A manutenção da saúde foi associada por boa parte das populações ao redor do mundo, por muito tempo, como um cuidado com a preservação do corpo, apenas. Porém, ao longo dos últimos anos, é possível observar com maior frequência o crescimento dos cuidados e recomendações profissionais não apenas com o vigor do corpo tangível, mas também com a saúde mental. E tal preocupação tem fundamento, afinal, nosso país apresenta números que chamam a atenção quando o assunto é conforto psíquico, situação que apresentou piora especialmente por conta da pandemia de coronavírus. De acordo com dados de uma pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros afirmam que o bem-estar mental piorou no último ano devido à pandemia. Em 2017, um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontava nosso país como a nação com maior prevalência de transtornos de ansiedade nas Américas, com pouco mais de 9% da população afetada; isso representava, na época, aproximadamente 18,6 milhões de pessoas.
O que muitas pessoas ainda não sabem, porém, é que transtornos como a ansiedade e o estresse podem trazer danos significativos também à saúde bucal. Isso porque os dois problemas manifestam ações e hábitos que podem comprometer o estado dos componentes de nossa boca. A ansiedade, assim como outras questões emocionais, pode ocasionar doenças periodontais (área gengival), cáries, bruxismoAMP e DTM (disfunção temporomandibular). Cáries e problemas na gengiva, como a periodontite, surgem principalmente devido à falta de uma boa higiene oral, como a escovação e o uso de fio dental, especialmente porque pessoas com alterações na saúde mental, muitas vezes, não dão a devida atenção aos cuidados da boca.
O bruxismo, outro problema causado pela ansiedade e o estresse, se manifesta em razão do aperto dos dentes pelo paciente, muitas vezes feito de maneira involuntária, e que pode causar desgaste dentário — algumas vezes, esse “ranger” ocasiona até quebras nos dentes. A disfunção temporomandibular, por sua vez, é uma parafunção (movimentos inconscientes) que aparece devido a tensões na articulação da mandíbula e músculos periféricos, comum em pessoas com quadros de ansiedade, estresse e depressão, por exemplo.
Para prevenir e tratar todos os problemas supracitados que prejudicam a saúde bucal, recomenda-se que seja realizado um trabalho multidisciplinar. Pessoas que apresentem sintomas de distúrbios como ansiedade, estresse e depressão devem procurar, de início, auxílio psicológico ou psiquiátrico, para que seja realizado o melhor diagnóstico e sejam receitados, quando necessário, medicamentos para tratar os problemas.
Além disso, visitar um dentista pelo menos a cada seis meses é fundamental para identificar possíveis lesões na boca e outros problemas dentários que podem ser causados por alterações emocionais. Ademais, trabalhos de caráter fisioterápico são importantes para a diminuição das dores causadas pela disfunção temporomandibular e aparelhos hiperbolóides também podem ser recomendados pelo dentista para aumentar a salivação e prevenir problemas como cáries.
*Victor Abuharun é fundador da Cove Dental, clínica em Mirandópolis, São Paulo
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