formas seguras de consumo de tabaco”, afirma a oncologista Rayssa Helena de Sena.
Há dois anos, a Associação Médica Brasileira (AMB) criou uma página para explicar por que cigarro eletrônico faz mal, alertando a população sobre os riscos dos dispositivos eletrônicos. “O conteúdo é destinado a médicos, profissionais da saúde, à imprensa e à toda a população. Nele, são desvendadas as artimanhas que a indústria tabagista utiliza para vender benefícios inexistentes e falsos para atrair usuários”, observou Diogo Sampaio, então vice-presidente da AMB no momento em que a campanha foi lançada.
Segundo a entidade, os cigarros eletrônicos causam uma dependência mais rápida e muito mais intensa. Os cigarros eletrônicos (em especial os com formato de pen drive) causam uma síndrome de abstinência sem precedentes. Estes dispositivos eletrônicos para fumar forçaram o surgimento, em 2019, da EVALI, uma doença pulmonar diretamente relacionada a esse quadro.
Em relação à manifestação da Anvisa desta semana, a AMB informou que “celebra” a decisãoAMP. “Trata-se de uma decisão acertada da Anvisa, pois cada vez mais surgem evidências científicas de que o uso dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar, os DEFs, não é inofensivo, não auxilia a cessação do tabagismo ou que seja uma forma de redução de danos, mas sim um produto que causa dependência e pode provocar várias doenças, especialmente cardiovasculares, respiratórias e câncer”, afirmou o pneumologista Ricardo Meirelles, coordenador da Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB, ressaltando por que cigarro eletrônico faz mal.
Segundo Ricardo, foram identificadas, até o momento, cerca de 80 substâncias nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerígenas. Além disso, a grande maioria dos DEFs contém grandes concentrações de nicotina, droga psicoativa que causa intensa dependência em seus usuários. O uso dos DEFs por não fumantes, principalmente adolescentes e jovens, aumenta em duas a três vezes o risco de migrarem para o consumo de cigarros ou outros produtos convencionais do tabaco ou de fazerem uso simultâneo de ambos os produtos, o que aumenta muito o risco das doenças tabaco-relacionadas, já bastante conhecidas. “É muito importante também adotarmos medidas de prevenção, como a realização de campanhas educativas, em especial para jovens e adolescentes, a inserção de informações sobre os riscos dos DEFs no site da Anvisa e na grade curricular das escolas, assim como a melhoria na fiscalização em ambiente digital, fronteiras e pontos de venda”, conclui Meirelles.
Além disso, as entidades exigem no documento medidas mais rigorosas para fiscalização e punição de violadores desta resolução, ressaltando a preocupação com o aumento do uso desenfreado desses dispositivos, em especial entre os jovens. Facilmente é possível encontrar este tipo de produto na internet.
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